sexta-feira, 26 de novembro de 2010

“Ou lá o que seja...”


Saí do cinema, depois de assistir ao filme do Jabor, com pena do Jabor. A única explicação que me ocorreu para aquele absurdo, prá aquele inacreditável amontoado de besteiras, foi a seguinte: “A Globo matou o talento do Jabor. A Globo acabôôôôô cô cara, sô! Coitado do cara! Que coisa mais horrivelmente triste o cara ter tido tão enorme talento e ter feito obras primas como “Tudo Bem” e “Toda a nudez será castigada” e, depois, no que deveria ser uma plena e bela maturidade daquele tão enorme talento, o cara fazer essa meeeeeeeeeeeeeeerda de filme! Foi a Globo! A Globo acabô cô Jabor!” E fiquei com pena do Jabor.

Hoje, fiquei com pena do Janio de Freitas. Acho que a Folha de S.Paulo também acabô cô talento do Janio de Freitas.

Na metade superior da coluna de hoje, Janio de Freitas escreve longa xurumela sobre o que, na opinião dele, teria sido ‘erro’, porque o governo brasileiro não votou a favor de moção da ONU, em que a ONU se manifesta contra atos de desrespeito a direitos humanos no Irã. O Brasil nem votou contra. Nós nos abstivemos de votar contra a tal moção da ONU contra o Irã por desrespeito a direitos humanos. A partir da ideia de que o Brasil teria alguma obrigação dita “moral” de votar contra o que o Irã de fato ainda nem fez, mas pode legalmente fazer, o Jânio de Freitas 'conclui' que o Brasil viveria num atoleiro de confusão “de princípios nacionais, estratégia e política” e nossa diplomacia e todo o governo Lula teriam metido os pés pelas mãos, aliás, sem parar um momento, desde sempre.

A argumentação do Jânio de Freitas parte de um pressuposto que brota da ignorância (do Jânio de Freitas), ou, então, nasce de o Jânio de Freitas ter vestido a facinorosa camisa fascista e fascistizante da Folha de S.Paulo com tanto empenho que a máscara aderiu-lhe à cara, grudou para sempre.

Por esse pressuposto de ignorância ou de preconceito, para o Jânio de Freitas o Brasil não poderia aprovar coisa alguma que o Irã faça. Pela mesma razão, o Brasil seria obrigado a reprovar tudo que o Irã faça, ameace fazer ou possa legalmente fazer. Tudo no automático das ideias feitas, da ignorância, do preconceito ou de tudo isso junto, e tudo, sempre, baseado no subentendido segundo o qual o Irã faria parte do eixo do mal.

Então, tendo o Janio de Freitas resolvido que o Irã faz parte do eixo do mal, o Irã é o mal. Se é o mal, pratica o mal e sempre e só o mal. E se o Irã pratica só o mal e sempre o mal, e só o mal, o Irã deve ser punido, de fato, por qualquer um que se apresente disposto a punir o Irã. Se for Bush, que seja! Se forem os exércitos mercenários da Blackwater, que seja! Se for o papa, que seja! Se for o general Petraeus, que seja! Se for a CIA de Obama, que seja! Se for o Jânio de Freitas, que seja! Se for a ONU, que seja! Se for a Folha de S.Paulo, que seja!

Na coluna do Jânio de Freitas, hoje, todos os fundamentalismos mais fundamentalistas somam-se, para, somados, serem impingidos aos infelizes leitores otários da FSP, como argumento que se pretende racional. Pior: para serem impingidos a leitores consumidores pagantes otários da FSP como se fossem o único argumento racional possível!

A ideia de que o Irã tenha direito a voz autônoma e livre não ocorre ao Jânio de Freitas! Claro! Dado que o Irã já está definido como o mal em si, ‘evidentemente’ o Irã não tem voz e – pior! – o Irã não deve ter voz. Deve-se, de fato, calar o Irã! Claro! Sarah Palin não diria mais claramente! Pois se o Irã é o demônio! Claro! O demônio pode ser calado e amordaçado e, sendo possível, deve ser incansavelmente bombardeado.

Tudo isso o Jânio de Freitas assume como coisa justa, certa, moral e politicamente recomendável. E recomenda. E já nem vê o que, no seu discurso já é escandalosamente fascista e fascistizante. De fato, até aqui, é só metade da história.

