sábado, 29 de outubro de 2011

Os fazendeiros de Mato Grosso

O país comemorou a safra recorde de 160 milhões de toneladas de produtos agrícolas. Foto Rodrigo Baleia/ AE

O país comemorou a safra recorde de 160 milhões de toneladas de produtos agrícolas. Em um encontro em Santiago do Chile, lideranças do agronegócio de Mato Grosso desdenharam. Com um pouco de investimento em logística, diziam elas, seria possível ao Mato Grosso, sozinho, produzir essa quantidade.

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Ali, na mesa do restaurante do hotel, quatro das lideranças me procuram pretendendo aprofundar o tema da palestra – falei sobre a maioridade do agronegócio e a importância de terem pensamento estratégico e compreensão sobre os novos valores do país.

Um deles, sozinho produz 1,5 milhão/ano de toneladas de soja. O grupo do algodão produz, hoje em dia, um produto prime, classificado entre os três melhores do mundo. Recém-chegado dos Estados Unidos, o presidente da associação dos produtores de algodão contava a receptividade do produtor brasileiro, os elogios uníssonos das maiores tradings. Foi um fenômeno construído há menos de 15 anos, quando o então governador Dante de Oliveira criou um programa destinado a promover o marketing do algodão do estado.

O grande desafio do setor é convencer as autoridades da importância de completar o ciclo logístico da região e a opinião pública do sudeste de que há um novo pensamento no setor, muito longe do ranço da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

Há um conjunto de obras relevantes sendo tocadas. O asfaltamento da BR 163, por exemplo, está sendo feito com a construção simultânea de 160 pontes. Faltam apenas 300 km para completar o asfaltamento. A Transnordestina caminha a passos largos, assim como a ferrovia Norte-Sul. A hidrovia do rio Madeira tornou-se uma realidade, graças ao trabalho do produtor Blairo Maggi.

Com a ligação para Santarém, deverá ocorrer uma enorme transformação no Mato Grosso. Não mais haverá a necessidade de descer para Santos ou Paranaguá. Em vez de 2.500 km para Santos, o trajeto cairá para 1.000 km, resultando em ganhos de 50 a 60 dólares a tonelada.

Mato Grosso possui 90 milhões de hectares, dos quais 6,4 milhões plantados com soja. Há 30 milhões de hectares em aberto, pastagens ou áreas degradadas. Se se aumentar a área plantada em 15 milhões de ha, produzindo 10 toneladas por ha, em duas safras anuais, só essa expansão permitiria produzir o equivalente à produção total do país.

Na opinião de especialistas do setor, a Transnordestina deveria ser dedicada exclusivamente ao agronegócio e a Norte-Sul ao transporte de minério. O fato da Vale ser a proprietária de ambas cria conflitos de interesse, que acaba atrapalhando o uso das ferrovias pelos produtores de grãos.

Com 400 km de ferrovia, chega-se à região do Araguaia. Só lá existem, 4,5 milhões de ha de terras degradadas que serão recuperadas. A soja sai do leste de Mato Grosso, entra na Norte-Sul, uma distância de 405 km planos, prontos para receber estrada. A Norte Sul permite chegar ao coração da produção agro, Lucas do Rio Verde. Estando pronta, vira um Estados Unidos, diz um deles.

O grande desafio das autoridades será definir regras para impedir uma concentração nociva de terra. Mas o novo Brasil está pronto para voar.

Luis Nassif Online

Carta Capital

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