sexta-feira, 19 de abril de 2013

Por que é vital que o mensalão seja avaliado por uma corte internacional


Vamos refletir sem paixões partidárias.
Não sei se isso é possível num país tão polarizado, mas para o Diário  é: nosso partido é a Escandinávia, e os leitores sabem disso.
Pois bem.
Faz sentido aceitar estoicamente o julgamento do Mensalão depois que vieram à luz, depois do veredito do final do ano passado, tantos descalabros entre os juízes do Supremo Tribunal Federal?
Mesmo leigos hoje são capazes de dissertar, com propriedade, sobre pataquadas ocorridas no julgamento.
Nossa mais alta corte – sejamos francos – é de segunda, ou terceira, classe. Seus integrantes são, numa palavra, fracos.
Fux é o maior exemplo, mas não o único.
Há sinais de que nenhum deles sabia o que é o chamado BV, Bônus por Volume – uma propina legal inventada pela Globo para forçar as agências a anunciar nela.
E o BV pode explicar coisas que sequer foram discutidas num julgamento em que o STF, sob as câmaras interesseiras da televisão, mais pareceu o BBB.
E então, com toda a precariedade do STF, e mais a pressão da mídia, você é condenado a dez anos de prisão e chamado de chefe de quadrilha, como aconteceu com Dirceu.
Faça as contas: ele já passou dos 60 faz algum tempo. Poderia viver seus últimos anos na cadeia.
E condenado por quem? Não por Cíceros, não por Catões – mas por Barbosas e Fuxes, e mais a máquina dos Marinhos.
Você não precisa ser a favor de Dirceu. Basta ver quem é contra. A Globo, por exemplo. Quando a Globo apoiou uma boa causa no Brasil?
Roberto Marinho era dono de um jornal medíocre e pequeno quando encontrou, na ditadura militar, um aliado. Ganhou televisão, ganhou facilidades, e todos sabemos o que deu: mais que o apoio cego à ditadura, a alma.
A Globo virou grande não pelo talento de Roberto Marinho, que aliás jamais escreveu que se saiba uma legenda. Mas pelas absurdas vantagens que desfrutou na ditadura em troca de apoio.
Isso está registrado no livro Dossiê Geisel, da editora FGV, um vital retrato da ditadura feito a partir dos documentos pessoais de Geisel.
Leia.
Ali estão citados os encontros que Roberto Marinho fazia com empresários para promover entre eles a causa da ditadura.
Armando Falcão, ministro da Justiça de Geisel, se referia a Roberto Marinho como “o mais fiel e constante aliado” da ditadura entre os donos da mídia. E falava também dos pedidos de Roberto Marinho na contrapartida de tamanha fidelidade e constância.
A Globo grande nasceu desse conluio. Meritocracia zero, ou abaixo de zero.
E então você se chama Dirceu e se vê na iminência de fazer as malas e partir para o xilindró porque a Globo quer que isso aconteça.
Dirceu tem que ser duramente criticado, sim. Como uma das lideranças mais importantes do PT, fez menos do que deveria para reformar o Brasil nestes dez anos.
O Brasil avançou socialmente, mas menos do que poderia e deveria.
Um trabalho sério teria promovido mudanças, por exemplo, no Supremo. Você não pode colocar um Barbosa – por ser negro – ou um Fux – por matar no peito – e imaginar que vai transformar o STF num tribunal de sábios.
A conta pode chegar e chegou.
Mas isso é uma digressão.
De volta: você se chama Dirceu e foi condenado por eles.
A quem apelar?
Sim, à Corte Internacional da Organização dos Estados Americanos.
Seja o que for que a OEA delibere, lá a voz da mídia não perturbará tanto, não influenciará tanto, não terá efeito tão nocivo ao que se entende que seja justiça. A mesquinharia de Barbosa vai contar pouco.
Dirceu e os demais réus demoraram para fazer a coisa certa.

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