sexta-feira, 20 de setembro de 2013

As dívidas das empresas de Fragoso Pires

 
Do O Globo
José Carlos Fragoso Pires vê seu império afundar em dívidas
Dono de navio encalhado na Baía já teve 27 empresas em seu nome

CATHARINA WREDE

RIO - Tal qual um velho marujo, o armador carioca José Carlos Fragoso Pires soube navegar com o vento a favor por cerca de 50 anos. Conhecido pela fortuna e pela badalação, o magnata e ex-presidente do Jockey Club Brasileiro chegou a ter 27 empresas em seu nome, entre elas a Frota Oceânica, uma das maiores companhias de navegação do país, da qual ainda é dono. 

Aos 80 anos, porém, o mar virou: na quarta-feira, a Capitania dos Portos, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e técnicos da Transpetro iniciaram uma operação de emergência para retirar o óleo dos tanques de um dos navios de Fragoso Pires, o Angra Star, que está encalhado na Baía de Guanabara.

Afogado em dívidas que quebram sobre sua cabeça desde a década de 90, quando a crise atingiu a maioria dos cargueiros brasileiros, o empresário hoje dá braçadas para se salvar: na última semana, colocou à venda o triplex de 3.800 metros na Praia do Flamengo onde mora, avaliado em R$ 55 milhões, e terá que pegar fôlego para pagar os custos de remoção do navio, além das multas por crime ambiental.

Figurinha fácil nas colunas sociais, Fragoso Pires sempre viveu cercado de luxo. Suas festas na Praia do Flamengo 284 eram famosas, e Angela, a segunda e atual mulher, tida como uma das mais badaladas anfitriãs dos anos 80 e 90.

Ele também dominou o universo equestre. É notória a paixão que nutre por cavalos puro-sangue inglês. A família é dona do Haras Santa Ana do Rio Grande, que liderou a estatística de donos de vencedores de corridas no Hipódromo da Gávea nos anos 1980 e 1990. 

Na década de 90, Fragoso presidiu duas vezes o Jockey Club Brasileiro, o que lhe conferiu ainda mais status na sociedade carioca.
— Sua primeira gestão foi considerada a melhor em 30 anos, por ter renovado o turfe. Em 1995, ele organizou um GP Brasil histórico, com prêmio de US$ 1 milhão — relembra Paulo Gama, jornalista especializado em turfe.

Segundo o advogado da família, Francisco Gaiga, Fragoso Pires ainda mantém o haras no Sul, mas as atividades foram reduzidas. O naufrágio do império não é de hoje. Já no fim dos anos 1990, o empresário começou a se desfazer de bens. Em 1997, perdeu a corretora e o banco Vega. 

Na época, endividado em R$ 300 milhões, ele contratou o banco suíço Union Bancaire Privé para reestruturar os negócios. Parece não ter dado certo. No mesmo período, vendeu o apartamento do Upper East Side, em Nova York, negociou metade do seu plantel de cavalos, que chegou a ter 300 animais, e passou adiante o jatinho. Também abriu mão da mansão em Angra dos Reis, que vendeu ao amigo Julio Bozano. Foi nessa época que o empresário começou a se desfazer das empresas.
— Não sei mais quantas tenho — diz Fragoso Pires. — Foram tantas fusões...

O advogado atribui o início dos problemas financeiros à decisão de Fragoso Pires de comprar, em 1992, a Companhia Nacional Álcalis, que na época tinha a exclusividade da fabricação de barrilha (matéria-prima do vidro) no país. Anos depois, o monopólio da Álcalis foi quebrado, e empresas estrangeiras conseguiram entregar barrilha importada a preços mais competitivos. 

Com prejuízo, Fragoso Pires repassou o comando da companhia a um grupo de funcionários, em 2006.
— O grupo está discutindo o prejuízo em ação na Justiça Federal do Rio — conta Gaiga.
Sobre a remoção do Angra Star, seus custos e possível risco de acidente ambiental, Fragoso Pires lava as mãos, abandonando o barco:
— Este navio esteve anos fretado pela Log-In, empresa da Vale, que não quis mais usá-lo. Como ele está hipotecado ao BNDES, quisemos devolver, mas eles não quiseram. Sugerimos que vendessem ou afundassem. Mas o BNDES quis vender por 700% a mais um navio que custa R$ 1 milhão. Impossível. Já me considero fora desse negócio! Não tenho mais condições de gerir isso!

Em nota, o BNDES afirma que “a guarda das referidas embarcações cabe exclusivamente à Frota Oceânica (...). O BNDES não tem nenhuma responsabilidade sobre a guarda dos navios”.

Imóvel estaria sendo negociado para saldar dívidas

Há quem duvide que ainda exista um apartamento desse porte no Rio: cinco suítes, 11 quartos de empregados, dez vagas na garagem, um jardim suspenso, salões — no plural — de festas, corredores de mármore de Carrara, elevador privativo e até uma miniatura do Arco do Triunfo incrustada no jardim da cobertura. E não é só. Por toda a parte, há sinais de uma época áurea do Rio — lustres de cristal, escadarias imponentes e móveis Luís XV. Mas este imóvel não só existe como está à venda pela bagatela de R$ 55 milhões, como informou o colunista Ancelmo Gois, do GLOBO.

A preciosidade é a residência do empresário Fragoso Pires e de sua mulher, Angela. O casal comprou o triplex, localizado na Praia do Flamengo 284, do playboy Jorginho Guinle, que mandou construir o prédio e ali fez as festas que povoam até hoje o imaginário da sociedade carioca. O primeiro andar — cuja área é toda exclusivamente para festas — foi palco da movimentada crônica da vida de Guinle e seus convidados nos anos 50. Mais tarde, foi a vez de os Fragoso Pires reinarem nos mesmos salões, promovendo recepções regadas a champanhe e caviar. Há muito tempo, o jet set não frequenta mais tão nobre endereço.

Os tempos, agora, não estão para borbulhas. Fragoso Pires colocou, há uma semana, o imóvel à venda em uma corretora. Já surgiram interessados — novamente no plural —, mas ninguém que tenha, ainda, batido o martelo. E também ninguém que queira ver seu nome publicado nas páginas dos jornais. Segundo a corretora, não existe hoje, no mercado imobiliário do Rio, outro apartamento do mesmo nível.

Segundo fontes ligadas à família, a decisão de se desfazer do imóvel, que há anos está no nome dos filhos de Fragoso Pires, foi difícil. Mas foi a forma que o clã encontrou para quitar dívidas.

— Já quero sair deste apartamento há muito tempo — afirma o patriarca. — Minha mulher, Angela, não aguenta mais morar ali.



Blog do Luis Nassif

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