domingo, 31 de julho de 2016

Stédile ao DCM: “Se Lula for preso, o MST estará em fóruns e tribunais de todo o país”. Por Kiko Nogueira

Postado em 30 Jul 2016


Stédile

O MST inaugurou na Alameda Eduardo Prado, centro de São Paulo, uma loja com produtos oriundos de assentamentos, cultivados por pequenos agricultores e empresas parceiras.

Farinha de trigo, arroz, feijão, soja, ovos, cachaças, sucos, cervejas, mel, ervas, café colombiano e política — tudo orgânico, um mercado que movimentou em 2015, oficialmente, R$ 2,5 bilhões.

A estreia do Armazém do Campo foi concorrida. Lula era esperado, mas não compareceu. Segundo alguns dos presentes, está finalmente fazendo o que a família lhe cobrou a vida inteira: passando o sábado e o domingo com filhos, netos e a mulher.

Outro motivo óbvio foi mencionado: o desgaste com a Lava Jato numa semana em que ele virou réu, acusado de tentar obstruir a Justiça.

O DCM ouviu alguns dos presentes sobre a carta que está na mesa no país: a possibilidade de Lula ser preso, sonho de Sérgio Moro.

João Pedro Stédile, fundador do MST, já tem uma estratégia desenhada. “Seria uma estupidez muito grande o poder judiciário cometer uma afronta contra um ex-presidente que não cometeu nenhum crime”, diz. “Seria uma perseguição política que geraria uma contradição para a própria direita”.

Admite que isso tem sido discutido com sua organização e com a Frente Brasil Popular. “Se ocorrer, nós nos mobilizaremos imediatamente, fazendo manifestações em todos os locais símbolos do Judiciário, como os fóruns e tribunais em todo o país, fazendo vigílias”, conta.

“Juridicamente, eles podem fazer o que querem, como têm feito em outros processos. Mas eu digo que politicamente é improvável porque qualquer operador da direita se daria conta de que uma prisão do Lula traz mais prejuízos para a direita, reunificaria a esquerda e transformaria o Lula numa vítima, num herói”.

Eduardo Suplicy, já recuperado de sua versão particular da condução coercitiva pelas mãos da PM de São Paulo, disse que esteve com Lula no dia anterior. “Ele me falou que não cometeu nenhum ato ilícito. O importante é que tenha assegurado o direito de defesa. Ele não pode ser submetido às condições do juiz federal Sérgio Moro”, afirma.

Fiel ao seu estilo direto e reto, o comentarista esportivo José Trajano acredita que “tudo o que essa ratatuia deseja é inviabilizar a candidatura de Lula para 2018, mexendo todos os pauzinhos”.

Ratatuia, segundo o Caldas Aulete, significa “bando de malfeitores, de desonestos; QUADRILHA”.

Confira no replay:








Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.



Diário do Centro do Mundo   -   DCM

sábado, 30 de julho de 2016

SABOTAGEM BRASILEIRA DEIXA O MERCOSUL ACÉFALO


A presidência interina do Uruguai terminou ontem, mas a transferência do comando do bloco para a Venezuela não ocorreu porque uma reunião prevista para hoje foi cancelada depois que Brasil e Paraguai questionaram a passagem do bastão para o governo de Nicolás Maduro; ontem, em entrevista a correspondentes internacionais, o interino Michel Temer, que assumiu o poder após um golpe parlamentar no Brasil, antes testado no Paraguai, disse que a Venezuela precisa "cumprir requisitos" do bloco antes de assumir a presidência; venezuelanos, porém, reagiram; "É impossível que não se possa respeitar o cumprimento do tratado", disse a chanceler Delcy Rodriguez; enquanto o impasse persistir, o Mercosul continuará acéfalo

30 DE JULHO DE 2016 


247 – Desde a manhã deste sábado, o Mercosul está acéfalo. A falta de comando se deve à sabotagem do Brasil, que foi acompanhada pelo Paraguai – curiosamente, dois países que sofreram golpes parlamentares.

