segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Quando o jornalismo político se disfarça de jornalismo de economia

ImageLeio hoje no Estadão um exemplo acabado de jornalismo político: o artigo “Dois vexames brasileiros em 14 anos ”, de Rolf Kuntz. Em resumo, ele diz que o Brasil foi o “patinho feio” do Fórum Econômico Mundial deste ano, compara o Brasil de 1999 (com a maxidesvalorização do real”) com o de 2013, afirma que o governo gasta demais e reclama da queda dos juros no país.

Para começar, recorro às palavras de Janio de Freitas ontem na Folha de S.Paulo, um dia antes de esse artigo do Estadão ser publicado: “Está evidente na contradição das atitudes o quanto há de política no que é servido ao público a respeito de assuntos econômicos. Na maioria dos assuntos dessa área, o direcionamento é predominantemente determinado por política, e não pela objetividade econômica”. Mais abaixo, volto a comentar essa coluna de Janio de Freitas.

É exatamente política o que faz o artigo de Rolf Kuntz. O jornalista sabe que o governo contingenciou R$ 50 bilhões dos orçamentos de 2011 e 2012 e que subiu os juros em 2010 e 2011. Daí o baixo crescimento nesses últimos dois anos, influenciado obviamente pela crise internacional e suas consequências: maior protecionismo e queda violenta no comércio global.

Como achar pouco uma desoneração de mais de R$ 46 bilhões num ano (2012) de crescimento quase zero da arrecadação? Além de tudo o jornalista compara o Brasil com a Europa e os Estados Unidos, países comm altos déficits ou dívidas impagáveis, com desemprego recorde, em recessão ou quase em recessão. Tudo o que o Brasil não vive.

O absurdo chega ao ponto de comparar 1999 com 2013! E pior: relata que saímos da crise de 1999, mas esconde que foi no governo Lula. E por aí vai, até apelar aos santos depois de cometer todos os pecados imagináveis para um jornalista.

Isso sem falar que nenhum país da Europa ou os EUA seguem os conselhos que ele propõe.

Luta política

Recomendo a leitura do artigo de Janio de Freitas que citei no começo deste post.

Ele demonstra como as análises e reportagens econômicas são direcionadas pela política. Janio dá o exemplo dos juros: antes, quando altos, eram apontados como vilões; agora, os mesmos críticos reclamam da queda. Episódio semelhante ocorre com a redução da conta de luz.

“É assim por parte dos dois lados. Mas não de maneira equitativa. Os economistas mais identificados com o capital privado do que abertos a problemas sociais, ou a projeções do interesse nacional, fazem a ampla maioria dos ouvidos e seguidos pelos meios de comunicação”, afirma o jornalista.

Está evidente que o jornalismo econômico corre o risco de acabar como o político: mero instrumento da luta política dos donos dos jornais, que formaram uma centena de jornalistas nessa linha. Esse cenário ainda vale um estudo.


Blog do Zé Dirceu

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