sexta-feira, 26 de março de 2010

Uma análise sobre as contas externas

Coluna Econômica 26/03/2010

O governo Lula está agindo de modo imprudente na questão das contas externas. O Brasil está sendo alvo de um ataque especulativo por capitais externos. O processo de formação de bolha é velho conhecido. O Brasil foi o primeiro país a sair da crise. Com excesso de dinheiro circulando no mundo – devido ao apoio dos Bancos Centrais ao sistema bancário -, parte dos recursos veio para cá.

A formação de bolhas se dá assim. Sempre que sente que um determinado ativo – ação, país etc – está favorável, o capital especulativo entra na frente e acelera o processo de alta, a ponto do preço ficar irreal. Quando sente que chegou ao pico, sai correndo, provocando uma queda no preço.

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No caso de países, o preço em questão é o câmbio.

Com a entrada maciça de dólares o real se valorizou. De um lado reduz as exportações; de outro, aumenta as importações. O mercado interno está indo bem permitindo fortes lucros aos grandes grupos. Sentindo que poderá ocorrer uma desvalorização cambial mais adiante, as multinacionais aceleram a remessa de lucros para ganhar com a valorização do real. Com esse movimento, acelera o déficit nas contas externas, embora contenha um pouco a apreciação do real.

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A defesa do governo são as reservas cambiais do Banco Central – que poderiam evitar um tranco maior neste ano eleitoral.

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Ocorre que, tirando os olhos do curto prazo e fixando-se no futuro, o que se observa é um movimento global de países e regiões tentando gerar superávits comerciais robustos. A Alemanha já anunciou que a prioridade da União Europeia será aumentar suas exportações. Nos próximos anos haverá políticas fiscais rígidos diminuindo a atividade interna, reduzindo o poder dos salários, para gerar excedentes exportáveis,

Nos Estados Unidos, a prioridade é a mesma. A China continua sentada em cima de um câmbio desvalorizado, que deixa os produtos chineses com preços imbatíveis. O Japão tenta soerguer-se.

Só que o superávit de um país é feito à custa do déficit de outro. Todos os países e zonas econômicas estão procurando melhorar a competitividade de suas exportações, enquanto o Brasil permite a manutenção do real apreciado e de amplos espaços para o aumento do déficit comercial, em um momento em que o déficit nas transações correntes ameaça bater nos US$ 45 bilhões.

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Esta é a herança maldita de Lula, infelizmente, a nublar um conjunto de avanços expressivos em outras áreas.

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Seja quem for o próximo presidente, o grande desafio de 2011 será a mudança do patamar do câmbio.

Há maneiras e maneiras de isso ocorrer.

A melhor maneira seria a instabilidade mundial começar a incutir algum receio nos especuladores. Eles tirariam parte de seus investimentos nos emergentes, permitindo o dólar deslizar para patamares mais realistas.

Há no ar a perspectiva de uma segunda rodada na crise global, com a crise fiscal dos estados nacionais. Mas provavelmente não será suficiente para, nos próximos meses, provocar mudanças efetivas no câmbio.

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Se houver uma estilingada no câmbio no meio campanha eleitoral, mesmo com as reservas do BC haverá uma volatilidade maior, decorrente do próprio clima eleitoral.

Nada que aparente o fim do mundo. Mas uma nova crise que, mesmo menos drástica, poderia ser evitada.

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