quarta-feira, 21 de março de 2012

Cai a máscara de Plutarco

Mauricio Dias

Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital. A versão completa de sua coluna é publicada semanalmente na revista. mauriciodias@cartacapital.com.br

Ética. Cai a máscara de mais um varão de Plutarco. Foto: Renato Araújo/ABr

Respingos
O envolvimento do senador Demóstenes Torres (DEM) com Carlinhos Cachoeira, que, entre outras coisas, é mais conhecido como bicheiro, tirou a máscara de mais um varão de Plutarco da oposição. Destacado parlamentar, em plenário, marcou a atuação em torno do discurso sobre a ética.

Antes dele sucumbiu Waldomiro Diniz, ex-presidente da Loteria do Rio de Janeiro e operador financeiro do PT. Conclusão: ninguém atravessa cachoeira sem se molhar.

Toga fardada
O manifesto dos militares tem uma curiosidade. Recebeu adesão do desembargador Garcez Neto, do Tribunal do Rio de Janeiro. O nome dele não está incluído na coluna da Magistratura nem na coluna dos civis que aderiram. Garcez aparece na coluna dos generais.

O magistrado ganhou notoriedade, no fim de 2011, ao dar uma cabeçada em um desembargador desafeto no posto bancário do tribunal. Não houve complacência dos pares. Ele teve de pagar 50 mil reais por danos morais.

Aécio em Brasília…
A opção de José Serra pela disputa da prefeitura de São Paulo deixa o caminho livre para Aécio. Ele tem pela frente, no entanto, três obstáculos cruciais para a corrida presidencial de 2014.

O primeiro, e o mais difícil, será enfrentar Dilma se ela mantiver a popularidade. Isso criará dificuldade para Aécio atrair aliados da base do governo. Só a erosão da economia favorecerá o candidato da oposição.

em Minas…
O segundo obstáculo é a base mineira de Aécio, o segundo maior colégio eleitoral do País. Antonio Anastasia, atual governador feito por ele, está impedido de disputar a reeleição e Aécio não tem um nome forte e terá de construir às pressas uma alternativa, até agora invisível a olho nu.

e em São Paulo
José Serra, se ganhar a eleição para a prefeitura paulistana, seria o terceiro obstáculo no maior colégio eleitoral, com 23% do total de eleitores do País.

Vencedor, Serra afastaria o PSD de Kassab de qualquer aliança com Aécio e, por outro lado, inibiria as ações do governador Geraldo Alckmin na disputa pela reeleição. JK quase perdeu a eleição, em 1955, pela pífia votação que obteve em São Paulo.

Chapa fria
Garotinho (PR), ex-governador do Rio, e Cesar Maia (DEM), ex-prefeito carioca, fecharam acordo para a disputa da prefeitura da capital em outubro.Rodrigo, filho de Maia, será candidato a prefeito e Clarissa, filha de Garotinho, candidata a vice.

A oposição tenta evitar que a eleição termine no primeiro turno com a reeleição de Eduardo Paes. Ele tem apoio, até agora, de 11 partidos e pode ampliar para 15.

Por isso Garotinho tentou, sem sucesso, empurrar o ex-prefeito para a disputa. Com o filho Rodrigo, a chapa tem hoje 2% das intenções de voto. Com o pai Cesar, o porcentual chega a 15%, segundo pesquisas de intenção de voto.

Número de militares que assinaram o manifesto ácido contra o governo

Reservas da reação
Definitivamente, o Planalto fez um movimento precipitado ao decidir punir disciplinarmente os oficiais que assinaram manifesto ácido contra o governo e, de natureza sublevada, contra o ministro da Defesa, Celso Amorim.

É bem verdade que a punição, até agora, não foi anunciada.

A adesão após a reação oficial, como era de se esperar, foi multiplicada por dez (tabela) e torna inviável a reprimenda. Isso se for encontrada uma saída dentro da lei. Pelo regulamento, todos os signatários precisam responder individualmente o Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD) para não haver cerceamento de defesa.

Para o governo, após o erro cometido, terminando assim fica bom.

Exemplar
Waldir Pires, ex-ministro da Defesa no segundo governo Lula, tem uma trajetória marcante, pela honradez e pela convicção, na política brasileira.

Consultor-geral da República no governo Jango, foi cassado e exilou-se a partir do golpe de 1964. Em 1986, pós-anistia, elegeu-se governador da Bahia e abriu a primeira brecha no controle político de Antonio Carlos Magalhães no estado.

Foi um raio de luz temporário no obscurantismo sustentado na cumplicidade de ACM com
o regime militar. Em 1989, renunciou ao governo estadual para disputar a Presidência da República como vice na chapa de Ulysses Guimarães. Com o temor da vitória de Lula, o PMDB apoiou Fernando Collor. Apunhalou Ulysses e Waldir.

Após breve interrupção, ele prepara-se agora, aos 86 anos, para voltar à cena. Disputará a eleição para vereador, em Salvador, em decisão que dignifica a política.

Waldir Pires sinaliza que essa atividade não precisa ser necessariamente uma disputa tresloucada pelo poder. Pode ser tão somente uma forma de servir. Ele quer servir à cidade.

Uma utopia? Vivas, então, à utopia.

Carta Capital

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