Recentemente, o interino Michel Temer pediu ao chanceler interino José Serra que fosse ao Uruguai, acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para convencer o governo de Tabaré Vazquez a não transferir a presidência do bloco à Venezuela.

Os dois fracassaram em sua missão, pois Tabaré disse que o Uruguai cumpre acordos internacionais. Ontem, seu governo encerrou sua presidência interina no bloco, mas a transferência do comando para a Venezuela não ocorreu porque uma reunião prevista para hoje foi cancelada depois que Brasil e Paraguai questionaram a passagem do bastão para o governo de Nicolás Maduro.

Em entrevista a correspondentes internacionais, ocorrida nesta sexta-feira, o interino Michel Temer disse que a Venezuela precisa "cumprir requisitos" do bloco antes de assumir a presidência.

Os venezuelanos, porém, reagiram, "É impossível que não se possa respeitar o cumprimento do tratado", disse a chanceler Delcy Rodriguez, em entrevista à Telesur. "A presidência deve ser transferida sem nenhum tipo de atraso, sem nenhum tipo de desculpa, à Venezuela", afirmou a ministra, de visita em Lisboa.

Leia, abaixo, editorial do jornal Página 12 a respeito:

El Mercosur, acéfalo

El gobierno uruguayo dio por terminado su período en la presidencia pro témpore del Mercosur, sin que Brasil y Paraguay acepten la asunción de Venezuela, como lo ordena el estatuto de la entidad regional. Mañana había prevista una reunión de cancilleres en suelo uruguayo para buscar un acuerdo, pero fue suspendida.

La canciller venezolana, Delcy Rodríguez, consideró como "patadas de ahogado" la negativa de Brasil y Paraguay a que su país asuma la presidencia rotativa del Mercosur. "Es imposible que no se pueda respetar el cumplimiento del tratado", sostuvo Rodríguez.

La ministra venezolana señaló que los estatutos del Mercosur solo establecen dos condiciones para traspasar la presidencia: que el país que la ejerce -en este caso Uruguay- haya completado su período- y que la sucesión se dé por orden alfabético.

Por tanto, la canciller indicó que "debe ser transferida sin ningún tipo de retardo, sin ningún tipo excusa, a Venezuela" y llamó a mantener la "unidad" contra los que pretenden mediatizar "política e ideológicamente" la situación.


Brasil 247

Os incansáveis e a coceira


POR FERNANDO BRITO · 30/07/2016



Com o natural sentimento de mágoa de alguém que sofre uma injustiça, a reação de Lula, ontem, foi a de repetir um desabafo idêntico ao que fez quando da absurda condução coercitiva que sofreu por policiais federais, a mando de Sérgio Moro, num espetáculo midiático dantesco: carregar à força para depor alguém que não era (e não é, naqueles casos) réu e sequer havia sido convocado a prestar depoimento.

“Eu já cansei, eu não tenho que provar que tenho apartamento, quem tem que provar é a imprensa que acusa, o Ministério Público que fala o que eu tenho, a Polícia Federal que falou o que eu tenho, eles que têm que apresentar documento de compra, pagamento de prestação, algum contrato assinado, porque se não tiver, eles terão que me dar de presente um apartamento e uma chácara, aí eu ganharei de graça essas coisas que eles falam que eu tenho”

Lula completa, daqui a três meses, 71 anos. Depois dos anos de metalúrgico e presidente do sindicato da categoria, foi deputado, presidente de um partido político, Presidente da República por oito anos e, depois, um dos mais requisitados palestrantes para eventos empresariais, justamente pelo sucesso de sua administração.

A pergunta óbvia é a seguinte: não ganhou, ao longo deste tempo e exercendo funções como as que exerceu, o suficiente para comprar um belo de um apartamento em qualquer das zonas ditas nobres de São Paulo ou da cidade brasileira que desejasse? Ou um sítio, com piscina, churrasqueira e, até, pedalinhos?

