quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Prefeito de Teresópolis manda abrir 300 novas covas e cemitério pode ter sepultamento noturno



Por determinação do prefeito de Teresópolis, Jorge Mário, 300 novas covas individuais estão sendo abertas no cemitério municipal Carlinda Berlim. O trabalho está a cargo da Secretaria Municipal de Serviços Públicos. Além dos coveiros que já atuam normalmente no cemitério, 25 homens da secretaria e mais 15 voluntários ajudam na abertura das valas.
A Secretaria de Serviços Públicos trabalha com a hipótese de continuar a abertura de valas durante a noite e permitir sepultamentos noturnos -- tudo depende da instalação de uma iluminação artificial. Se isso acontecer, o trabalho deve seguir madrugada adentro.

Dada a grande quantidade de covas necessárias, também está sendo utilizada uma retroescavadeira. Até o momento, cerca de 120 covas foram abertas. A hipótese de fazer valas coletivas foi cogitada, mas o prefeito vetou.

O número de sepultamentos, no entanto, ainda é baixo. Segundo o secretário municipal de serviços públicos, Luiz Antonio da Costa Jorge, até o início da tarde desta quinta-feira (13), 30 pessoas foram enterradas, muitas em túmulos familiares que já existiam no cemitério. A demora se deve à lentidão na identificação dos corpos no Instituto Médico Legal (IML) e ao transporte, que cabe às funerárias -- elas alegam que não estão dando conta da demanda.

"Minha preocupação é que vários corpos cheguem todos ao mesmo tempo ou que demorem muito e cheguem já num estado muito ruim, que não vai nem permitir às famílias um minutinho de reza", disse o secretário.

Nesta tarde cinza e chuvosa de quinta-feira, muitas famílias ainda aguardam ansiosas a chegada dos corpos de entes e amigos queridos.

No cemitério municipal, é possível ver alguns sepultamentos ocorrendo simultaneamente. O choro e o grito de dor se misturam a palavras de consolo.
"Clima sombrio"

No dia seguinte à maior tragédia de Teresópolis, a cidade tenta se refazer do golpe, mas a volta à rotina ainda é imperceptível para quem circula pelas ruas do centro.

A chuva, que não parou desde o princípio da manhã desta quinta-feira (13), afastou os pedestres da avenida Feliciano Sodré, uma das principais da cidade. O fluxo de carros acontece sem dificuldade. Às vezes, caminhões e retroescavadeiras são vistos seguindo em direção às áreas destruídas pela chuva. A maior parte do comércio está aberta, o que não significa que a cidade opera em seu ritmo normal.

Cláudio Pacheco, 40, funcionário de uma loja de autopeças conta que seis funcionários do estabelecimento não puderam ir trabalhar desde ontem, pois estão ajudando na busca e auxílio de familiares prejudicados. Destes seis, cinco são moradores do bairro do Caleme, uma das áreas mais prejudicadas de Teresópolis. “O movimento está bem fraco. Os poucos clientes que vem parecem anestesiados. Nem sei como trabalhamos ontem. Víamos caminhões passando cheio de corpos, e isso fazia muito mal”, relata Cláudio.

Nívea Beatriz Leal, 33, funcionária de uma lavanderia, conta que não pode fazer muito já que praticamente não há água. “Estamos só passando [roupa] e dizendo para os clientes que ligam que não vai dar pra pegar mais pedido até o final da semana”, diz ela, com o semblante abalado.

Na mesma lavanderia, Ana Carolina Mateus, 21, foi trabalhar nesta quinta apenas porque conseguiu um lugar seguro para passar a noite. Ela também é moradora do Caleme. “A gente sai sem saber quando vai voltar. Muita gente já saiu e quem ainda não saiu está procurando lugar”, diz.

Numa das farmácias do Centro, o movimento é praticamente nulo. “É um começo de 2011 muito triste”, lamenta Carlos Alexandre Garcia, 22, funcionário. Seu colega Gedeon Pereira, 40, que saiu de Vitória (ES) e mora em Teresópolis há 3 anos está revoltado com a situação.

“Nunca vi uma cidade tão abandonada. O problema é que Teresópolis está nas mãos de alguns poucos que controlam tudo e não fazem o bem pelo coletivo. É uma cidade com muito potencial, mas tudo aqui está muito precário. E com essa tragédia, o clima ficou horrível”, desabafa o capixaba.

“A cidade está com o clima sombrio, prefiro ir para o Rio de Janeiro”, diz o médico Lúcio Portugal Vasconcelos, 70, que possui casa nos dois municípios fluminenses. “Além da desolação, tem a revolta pela incapacidade dos políticos de adotar medidas preventivas ao invés de corretivas”, protesta.

Lúcio ainda lamenta as consequências que a catástrofe trará para a cidade. “Teresópolis terá um prejuízo grande, pois a cidade depende do turismo. E ainda tem a desvalorização imobiliária e as pessoas que vão deixar a cidade, o que vai gerar desemprego aqui”, teme o médico.

Uol.com

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