Porque Janio de Freitas já nem vê, tampouco, o quanto a ONU é entidade que, no plano moral, não merece nenhuma reverência.

À custa de tanto repetir o ideário fascista e fascistizante da Folha de S.Paulo, o Janio de Freitas já perdeu a capacidade de ver que há horrendas violações a direitos humanos também, por exemplo, no Canadá, contra as quais nenhuma ONU jamais se manifestou. Há (continuam!) horrendas violações a direitos humanos em Guantánamo, contra as quais a ONU jamais se manifestou. Há horrendas violações a direitos humanos, por exemplo, em todos os aeroportos dos EUA, onde as pessoas são obrigadas a se submeter ao scanner de corpo inteiro. Ontem mesmo, um cidadão norte-americano reagiu, disse que não permitiria que um policial tocasse suas partes íntimas ou o visse despido. Ainda está preso. Nem por isso se ouviu algum protesto na ONU contra o “Patriotic Act”, até hoje!

A mesma ONU, que Janio de Freitas safadamente seleciona como décor das besteiras que escreve, vive de encobrir os crimes de Israel na Palestina. E mais do que isso há, mas não é preciso listar, porque já está suficientemente demonstrado que é puro golpismo tentar apresentar o nosso governo como imoral e imoralista, em relação decisão política que passe pela ONU.

Tudo o que a ONU faça ou pregue, manifesta exclusivamente os interesses dos EUA. Não há nenhum critério moral ou politicamente libertário ou progressista envolvido nas ações e movimentos e “resoluções” da ONU: tudo são só business e sempre foi assim. O Irã é hoje a bola da vez, porque a detonação do Irã interessa ao projeto do complexo militar industrial dos EUA. Quanto a matar gente... no Iraque e no Afganistão, os EUA têm matado montanhas de gente. E indiretamente os EUA também matam árabes na Palestina, sim, aos milhares. Tudo legalmente. Tudo sem qualquer manifestação de repúdio moral do Conselho de Direitos Humanos da ONU nem qualquer objeção do Janio de Freitas.

Ou o Janio de Freitas converteu-se sozinho em perfeito imbecil, ou a convivência diária com o facinoroso ‘jornalismo’ da FSP matou, nele, todo o talento jornalístico. Mais um triste caso de jaborificação acanalhante, com a ética e a moral da política democrática convertidas, nas páginas desse ‘jornalismo’ obsceno que se impinge no Brasil aos cidadãos, em requentamento metido a ‘ético’, do moralismo tosco das senhoras-de-santana de sempre (que felizmente, hoje, elegem, no máximo, presidente do Instituto Teotônio Vilela. Instituto... Who?! [risos, risos]).

É claro que o Brasil estamos agindo! É claro que se abster numa votação de tema espetacularizado não implica qualquer inação ou omissão!

Não há nenhuma dúvida de que os brasileiros ganhamos mais com acompanhar a PressTV de Teerã, ou a rede al-Jazeera pela internet, do que a Rede Globo ou o colunismo depauperante, fascistizante, do 'jornalismo' paulista! Viva a Internet! Viva o bloguismo desjornalístico!

Depois, na segunda metade da sua coluna de hoje, Janio de Freitas lamenta que os bandidos no Rio de Janeiro operem hoje por critérios de “seletividade” (?!) diferentes dos de antes: “a seletividade dos assaltantes sempre se mostrou lógica, incidente sobre modelos mais novos e mais convenientes nas fugas”. Se não se ler [aí, abaixo] não se acredita.

Mas, sim, lá está: o Jânio de Freitas, ao que parece já totalmente fascista-jaborificado, sugere hoje, nas imundas entrelinhas dessa coluna de jornalismo obsceno, que a onda de violência em curso no Rio de Janeiro seria resultado de os bandidos estarem reagindo à ascensão social dos milhões de brasileiros que o governo Lula tirou da miséria.

Ou que haveria algum nexo necessário entre os tais novos critérios de “seletividade” da bandidagem e os brasileiros que chegam agora a vida mais digna. É isso, ou, então, o Janio de Freitas pirou, de vez.

O quê, além de tentativa safada de inventar nexos entre a ascensão social de milhões de brasileiros que começam a arrancar-se da miséria e a onda de violência no Rio de Janeiro, significaria uma frase como “O fuzil moderno em uma das mãos, na outra a garrafa com gasolina, e logo a ascensão posta em cinzas”?!