Seu antecessor, Fernando Henrique, tem apartamentos aqui (ao que se diz também em Paris) tem fazendas e empreendimentos agrícolas. Porque seu patrimônio – afinal,os anos de professor universitário foram numa atividade que não enriquece ninguém – não são suspeitos ou objeto de investigação policial-judicial?Porque ele fala francês e inglês (este, bem mal, como se viu na entrevista vergonhosa à Al Jazeera)?

Até os acervos acumulados em suas gestões e que, por força de lei, foram obrigados a carregar consigo, sem poder dar ou vender, são diferentes: no caso de FHC, são preservação da memória nacional; no caso de Lula, apresentado como coisas “afanadas” do Planalto!

O cansaço é um sentimento que só atinge os justos. Os maus têm, no máximo, preguiça, porque não há cansaço em quem não trabalho, muito e pesado.

Jamais vi um canalha esgotado e quando algum vai fruir o produto de seu mau-caratismo é num “dolce far niente” luxuoso. Ainda que fossem dele – e como diz, não há um documento a prova-lo – pode-se chamar de luxo um “pombal” no Guarujá ou um sítio em Atibaia?

Se eu pudesse dizer algo a Lula, nestes tempos de mesóclise, contar-lhe-ia uma cena que vivi com Leonel Brizola, num dos muitos revezes que sofreu na vida.

Numa conversa por telefone, nos tempos de menos escutas, ele desabafa dizendo que está cansado, que pouco pôde conviver com a família (mesmo no exílio, os filhos estavam no Brasil, a partir de certa altura, e ele confinado no interior do Uruguai), que estava com mais de 70 anos, que era hora de descansar e procurar prover toda a ausência a que fora obrigado, depois de 50 anos de vida pública, 15 deles no exílio.

“Brito, eu tenho este direito”.

Eu disse que era óbvio que sim e que ninguém poderia condená-lo por isso, embora muitos fossem falar que ele teria ido aproveitar “as delícias” de sua fazenda uruguaia: uma velha casa de pedra, no interior profundo, com telhas de amianto pintadas de vermelho, apropriadamente chamada de Casco Viejo.

“Só tem um problema, governador (como sempre o chamávamos), isso é impossível.”

“Impossível, por que?”, respondeu.

E o velho, que era menos teimoso do que se diz, teve de ouvir:

“Se o senhor se aposentar hoje, garanto que amanhã meu telefone vai tocar e vou ouvir uma voz me dizendo… (e imitando seu sotaque) Mas óooolha, Brito, tu viste os jornais, viu o que estes filhos da p…. estão fazendo?” É por isso que é impossível, porque o senhor não consegue”.

Até o leito de morte, todos sabem, ele não conseguiu, e este teimoso aqui o acompanhou, com as mesmas queixas da família.

Certos personagens tomam conta, e não devolvem, da condição de indivíduos que todos nós – e eles também – temos.

Não vão descansar, mesmo que os seres humanos que são o queiram.

Como disse o outro agora velho, o de São Bernardo: “dá uma coceira….”



Tijolaço

A resposta miserável de Moro à denúncia de Lula é uma cozinha. Por Paulo Nogueira

Postado em 29 Jul 2016

A cozinha de Atibaia usada por Moro como retaliação

Moro e sua mídia amiga são previsíveis. Pateticamente previsíveis.

Lula denuncia ao mundo a perseguição que lhe é movida por Moro e no mesmo dia a imprensa é abastecida com mais um vazamento requentado sobre um tema batidíssimo: o sítio de Atabaia.

Veja o nível a que chegamos: agora é uma reforma na cozinha que vem à cena. Pelo menos não são mais os pedalinhos, você pode pensar.

