sexta-feira, 22 de abril de 2016

A melhor definição da imprensa brasileira apareceu num jornal inglês: mídia plutocrática. Por Paulo Nogueira

Postado em 22 Apr 2016


Um jornal a serviço da plutocracia

Toda tragédia tem uns pingos de comédia. Os tuítes em inglês de Diogo Escosteguy fazem você rir em meio ao drama do golpe em curso.

Presumivelmente, Escosteguy está oferecendo ao mundo uma versão dos fatos segundo as quais o golpe não é golpe.

Seria ridículo em si defender essa tese. Mas o pior é a pretensão de Escosteguy. Quem quer ouvi-lo no mundo? Que impacto qualquer coisa que ele diga pode terna comunidade internacional?

É um jornalista provinciano, sem credibilidade sequer no Brasil, onde é apenas uma das vozes da Globo que apenas cumprem ordens dos Marinhos, que dizer no exterior.

Seus tuítes em inglês demonstram sua falta de noção, que já fora expressa nos últimos meses quando ele repetidamente prometia furos revolucionários na moribunda revista Época.

Alguém mais experiente deveria ter-lhe dito: “Garoto, você está fazendo um papelão. Pára com isso.”

Mas quem?

Para além disso, os tuítes the-book-is-on-the-table de Escosteguy sugerem, para mim, que a Globo tenha oficialmente mandado seus jornalistas atuar fortemente nas redes sociais.

Eu já tinha desconfiado de alguma coisa neste sentido quando soube que Erick Bretas, diretor da Globo, se fantasiara de Sérgio Moro no Facebook.

Um jornalista que se presta a tal absurdo ou é um mentecapto completo ou extrapolou em cima de recomendações recebidas.

Pode, é claro, preencher os dois requisitos.

A Globo tem dificuldade em fazer jornalismo, e está evidente que para fazer propaganda política nas redes sociais suas deficiências são ainda maiores.

Isto se percebe em outro jornalista da casa, Ricardo Noblat, que tem tuitado furiosamente. Nesta sexta, viralizou um tuíte em que ele elogiava a elegância de Temer e a graça de sua mulher Marcela.

Mais uma vez, é a falta de noção elevada à máxima potência.

E estamos falando de expoentes da mídia plutocrática brasileira. Eis, aliás, a melhor expressão para designar as companhias jornalísticas nacionais.

Vi-a, pela primeira vez, num artigo do ativista David Miranda publicado no Guardian.

E imediatamente fui fisgado.

A plutocracia controla a imprensa brasileira. Os Marinhos, os Civitas, os Frias são plutocratas na pior acepção do termo. Plutocratas à moda da América Latina, predadores, doentiamente gananciosos, sem pudor nenhum para meter a mão no dinheiro público de todas as formas possíveis. Tampouco hesitam em manipular seu público com meias verdades e mentiras integrais.

Qualquer que seja o desfecho do golpe, a mídia plutocrática sai irremediavelmente desmoralizada da presente crise política, bem como os jornalistas que ela usa para fazer o serviço sujo.

Estes jornalistas parecem fingir não se dar conta disso. No Twitter, dias atrás, Cristiana Lobo, da GloboNews, se queixava dos ataques que recebia ali.

Ficou para mim a impressão de que ela não sabe quanto a Globo é abominada. Qualquer jornalista da Globo sofre os efeitos colaterais dessa abominação, mesmo os raros que procuram fazer um jornalismo minimamente decente.

Profissional nenhum serve à mídia plutocrática impunemente.

Encerro com uma sugestão.

Num rasgo de sinceridade, a Folha poderia atualizar seu velho slogan que aparece na primeira página.

Onde se lê “um jornal a serviço do Brasil” poderia e deveria, a bem da verdade, aparecer “um jornal a serviço da plutocracia”.

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Diário do Centro do Mundo   -  DCM

Nenhum comentário:

Postar um comentário