terça-feira, 24 de abril de 2012

A América pelo fim da escola de assassinos - Primeira parte

Jornal Brasil de Fato
Cristiano Navarro
Formadora de torturadores das ditaduras que se espalharam há décadas pelo continente, Escola das Américas mudou de nome, mas continua existindo

No dia 25 de fevereiro de 1982, o povo chileno recebeu a notícia de um dos mais brutais crimes cometidos pelo Estado. Tucapel Jiménez, dirigente sindical e militante do Partido Radical, foi barbaramente assassinado, com cinco tiros na cabeça e três cortes na garganta, por membros da Central Nacional de Informação (serviço policial de inteligência durante a ditadura do General Augusto Pinochet). O impacto do crime expôs a crueldade do regime e forçou o debate sobre a redemocratização do país.


Em outubro de 2000 – dez anos depois do fim da ditadura –, Carlos Herrera Jiménez, então major do exército, confessou, em júri, ser o comandante da operação que levou ao assassinato do sindicalista. As técnicas aplicadas por ele lhes haviam sido ensinadas no Panamá durante sua formação na
Escola das Américas .

O treinamento do militar e o contexto em que ocorreu a trágica morte do militante não era exclusividade do Chile. A ditadura no país fez parte de uma aliança político-militar entre regimes militares de Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai que recebeu o nome de Operação Condor e que, segundo historiadores, vitimou cerca de 50 mil pessoas.


Com outro nome. Em outro país. Sob outra conjuntura histórica, mas não tão distante no tempo para que as feridas históricas já estivessem cicatrizadas, a escola que ensinou Herrera e outros torturadores, assassinos e ditadores de toda América Latina segue recebendo e formando militares de diversos países.


Os atuais pupilos de Pinochet


Com o nome de Instituto de Segurança e Cooperação do Hemisfério Ocidental (Whinsec, na sigla em inglês), a escola se encontra hoje em Fort Benning, na Geórgia, Estados Unidos, e recebe do Chile o maior número de militares, 208 no ano passado.


Atualmente, Tucapel Jiminez Hijo, filho do sindicalista assassinado, é deputado membro da comissão de direitos humanos da câmara no Chile. Em sua função, o deputado tem pressionado o governo de Michelle Bachelet para que deixe de enviar militares para a
Escola das Américas . “Nunca houve, nem há porque encaminhar nossos militares para esta escola que historicamente trouxe tanta tristeza a todo continente”, contesta Tucapel.

Se a participação de militares chilenos não é compreendida pelo deputado, o próprio governo do país parece não ter justificava. Há pelo menos cinco anos, a advogada de organizações de direitos humanos, Alejandra Arriaza, questiona, por meio de cartas, o Estado chileno e o governo estadunidense, através do Pentágono, sobre quais as formações recebidas pelos alunos da atual
Escola das Américas .

Depois da insistência da advogada, no ano passado, o governo do Chile respondeu que seus militares iam aos Estados Unidos para formarem-se em “cursos especiais para sargentos e suboficiais”. Já o Pentágono respondeu que eles recebiam formação em cursos na área de direitos humanos e saúde, e que os mais procurados eram as aulas de liderança.


Viagem cancelada


Com o impasse de informações entre o governo chileno e o Pentágono, uma comitiva formada por seis congressistas (três governistas e três da oposição), quatro representantes da sociedade civil e representantes do governo agendou viagem para abril deste ano à
Escola das Américas .

No entanto, uma semana antes, o governo chileno cancelou a viagem sem dar justificativa. “Não houve sequer comunicado para os representantes da sociedade civil, nem para os deputados que eram parte da delegação”, reclama a advogada.


“Não entendemos a posição do governo de Bachelet, que também sofreu com a
Escola das Américas . Esse tema, como o da reparação das famílias e o da busca por desaparecidos, é muito importante para nossa democracia”, cobra Tucapel, que participaria da delegação.

Tortura nunca mais

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