A brutal irrelevância da pseudodescoberta da Lava Jato pode ser aferida quando você compara a uma informação que foi apurada pelo jornal britânico Guardian.

Segundo o Guardian, o filho de delator Sérgio Machado comprou no espaço de doze meses imóveis em Londres no valor de 90 milhões de reais. Você pode avaliar de onde veio o dinheiro.

A reforma da cozinha do já célebre sítio foi avaliada em cerca de 250 mil reais, sabe-se lá com que grau de precisão. Os imóveis do filho de Machado em 90 milhões.

Numa matemática que não mente, uma coisa é 360 vezes maior que a outra. Mas Moro, a Lava Jato e a mídia brasileira se concentram na migalha para artificialmente criar notícias contra Lula.

Já tinha sido ventilado que um filho de Sérgio Machado vive em Londres fazendo negócios. A pergunta básica: por que Moro não mandou gente investigar tais negócios?

Foi preciso que um jornal inglês fizesse um trabalho que caberia às autoridades brasileiras incumbidas de cuidar da Lava Jato?

Lembremos que a principal descoberta da Lava Jato também foi feita por gente de fora: as contas secretas na Suíça de Eduardo Cunha. A revelação das contas acabou com o maior foco de corrupção da política nacional, Eduardo Cunha.

Os 90 milhões ligados à família Machado não interessam a Moro, à Lava Jato e muito menos à mídia brasileira.

Sérgio Machado não interessa, na verdade. Porque ele não tem nada a ver com Lula. Em sua delação ele mexeu com caciques do PMDB e do PSDB. Então, não serve.

Machado citou propina para Temer. Disse textualmente: “Quem não conhece o esquema do Aécio?” Afirmou também: “Fui do PSDB por dez anos. Não sobra ninguém.”

Ou seja: ele disse tudo que Moro e a mídia não queriam ouvir.

Como era de imaginar, ele sumiu da mídia e da Lava Jato. Até que o Guardian o devolveu espetacularmente ao noticiário.

A resposta miserável de Moro aos imóveis de luxo comprados pelo filho de Machado em Londres com dinheiro sujo foi a cozinha do sítio de Atibaia.

É uma resposta que conta tudo sobre Moro e sobre a mídia brasileira.


Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Diário do Centro do Mundo   -   DCM

Venda de Carcará: Petrobras perdeu hoje mais do que com a Lava Jato inteira



POR FERNANDO BRITO · 29/07/2016



O governo Michel Temer e o gestor que ele colocou na Petrobras, o ex-ministro do apagão Pedro Parente tiraram, hoje, da Petrobras, mais do que todos os desvios de paulo Roberto Costa, Pedro Barusco, Nestor Cerveró e todos os outros ratos que roeram o dinheiro da Petrobras nos casos investigados pela Operação Lava Jato.

A venda do campo de Carcará para a norueguesa Statoil é um desastre que pode see explicar com uma conta muito básica.

Mesmo a 50 dólares o barril, campos como Carcará – onde os estudos já apontaram para uma produção superior a 35 mil barris diários por poço – remetem a um custo mais baixo do que a média já fantástica de US$ 8 dólares por barris atingida no pré-sal. Depois de pagos royalties (Carcará é anterior à lei de partilha), impostos, custos de transporte e tudo o mais. é conta muito modesta estimar um lucro de US$ 5 por barril. Pode até ser o dobro.

Carcará teve colunas de rocha-reservatório até quatro vezes mais extensas que Sapinhoá (ex-Guará) e sua metade oeste, onde estão os poços, tem mais ou menos a mesma área. Sapinhoá tem uma reserva medida de 2,1 bilhões de barris de óleo recuperável, isto é, que pode ser extraído.

Pode, portanto, ser maior, muito maior.

Ma já se Guará tiver o mesmo, apenas o mesmo, faça a conta: lucro de mais de 10 bilhões de dólares, a cinco dólares por barril.

