quinta-feira, 24 de setembro de 2015

JOÃO PEDRO STÉDILE: “A NOSSA BURGUESIA SENTE RAIVA DE POBRE E DE PRETO”


Membro da direção nacional do MST, o economista participou de debate e foi ovacionado nesta quarta-feira (23/9), em Fortaleza – menos de 24 horas após sofrer ataques no aeroporto Pinto Martins

24 DE SETEMBRO DE 2015 ÀS 10:23


Por Rachel Chaves - Cut Ceará - João Pedro Stédile no início do seminário em Fortaleza, na noite desta quarta-feira (23/9) (FOTO: Daniel Pearl Bezerra/Mídia Livre)
“Esse ataque não foi pessoal, mas direcionado à classe trabalhadora. A nossa burguesia tem raiva de pobre e de preto. Ainda não consegue conviver com casa grande e senzala”, disse o economista João Pedro Stédile, na noite desta quarta-feira (23/9), em Fortaleza, referindo-se às agressões que sofreu imediatamente após o desembarque no Aeroporto Internacional Pinto Martins. Os ataques ganharam repercussão nacional. Stédile, que integra a direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), veio a Fortaleza para participar de mais uma edição da série de debates promovidos pelo Movimento Democracia Participativa (MDP), do qual faz parte da CUT-CE. 

O encontro ocorreu na Casa Amarela Eusélio Oliveira, equipamento da Universidade Federal do Ceará, e foi acompanhado por centenas de pessoas, que lotaram o auditório local para ouvir Stédile debater sobre reforma política e combate à corrupção. Entre eles: representantes de movimentos sindicais e populares, pastorais sociais, parlamentares progressistas, juventude e professores universitários. O presidente da CUT-CE, Wil Pereira, que compôs a mesa de abertura, lamentou o ocorrido na noite anterior no aeroporto e reiterou o compromisso da Central com as causas do MST.

“Todos nós, ontem e hoje, sempre seremos o MST. O que aconteceu ontem (22/9) só nos encoraja a ocupar as ruas cada vez mais. Todo nosso respeito e solidariedade a você, Stédile, e à professora a Adelaide”, disse Wil Pereira, referindo-se, ainda, à professora Adelaide Gonçalves, do Departamento de História da UFC, que acompanhava Stédile no momento das agressões. Antes do seminário na Casa Amarela, o economista acompanhou o primeiro dia do Congresso dos Servidores Públicos Federais do Estado do Ceará, em Beberibe.
Auditório da Casa Amarela Eusélio Oliveira ficou pequeno para a multidão que tentou participar do seminário com Hoão Pedro Stédile (FOTO: Daniel Pearl Bezerra/Mídia Livre)João Pedro Stédile elogiou a unidade “importante e necessária” que vem sendo criada no Ceará e enfatizou o período histórico de transição e de disputas de projetos pelo qual vem atravessando o Brasil. Aprofundou ainda as três crises – “econômica, social e política” – vivenciadas atualmente pelo País,e reforçou a necessidade de aglutinação das forças de esquerda para o debate. “Não podemos fazer de conta que não há crise. E não há torcida que se mantenha no estádio para ver gol contra”, afirmou. 

Ainda segundo Stédile, os “capitalistas sequestraram a democracia formal”. Ele fez severas críticas ao sistema eleitoral brasileiro, acrescentando a necessidade de se reforçar “todo o sistema político e eleitoral no País”. Para ele, a força dos movimentos na rua ainda tem muito peso e “a classe trabalhadora precisa exercitar sua força política principal, que é a luta de classes e a força nas ruas”. Ele anunciou que, no próximo dia 28, economistas de esquerda vão lançar plataforma com orientações sobre políticas necessárias à classe trabalhadora. 

Manifesto

Ainda durante o seminário, o MDP lançou o manifesto “Reforma política e combate à corrupção”. Entre várias abordagens, o documento aponta o financiamento empresarial das eleições como ponto de desequilíbrio claro e forte da disputa pelo voto, de privatização de mandatos e de corrompimento das administrações públicas. Reforçando o discurso de João Pedro Stédile, o Manifesto também comemora a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de julgar inconstitucional o financiamento empresarial de partidos e de campanhas eleitorais. 

Para o Movimento Democracia Participativa, a corrupção não se restringe ao espectro político-eleitoral, mas aparece “endemicamente entranhada em todos os setores” da vida do País. Segue o Manifesto: “Eis porque um combate sistemático a essa chaga deve ser implantado como programa prioritário de governo com o amplo apoio do povo trabalhador”. 

Mais sobre João Pedro Stédile

Filho de pequenos agricultores italianos, o economista e ativista social brasileiro João Pedro Stédile é pós-graduado em Economia pela Universidade Nacional Autônoma do México. O marxista Stédile é um dos maiores defensores da reforma agrária. É um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do qual é também membro da direção nacional. Participa desde 1979 das atividades da luta pela reforma agrária no Brasil, pelo MST e pela Via Campesina.


Mais sobre o MDP 

O Movimento pela Democracia Participativa (MDP) nasceu a partir de um debate promovido na reta final das eleições 2014 e já trouxe a Fortaleza nomes como o ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho; o professor, escritor e teólogo Leonardo Boff; e o jornalista Paulo Moreira Leite. 

Os bons resultados das discussões anteriores inspirou o grupo a voltar a reunir intelectuais, dirigentes sindicais e políticos em continuados esforços para construir um “caminho” que possibilite formar uma opinião pública a respeito da atual situação política do País. 

Além da CUT-CE, o Movimento Democracia Participativa integra entidades como: Agência de Informação Frei Tito para América Latina (Adital), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará (Fetamce), Federação dos Trabalhadores Empregados e Empregadas no Comércio e Serviços do Estado do Ceará (Fetrace), Sindicato dos Fazendários do Ceará (Sintaf), Sindicato dos Bancários do Ceará (SEEB-CE), Sindicato Apeoc, Sindicato Mova-se, Sindicato dos Comerciários de Fortaleza (SEC-Fortaleza), Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Ceará (Sindjorce), Movimento Juízes pela Democracia e Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos (Motu) e Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé.



Brasil 247

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