segunda-feira, 27 de junho de 2016

A confissão da senadora golpista. Por Paulo Nogueira

Postado em 26 Jun 2016

Não foi pedalada

É uma confissão que, em circunstâncias normais, seria classificada como estarrecedora. Mas, no Brasil deste inverno golpista, ela passa quase que despercebida.

A senadora Rose de Freitas, líder do governo no Congresso, admitiu numa entrevista que o afastamento de Dilma nada tem a ver com pedalada. “Na minha tese, não teve esse negócio de pedalada.”

Ela não falou de orelha. Tem conhecimento específico. “Eu estudo isso. Faço parte da Comissão do Orçamento.”

Machado de Assis escreveu que o pior pecado depois do pecado é a publicação do pecado. A confissão de Rose é exatamente isso: a publicação do pecado.

O impeachment é uma farsa. Um circo. Um crime.

Um golpe.

O que as futuras gerações dirão sobre o que está ocorrendo? Como jovens brasileiras e brasileiros lidarão com a vergonha suprema do impeachment? Como vão encarar um capítulo da história tão baixo, tão cínico, tão mentiroso?

O PSDB pagou 45 000 reais a Janaína Paschoal para produzir qualquer coisa que derrubasse Dilma. Não importava que essa coisa fosse inventada: as pedaladas.

A origem da sujeira está aí.

Soam agora ainda mais patéticas as cabeçadas desvairadas de Janaína num vídeo em que ela parecia a garota possuída pelo demônio de O Exorcista, sob o olhar bovino de seu cúmplice Hélio Bicudo. E o que dizer da intimação da ministra Rosa Weber a Dilma para que se explicasse sobre o uso da palavra golpe?

Você pode se defender de uma acusação quando tem alguma chance de desbaratá-la. Mas como se defender de uma mentira que os acusadores sabem ser mentira?

Esta é a situação de Dilma.

É um pesadelo que remete aos julgamentos de Moscou nos anos 1930. Sob o comando de Stálin, bolcheviques dedicados foram ao tribunal sob acusações infames de traição à causa à qual dedicaram a vida.

Era tudo mentira, mas isso não importava: os vereditos estavam prontos antes que o processo se iniciasse.

Os responsáveis pelo impeachment estão usando o mesmo método estalinista. A culpa está determinada mesmo que o condenado seja inocente.

Hoje, essa aberração é vista como normal num país que sofreu uma lobotomia de plutocratas predadores.

Mas não é. É uma aberração mesmo. E assim o episódio será visto no futuro.

A mesma confissão fora feita pelo ministro Gilmar Mendes numa visita à Suécia. Lá, a um jornalista do Cafezinho, Gilmar disse que era irrelevante se Dilma tinha ou não pedalado.

É estalinismo. Em Moscou também não importava se o acusado tinha ou não cometido o crime.

É pior ainda: sob Stálin, ao contrário do que ocorre hoje no Brasil, ninguém admitia que a acusação eram mentirosa.

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


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