Ou R$ 33 bilhões, ao dólar de hoje. Como a Petrobras detinha 66%, dois terços, da área, R$ 22 bilhões.

Pode ser mais, muito mais, esta é uma conta conservadora.

Este campo foi vendido por R$ 8,5 bilhões, metade a vista e metade condicionada à absorção de áreas vizinhas, dentro do processo que, na linguagem do setor, chama-se “unitização”, quando o concessionário leva as áreas nas quais, mesmo fora do bloco exploratório original, a reserva petrolífera se prolonga, na mesma formação geológica.

Como o valor estimado das roubalheiras na Petrobras ficou na casa de R$ 6,2 bi, nos cálculos folgados que se fez para a aprovação de seu balanço, tem-se uma perda de mais de duas Lava Jato.

Sem incluir na conta as centenas de milhões de dólares gastos na perfuração dos três poços pioneiros – muito mais caros que os de produção normal – e nos estudos e sensoriamentos geológicos que fez para determinar o “mapa” da reserva.

Reproduzo, por definitiva, a frase do professor Roberto Moraes: “o que é legal pode ser muito mais danoso que o ilegal”.

Ontem, Parente pediu pressa no fim da lei da partilha. Hoje, vendeu Carcará.

Fez, assim, da Petrobras a única petroleira do mundo que diz que não quer lugar cativo nas melhores jazidas de petróleo descobertas neste século. Faz dela a única que dá, a preço de banana, o que já tinha do “filé” do filé do pré-sal.

PS. Para saber mais sobre Carcará, veja posts deste blog , aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.



Tijolaço

sexta-feira, 29 de julho de 2016

The Guardian: filho de Machado, “caixa” da propina, gasta R$ 90 milhões em imóveis no Reino Unido



POR FERNANDO BRITO · 28/07/2016




O jornal inglês The Guardian investigou e publica hoje um relatório sobre os negócios imobiliários de Sérgio – o filho de Expedito Machado , o ex-tucano que dirigia a Transpetro e que ficou conhecido do país inteiro pelas gravações que fez de diálogos com Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney.

Sérgio gastou 21 milhões de libras, ou R$ 9o,2 milhões, em negócios imobiliário em 2014 e 2015, a compra de edifícios de escritórios na City londrina, na Fleet Street, rua central de Londres, um apartamento em Mayfair e um terreno ao lado do canal na zona portuária de Leeds.

Do The Guardian (espero que logo alguém traduza melhor que eu e o Google):

Próximo de seu pai e com vontade de segui-lo na política, Expedito começou a atuar como um intermediário em 2007, ajudando coletar propinas de empreiteiros. Sua declaração de testemunha diz que seu pai, depois de assumir seu cargo na Transpetro, quando ele perdeu sua cadeira no Senado em 2003, foi “pressionado a obter fundos ilegais de políticos que o tinham apoiado”.
A maioria dos fundos foram entregues aos membros eleitos do partido brasileira Social Democrata de centro-direita (PSDB), sob cuja bandeira Machado tinha sido eleito para o Senado. Mas parte do dinheiro foi reservado para financiar sua futura campanha para se tornar um governador de Estado. Foi “seu sonho”, de acordo com o seu filho.

Ao longo dos cinco anos seguintes, a família depositou R$ 72 milhões em uma conta no HSBC em Zurique. Aberta em 2007, a conta foi controlada por um fundo criado pelo banco, a pedido de Expedito.

O dinheiro foi transferido do HSBC para outro banco suíço Julius Baer, ​​em 2013. Lá, foi aplicada em fundos de investimento.

No ano seguinte, Expedito decidiu mudar seus “ativos” de fundos para propriedades. “No final de 2014, ele decidiu começar a fazer investimentos em imóveis na Europa e foi aconselhado por advogados que a melhor estrutura fiscal seria através de trustees, afirma o depoimento de Expedito.


