sexta-feira, 22 de março de 2013

Comissão resgata verdade sobre falência da Panair

Este episódio da Panair, objeto de audiência pública da Comissão Nacional da Verdade (CNV) depois de amanhã, no Rio, para debater a responsabilidade da ditadura militar (1964-1985) na falência da companhia aérea do Brasil, é um entre as centenas que precisariam ser examinados e trazidos a luz do dia para discussão da CNV.

A decretação da falência da Panair foi um ato de arbítrio e vingança contra a aérea, uma das milhares de injustiças e violências cometidas pela ditadura contra empresas e cidadãos sob o manto da luta contra a corrupção e a subversão. E sob o silêncio cúmplice de muitos. Não podemos esquecer nunca os expurgos de milhares de cidadãos nas universidades, empresas, sindicatos e Forças Armadas, dentre outras instituições.

Profissionais de primeira qualidade, cientistas reconhecidos, empresários, militares patriotas e profissionais exemplares, pelo simples fato de que defendiam outras ideias e ideais tiveram suas carreiras truncadas. Começando pela Universidade de Brasília (UnB), um símbolo da inteligência nacional que a ditadura fez de tudo para destruir.

Apenas defendiam a Constituição, a Democracia, a nação e o povo

Eles apenas defendiam a Constituição, a Democracia, a nação e o povo, Mas foram perseguidos pelo arbítrio e a violência. Há necessidade de muitas outras comissões da verdade no país, estaduais, municipais e em instituições. E que elas promovam discussões, debates e investigações como estas que estão sendo promovidas pela Comissão Nacional.

O debate de sábado, da CNV no Rio, terá a participação de advogados e historiadores. A falência da Panair foi decretada logo no início da ditadura. A empresa pertencia aos empresários Celso da Rocha Miranda e Mario Wallace Simonsen, que apoiavam Juscelino Kubitschek, presidente da República de 1956 a 1961 e opositor do regime militar.

No dia 10 de fevereiro de 1965, sem qualquer aviso prévio, num ato de arbítrio puro, o governo militar cassou todas as licenças de voo da Panair e cinco dias depois decretou a sua falência (a empresa tinha 5.000 funcionários). A alegação era de que a Panair estava em grave situação econômica, o que representaria risco à segurança dos voos. Poucos meses antes, a Aeronáutica fizera inspeção e atestara a regularidade da empresa.

Responsáveis por falência estão protegidos pela Lei da Anistia

 

Wallace Simonsen morreu 37 dias após a decretação da falência. Rocha Miranda discutiu o caso na Justiça até morrer, em 1986. A empresa ainda existe (no papel) e é dirigida por um de seus filhos, Rodolfo da Rocha Miranda. Mas seus únicos contratados são advogados que ainda discutem judicialmente a responsabilidade pela falência.

No ano passado, com base na Lei de Acesso à Informação, Rodolfo conseguiu documentos produzidos durante a ditadura pela Aeronáutica e pelo Ministério da Fazenda que relatam manobras praticadas pelo governo militar para dar um manto de legalidade à falência da Panair. Uma delas foi a norma que proibiu empresas aéreas de entrar em concordata. O herdeiro da Panair encaminhou esses documentos à CNV.

"Não penso em ressarcimento, em cobrar alguém pelos prejuízos. Quero esclarecer esse caso, que o Estado reconheça que a falência da Panair não foi culpa de seus donos, mas sim uma manobra da ditadura. São 48 anos com essa história entalada na garganta", diz Rodolfo, de 63 anos.

A advogada Rosa Cardoso, integrante da CNV, antecipou que, mesmo se ficar demonstrado o prejuízo causado aos empresários, a investigação não vai gerar responsabilização criminal de ninguém, porque os autores desses atos também estão protegidos pela Lei de Anistia, de 1979. "Mas é importante resgatar essa história." 


Blog do Zé Dirceu

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