quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Enfim, uma vitória política. E um alívio temporário para a democracia

POR FERNANDO BRITO · 23/09/2015




Pode ter começado ontem à noite – tomara – uma rearticulação política que ponha freio à escalada golpista que o país assiste, já nem tão nas sombras.

Claro que o desembestar do dólar e os sinais mais que negativos da economia ajudaram, mas o que fez, mesmo, reverterem-se os placares acachapantes registrados em outras votações, sobretudo a Câmara, foi a retomada mínima da capacidade de articulação com o PMDB, sem o qual se dissolvem, quase todas, as rebeliões em outros partidos aliados.

Colocar “a cabeça de fora” quando não se está no meio de muitos é ato que boa parte dos parlamentares evita e sem a multidão peemedebista para acompanha-los, ela não o fará. ao ponto em que a oposição, em algumas votações, nem sequer atingiu 100 votos no plenário da Câmara.

Haverá, certamente, um preço político a pagar. E pesado.

Teme-se que o maior deles, politicamente, seja maior do que o de ceder ministérios ao PMDB, o de que a Presidenta silencie (isto é, não sancione nem vete) o dispositivo da reforma política que proíbe o financiamento privado das campanhas políticas. Isto é, que deixe para que o próprio Congresso o promulgue e, depois, que o Supremo o derrube.

O risco de que isso represente restabelecer o dinheiro privado nas eleições é minúsculo, até porque a reforma política (que não reforma quase nada, aliás) é lei e não a Emenda Constitucional que Eduardo Cunha fez votar até ser aprovada. Esta dificilmente passará no Senado e tem alguma possibilidade de criar problemas no Supremo, ainda que os fundamentos da decisão da semana passada refiram-se a princípios constitucionais de revogabilidade impossível.

Mas será, claro, uma imensa afirmação de poder de Eduardo Cunha, algo do qual ele precisa desesperadamente a poucos dias de ser votada a admissão de seu processo no Supremo.

Do lado oposto, será também praticamente o sepultamento das iniciativas de “impeachment” até (e se) fatos novos vierem a acontecer. E a afirmação permanente da soberania popular não é apenas um momento vazio de afirmação de poder, é essencial para nossa caminhada dura até sermos uma nação.

Não se trata de gostar ou não ou raciocinar com o mundo ideal, mas de fazer a política como ela é. Sem deixar de fazê-la como deveria ser, porque precisa-se voltar a olhar para a frente e isso não se pode fazer quando se tem de baixar os olhos para cruzar a buraqueira que se deixou abrir.

Teremos um rápido e nem tão grande alívio, na política e na especulação financeira. Pequeno, mas essencial para conter o quadro de degradação acelerada em ambos.

Que o duro e frustrante exercício da política, ao menos, nos prepare (ou nos restaure) para entender que sem comunicação com a população, sem apontar os conflitos que teremos de viver e, sobretudo, de saber conviver com as lamas da realidade sem lambuzar-se nelas.

E que saibamos suportar até 2018.


Tijolaço

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