Tijolaço

Ciro: sou candidato

Como Cunha e Temer operavam os jabutis das medidas provisórias


publicado 28/07/2016


O Conversa Afiada reproduz trechos da entrevista que Ciro Gomes deu a Mino Carta, no Facebook da Carta Capital.

Foi um relançamento do programa "Cartas na mesa", que Mino dirigiu e apresentou na TV Record - e que saiu do ar no glorioso período da “redemocratização”, por ordem do então ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, que Tancredo escolheu e Sarney manteve:


- Eu sou candidato. Sou candidato a presidente do Brasil. Quero ser. Acredito que amadureci, tenho condição de servir ao país oferecendo uma alternativa de projeto ao país e, naturalmente, uma vivência com a experiência que eu já tenho. Eu sei que esse "querer forte" que eu tenho de ser presidente do Brasil não é suficiente. É preciso que a candidatura tenha alguma naturalidade, que ela seja recebida pela sociedade brasileira como útil à construção de um debate. Mas a minha vontade firme é de ser.

***

- Eu luto pelo dia em que nosso povo acorde, levante-se. E ainda tá em tempo. Não estamos defendendo o governo Dilma. Nós estamos defendendo o direito de nós, o povo, mandarmos no nosso destino.

***

- O PT tá paralisado. Tá meio catatônico, meio paralisado, porque você tem um lado que, infelizmente, chafurdou no pragmatismo irresponsável e corrupto. E esse lado se sente autorizado a isso, porque testemunhou a vida inteira o outro lado fazer. Só que ele nunca aprendeu duas coisas. Primeiro, que o outro lado fazia porque fazia parte do grande lado plutocrata brasileiro e era por ele protegido. (...) A turma do PT, de um certo momento, se imaginou sócia também. Foi um ledo engano. Porque o pecado do pecador, você desculpa, você perdoa. Mas o pecado do pregador, que passa o dia inteiro falando da moralidade, da lei, se oferecendo como vestal e exemplar... Esse é um lado. O outro, sofre o constrangimento da solidariedade com esse primeiro. Então eu imagino companheiros queridíssimos meus, gente séria (...) estão comendo o pão que o diabo amassou, envergonhados. Mas a saída não é essa catatonia. É ir à luta!

***

Mino: Digamos que Dilma volte à presidência. O que a espera de fato? A possibilidade de governar é remota...

Ciro: Não remota. Há uma aversão muito poderosa na medida que ela, no primeiro dia de governo, num presidencialismo altamente patológico como o nosso, ela não consegue juntar um terço dos deputados, ficou essa sensação de que ela não é capaz de governar. Mas o presidencialismo, que tem todos os seus defeitos, tem essa virtude: se ela volta, ela terá voltado porque a maioria do povo constrangeu o Senado Federal a recuar desta aventura golpista.

***

- Tenho três razões para não me entusiasmar com essa ideia do plebiscito. Embora compreenda a nobreza que é trazer o povo para resolver este colapso que a elite política brasileira está produzindo de forma absolutamente enojante. É simpático, é charmoso, mas quais são as três ideias? Uma, é objetiva (...) Eu sou um possível candidato? Como é que eu vou, agora, sendo interessado no assunto, defender que se antecipem eleições? Eticamente eu me sinto inibido de defender uma coisa que parece que atende ao meu interesse, ser candidato. Segundo, o que importa nestas questões de confusão é o apego à regra. O apego à regra não é irrelevante. Suponha que amanhã o brasileiro me escolha a ser o presidente. Portanto eu preciso da regra muito forte, muito respeitada, para eu encostar minhas costas e brigar só pela frente. E terceiro, vamos ao pragmatismo de quem conhece o ramo: para isso passar, teria que o congresso por dois terços, ainda fortemente influenciado pela picaretice do Eduardo Cunha. Isso não passa. (...)

