terça-feira, 20 de abril de 2010

Brasileiro de 21 anos na Science

Aos 21 anos, brasileiro emplaca estudo na “Science”

Estudante de graduação é o único autor brasileiro de um artigo em uma das principais revistas científicas do mundo

Aos 21 anos, ainda na graduação, ele fez algo que muitos professores titulares das melhores universidades do país nunca fizeram: tornar-se um dos autores de um trabalho na “Science”, uma das duas principais revistas científicas do mundo.

Ricardo Ferreira, após três meses nos Estados Unidos, foi um dos autores de um artigo sobre captura de CO2, técnica de engenharia que é uma das promessas no combate ao aquecimento global.

O que ele e seus colegas nos EUA fizeram foi criar uma nova estrutura, um cristal, que absorve esse gás-estufa. Segundo os autores, ela pode captar quatro vezes mais CO2 do que outros materiais similares já existentes.

Esses cristais são conhecidos como “esponjas”, justamente devido à sua capacidade de absorção. Um deles está sendo utilizado experimentalmente, em um carro chinês chamado Ye Zi, para fixar as emissões de gás carbônico do veículo.

Ser nerd ou não ser

Ferreira, o único autor brasileiro, não reflete rigorosamente, entretanto, o estereótipo de nerd. Gosta do laboratório, mas também de cerveja. “As pessoas me chamam de nerd e depois ficam surpresas quando me veem em festas”, diz ele, que cursa química na Unicamp, onde, segundo colegas, é conhecido por ter as notas mais altas.

Filho de um ferramenteiro e de uma dona de casa, Ferreira estudou em escola pública, em Marília (SP). “Eu era aquele aluno de quem ninguém gosta, que fica fazendo um monte de perguntas.” Suposta chatice à parte, acabou indo primeiro para Campinas e depois para o breve intercâmbio na Califórnia.

Eu vou pra Califórnia

Antes de embarcar no avião, nunca tinha saído do Estado de São Paulo. Ao chegar à Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), trabalhou com Omar Yaghi, um dos maiores especialistas do mundo em química dos materiais. “Até eu gostaria de ir para a UCLA trabalhar com ele”, diz André Formiga, químico da Unicamp e orientador de iniciação científica de Ferreira no Brasil.

Segundo ele, o aluno fica o dia inteiro no laboratório e aparece até nos fins de semana -comportamento que se intensificou nos EUA.

De acordo com Ferreira, voltar para o exterior é quase inevitável, apesar de não querer ficar lá para sempre. A migração de cientistas de países pobres para os EUA e Europa (fenômeno conhecido como “fuga de cérebros”) era evidente no seu laboratório da UCLA, conta. “Havia vários indianos, chineses, mas poucos americanos.”

Formiga diz que até se preocupa com a atração que as universidades do exterior exercem sobre as melhores mentes brasileiras, e que é ruim para o país se tornar exportador de cientistas. Mesmo assim, ele não é contra incentivar outros jovens pesquisadores a ganharem experiência no exterior.

Se estudar, não beba

A única reclamação do aluno é que a maioridade na Califórnia é de 21 anos, e ele só tinha 20. Portanto, nada de cerveja. “Era todo mundo mais velho, e eu ficava atrapalhando na hora de sair à noite”, diz, rindo.

Ferreira se diz parte da geração que, por causa do programa de TV “O Mundo de Beakman”, já na infância começou a se interessar por ciência.

Prestou química porque, na escola, “achava que biologia era ficar decorando nomes”. Questionado se química é diferente, diz que “aquela que a gente faz aqui na universidade é”.

O segurança do prédio onde estuda o chama de “professor”. Ao ser olhado com cara de interrogação, explica: “É só questão de tempo, é certeza que ele vai ser professor aqui”.

“O Ricardo é tímido. Depois que publicou na “Science”, ele virou um cara famoso aqui na universidade. Toda vez que o telefone toca sempre tem alguém para fazer uma piada no estilo “ó, Ricardo, para você, agora é da CNN”. Ele fica sem jeito”, diz Sérgio Jannuzzi, químico do mesmo laboratório que o rapaz, na Unicamp.

Ferreira não tem namorada. “Acho que é melhor deixar isso para depois”, diz. Não explicou, entretanto, se pensa assim por ser do tipo que não se apega ou por achar que investe melhor seu tempo ficando um pouco mais no laboratório.

Do Jornal da Ciência

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