Qual é o limite admissível para o intuito de fascistizar tudo e todos, do imundo ‘jornalismo’ da Folha de S.Paulo? Até quando?
Quem precisa do colunismo da Folha de S.Paulo?



SOBRE: JANIO DE FREITAS, “Crimes de lá e de cá”


A conveniência da relação com o Irã não implica a abdicação, pelo Brasil, de seus princípios morais

A ABSTENÇÃO DO Brasil diante de uma resolução contrária ao desrespeito a direitos humanos no Irã, conforme proposta do Canadá no Comitê de Direitos Humanos da Assembleia da ONU, expressa muita confusão no governo brasileiro entre princípios nacionais, estratégia e política.

Para ficar em um só caso relativo a direitos no Irã, a sentença de morte por apedrejamento é absolutamente contrária aos princípios inscritos na Constituição brasileira. Logo, não pode ser senão condenada pelo Brasil em todos os foros. Não apenas porque sentença de morte, já repelida pela Constituição. Ninguém parece ter notado que a morte por apedrejamento é tortura até a morte. Pelos princípios brasileiros, crime hediondo. Se está inscrito em legislação estrangeira ou é praticado à margem de lei, não lhe muda a natureza e a hediondez.

A conveniência estratégica de boas relações com o Irã não implica a abdicação, pelo Brasil, dos seus princípios morais e constitucionais. A menos que o Irã não veja as boas relações por ótica de sua estratégia internacional, mas tão só de conveniência circunstancial. A ser assim, a estratégia brasileira, em relação ao Irã, estaria vagando no espaço, solitária.

É certo que o chamado bloco ocidental pratica políticas destinadas a minar o Irã. Pode ser verdade, também, como disse o líder iraniano Ahmadinejad na quinta-feira passada, que tais políticas não têm base moral porque, só nos Estados Unidos, há "pelo menos 50 mulheres condenadas à pena capital". Se o Brasil não tem motivos para não se incorporar ao jogo do bloco ocidental, e pretende resguardar sua estratégia em relação ao Irã, o seu instrumento não é abster-se. É agir. É trabalhar politicamente para que as partes opostas tenham maior correção em seus métodos externos e internos, e aliviem a tensão que produzem.

Confundir princípios, estratégia e política não serve a nenhum desses três fatores nacionais.

NOVA ONDA

A série de ataques desfechada por bandidos no Rio é a enésima, perdida já a conta dessas ondas. Mas, se não tem novidade por si mesma, tem por ao menos três motivos que aumentam a proporção da violência aplicada e da ameaça difundida.

Em arrastões ou isoladas, as novas investidas não são para roubar. Não são assaltos. O roubo é secundário, e nem sempre se dá. Objetos à mão, como se apenas para não perder a oportunidade fácil, e um ou outro carro, poucos no total. O objetivo é o incêndio dos carros, das vans de passageiros, dos ônibus.

Os assaltos convencionais continuam, é claro, mas em sua rotina já incorporada aos costumes brasileiros, não fazem parte da nova onda. Nesta há a novidade de um propósito de agressão pela agressão, de agressão à sociedade com o intuito muito nítido de que o incêndio dos carros seja visto apenas como isto mesmo: o ataque indiscriminado e sem a finalidade do proveito. Não faz diferença, nem maior sentido, se é resposta à ocupação policial de tal favela, se as mudanças de líderes mudam os gêneros de ação, ou lá o que seja. Essas possíveis motivações, invocadas com frequência, não seriam novas e são sempre esperadas.

Com o objetivo de roubar o carro ou os ocupantes, a seletividade dos assaltantes sempre se mostrou lógica, incidente sobre modelos mais novos e mais convenientes nas fugas. A indiscriminação da nova onda não poupa nem sequer os carros exaustos e maltrapilhos, os velhos Monzas, as kombis desarranjadas, sinais do primeiro lance na ascensão suburbana. O fuzil moderno em uma das mãos, na outra a garrafa com gasolina, e logo a ascensão posta em cinzas. Se a perversidade não aumentou, como parece; se é a mesma que subjuga as favelas, no mínimo estendeu seu alcance com a nova onda.
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Rizoma Beatrice

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