Professora Maria da Conceição Tavares já deixou
registrado que revista inglesa é pautada por interesses escusos do
capitalismo global; e não apenas por seus jornalistas; matriarca dos
desenvolvimentistas do País diz: "Não acredito nessa geração espontânea
nas páginas da Economist, por mais que isso combine com o seu
conservadorismo"; para ela, "o alvo é 2014"; análise se deu a respeito
de pedido da cabeça do ministro Guido Mantega, feito pelo magazine da
terra da rainha Elizabeth no final do ano passado; mas vale para o caso
atual de crítica grosseira à economia brasileira; 247 apurou que
ex-ministro Pedro Malan tornou-se uma das principais fontes de
informação da publicação; artigo
27 de Setembro de 2013
A matriarca dos economistas desenvolvimentistas do Pais sustentava,
no referido texto, que a publicação inglesa não possui "geração
espontânea" de reportagens quando se trata de assuntos de interesse do
grande capital internacional. Ao contrário. Para a professora, sempre
que esses interesses estão em jogo, a Economist se pauta por eles, e não
simplesmente pelos fatos jornalísticos.
Escrito na virada de 2012 para 2013, quando a Economist, com todas as
letras, e de maneira grosseira, pediu a cabeça do ministro da Fazenda,
Guido Mantega, à presidente Dilma Rousseff, o artigo de Maria da
Conceição serve como uma luva para o caso presente: na capa desta
semana, o magazine volta a fazer carga pela desestabilização da economia
brasileira.
Na ocasião, 247 apurou que o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan,
atual diretor do banco Itaú, era uma das principais fontes da revista
inglesa no Brasil (aqui).
Abaixo, o texto de autoria da professora Maria da Conceição Tavares
remetido ao 247, publicado originalmente no site Carta Maior:
"A revista Economist sabe, e se não sabe deveria saber o que está
acontecendo no mundo; a revista Economist, suponho, enxerga o que se
passa na Europa; sobretudo, não é cega a ponto de não ver o que salta
aos olhos em sua própria casa.
"A economia inglesa despenca de cabo a rabo atrelada ao que há de
mais regressivo no receituário ortodoxo, numa escalada pró-cíclica de
fazer medo ao abismo. Então que motivações ela teria para criticar o
Brasil com a audácia de pedir a cabeça do ministro da economia de um
governo que se notabiliza por não incorrer nas trapalhadas que estão
levando o mundo à breca?
"O coro contra o Mantega não me convence. Nem nas suas alegações, nem nos seus protagonistas, nem na sua batuta.
"Não acredito nessa geração espontânea nas páginas da Economist,por
mais que isso combine com o seu conservadorismo. Não acredito que a
motivação seja econômica e não acredito que o alvo seja o Mantega
"Pela afinação do coro vejo mais como algo plantado daqui para lá; o
alvo é 2014 e o objetivo é fortalecer o mineiro (NR Aécio Neves)
"A mim não me enganam. Ah, quer dizer então que o Brasil vive uma
crise de confiança, por isso os empresários não investem? Sei...
"O investimento está retraído no planeta Terra, nos dois hemisférios
do globo. Bem, a isso se dá o nome de crise sistêmica. É disso que se
trata. Hoje e desde 2008; e, infelizmente, por mais um tempo o qual
ninguém sabe até quando irá, mas não é coisa para amanhã ou depois, isso
é certo. Então não existe horizonte sistemico de longo prazo e sem isso
o dinheiro foge de compromissos que o imobilizem. Fica ancorado em
liquidez e segurança, em papéis de governo ricos, em especial (paga para
se abrigar nos papéis alemães,por exemplo, recebendo em troca menos que
a inflação).
"Não é fácil você compensar em um país aquilo que o neoliberalismo
esfarelou e pisoteou nos quatro cantos do globo. Por isso não se investe
nem aqui, nem na China ou nos EUA do Obama. E porque também mitos
setores estão com capacidade ociosa –no mundo, repito, no mundo.
"A política monetária sozinha não compensa isso, da mesma forma que o
consumo não alarga o horizonte a ponto de estender o longo prazo
requerido pelo capital. Então do que essa gente está falando?
"Alguns deles certamente conseguem compreender o que estou dizendo.
Estes, por certo não fazem a crítica que eu faria, se fosse o caso de
fazer alguma. A meu ver o Brasil tem que ser ainda mais destemido na
redução do superávit primário – e nisso Mantega está sendo até
excessivamente fiscalista, para o meu gosto.
"Mas com certeza a malta que pede a sua cabeça não pensa assim.
Também não pensa, como eu penso, que o governo deve ir mais depressa no
investimento estatal, fazer das tripas coração no PAC , porque é daí, do
investimento público robustecido que pode irradir a energia capaz de
destravar a inversão privada.
"Mas não. A coisa toda cheira eleitoral. A economia internacional não
vai crescer muito em 2013. O Brasil deve ficar acima da média. Mas,
claro,nenhum desempenho radiante e eles sabem disso.
"Então imaginam ter encontrado a brecha para fincar o pé de palanque do mineiro. E começam a disparar para atingir Dilma.
"Agora pergunte o que eles propõem ao Brasil. Pergunte. E depois
confira onde querem chegar olhando as estatísticas de emprego,
investimento e as sondagens quanto a confiança dos empresários em
Portugal, na Inglaterra, Espanha... Ora, façam-me o favor"
Brasil 247