segunda-feira, 19 de abril de 2010

O balanço de uma tragédia

Publicado em 19-Abr-2010
Para nos contar sobre como andam os esforços para Niterói (RJ), antiga capital do Rio de Janeiro, superar a maior tragédia de sua história, - as enchentes da primeira semana desse mês, que atingiram 7 mil moradores, desabrigando 3 mil e colocando outros 4 mil em situação de risco em morros e encostas - conversamos com o sociólogo e deputado estadual Rodrigo Neves (PT

Para nos contar sobre como andam os esforços para Niterói (RJ), antiga capital do Rio de Janeiro, superar a maior tragédia de sua história, - as enchentes da primeira semana desse mês, que atingiram 7 mil moradores, desabrigando 3 mil e colocando outros 4 mil em situação de risco em morros e encostas - conversamos com o sociólogo e deputado estadual Rodrigo Neves (PT).

Qual a situação no município hoje?

Niterói decretou estado de calamidade pública. Vive hoje sua maior tragédia, superior ao incêndio do Gran Circus Norte-Americano, a maior tragédia da História do Brasil com mais de 500 mortos em 1961 e que era, até agora, a maior tragédia da região. Naquele episódio, as vítimas de Niterói contaram com o inestimável apoio do doutor Ivo Pitangui.

Digo que Niterói vive a maior de suas tragédias porque praticamente todas as comunidades tiveram deslizamentos, salvo a do Preventório (a mais populosa e o morro mais íngreme da cidade). Ela foi a exceção, uma comunidade que não sofreu as consequências da chuva e isso se explica pelos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que vêm sendo feitos há dois anos na área. Um total de R$ 25 milhões foi aplicado pelos governos federal e do Estado do Rio na contenção de encostas e urbanização do Preventório.

Então, exceção desta, todas as demais comunidades tiveram deslizamentos e sua população sofre as consequências das chuvas. Niterói totaliza já 7 mil atingidos pelo temporal - além de 3 mil desabrigados, pelo menos 4 mil também sofrem as consequências em áreas de risco - e 165 mortos, sendo 45 no morro do Bumba, palco do maior deslizamento das recentes cheias. E há, ainda, cerca de 150 encostas sob a ameaça iminente de deslizar na próxima chuva.

Como você analisa a ação emergencial do governo?

O mais importante agora é resgatar as pessoas soterradas, amparar e acolher os desalojados, alertar e interditar imediatamente essas áreas de risco que podem desabar na próxima chuva. A ação imediata contou com a presença do corpo de bombeiros e da defesa civil para dar apoio à essas famílias e resgatar as vítimas soterradas. Ainda hoje, mais de dez dias após a tragédia, temos duas pessoas desaparecidas em duas comunidades e uma avaliação de pelo menos outras 50 desaparecidas nos escombros do morro do Bumba.

O apoio da população de Niterói tem sido fundamental para a assistência emergencial nos abrigos. Há uma grande solidariedade compartilhada por centenas de cidadãos, igrejas, associações, sindicatos e empresas que se mobilizam para o auxílio aos menos favorecidos de nossa Niterói.

Nós solicitamos a presença, logo no primeiro momento, da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes que já esteve na cidade e anunciou medidas como a antecipação do Bolsa Família para todos os beneficiados pelo programa em Nitéroi. Ao todo, são 11 mil famílias que recebem o benefício.

Contamos com todo apoio do Governo do Estado para o pagamento do aluguel social. Da mesma forma, o presidente Lula já liberou R$ 200 milhões para o Estado, dos quais R$ 40 milhões foram destinados a Nitéroi. Tivemos também a presença dos ministro da Integração Social, João Santana e da Secretaria Nacional de Habitação, Inês Magalhães, além do ministério das Cidades, que vieram prontamente em nosso auxílio.

Como é possível ajudar as vítimas hoje em Niterói?

Niterói conta, portanto, com os apoios dos poderes federal, estadual e municipal. O maior apoio vem da grande solidariedade demonstrada pela população da própria cidade. Todos que desejam contribuir com as vítimas podem entrar em contato com a central de apoio que é o 12º Batalhão da Polícia Militar em Niterói e também na capital do Estado, no Rio, na avenida Rio Branco.

Quais os próximos passos para a reconstrução da cidade?

Nossa previsão é de que sejam necessários investimentos da ordem de R$ 800 milhões para isso, principalmente para levantarmos habitações para 3 mil famílias. Precisaremos de pelo menos quatro anos para reconstruir a cidade como um todo dada a dimensão da tragédia. Mas agora teremos que fazê-lo sob outras bases, mais sustentáveis. Nisso o PAC já aponta um caminho.

Essa tragédia revela a face perversa de muitas cidades como Niterói, que devem ter uma política urbana de habitação, saneamento e urbanização de comunidades e favelas. É inadiável a profunda reformulação da gestão da cidade, recuperando a capacidade de investimento da prefeitura. Também de um novo período de investimentos estruturais na cidade, o planejamento do crescimento – inclusive nas regiões mais favorecidas – e uma inversão de prioridades que reduzam as desigualdades gritantes de Niterói, dotando comunidades e bairros mais pobres de infraestrutura e cidadania.

A reconstrução de Niterói, portanto, exige a inclusão à vida urbana destas regiões e comunidades hoje excluídas do direito à cidade. Unidos os governos federal, estadual e municipal, com a força e solidariedade do povo de Niterói nós vamos conseguir reerguer nossa cidade e devolver-lhe sua autoestima.

Blog do Zé Dirceu

Nenhum comentário:

Postar um comentário