***

- O que tá armado é que esse golpe não foi feito a favor do Michel Temer. Foi feito contra nós. Contra a Dilma. Contra o povo brasileiro. Contra o interesse nacional. Se o Michel Temer fracassar, como é provável, eles vão é cassar a chapa Temer-Dilma de dezembro pra frente, e vão fazer esse Congresso votar pela via indireta.

***

- Isso tudo está aí porque o que tá aí atende aos interesses da minoria organizada, ativa, informada, e nós outros somos o povo que só serve na véspera da eleição. Aqui está a chave: você tem que fazer duas ou três reformas só, convocar a sociedade diretamente para ajuizá-las através de coisas que estão previsas na constituição - plebiscitos e referendos, que são a prática moderna no mundo inteiro, e que a elite brasileira, para manter as coisas como estão, estigmatizou como chavismo.

***

- Agora, o monopólio das mediações midiáticas já não existe mais. Nós estamos falando aqui e, se eventualmente houver alguma coisa mais interessante, as pessoas vão replicar essa nossa conversa por todo o mundo. Ou seja, não estamos mais vulneráveis ao que a Dona Globo mandou dizer e engolimos à força. 

***

Sobre o Judiciário:

Mino: Não lhe caberia defender a lei? Ser uma espécie de sentinela da Constituição?

Ciro: Essa é a grande tarefa do Supremo, que é o guardião da Constituição. (...) Porém, eu o absolvo relativamente, porque eu não gosto da ideia de judicializar a política. Agora, é fato claro que, se se está cassando uma Presidenta da República sem o cometimento de crime de responsabilidade, claramente é tarefa do Supremo Tribunal Federal esclarecer isso. Nem que seja para afirmar que isso é crime de responsabilidade e mudar a orientação da lei. Mas hoje, é preciso não culpar ainda o Supremo, porque isso será apresentado ao Supremo se o Senado consumar esse desatino.

- Juiz bom não é juiz xerife. Juiz bom é o juiz severo, que fala nos autos, que sustenta suas decisões com base na lei interpretada de forma absolutamente clara e transparente, que obedece aos princípios gerais do Direito.

***

Mino: Quem manda mais: Cunha ou Temer?

Ciro: Cunha. Tá em declínio, decadência franca, o Temer já o está traindo, como é da natureza de um traidor - trai um, trai mil. Mas ele é homem do Cunha. Eu sei bastante bem o que tô lhe dizendo.

Mino: Me diga mais, então.

Ciro: Se quiserem, qualquer pessoa pegar na internet e procura, no período que eu fui deputado. Eu fui colega do Michel Temer, então presidente da Câmara, e colega - olha como eu me odeio, fui obrigado a chamar o Eduardo Cunha de Vossa Excelência, colega dele. Mas também chamei ele de ladrão a uma distância menor que essa. Fui processado por ele, sustentei na Justiça, porque eu sei que ele é, e hoje o Brasil inteiro tá sabendo, e ele usou o Michel Temer como testemunha dele, no processo. Não por acaso, o sócio dele. Mas eu também sei dele andando aqui em São Paulo com saco de dinheiro, os dois juntos, resolvendo problemas de políticos e etc. Essa equação basicamente funcionava, antigamente, assim: o Michel pegava uma Medida Provisória que o governo mandava - ele presidente da Câmara - entregava pro Eduardo Cunha relatar, Cunha pegava qualquer interesse dos lobbies plutocratas do Brasil, enxertava em assuntos absolutamente impertinentes uma emenda que atendia aos interesses desses grupos plutocratas, e recebia o dinheiro e distribuía pros colegas. (...) Eles chamam de jabuti, na Câmara. No Minha Casa Minha Vida, acho que foi, ele apresentou uma emenda - foi quando eu chamei ele de ladrão - criando um crédito retroativo de devolução do IPI-Exportação, com lobbista da FIESP andando lá dentro - eu apontei ele lá - equivalente a quase 80 bilhões de reais. Deve ter levado aí uns 500 mil ou 50 milhões, eu sei lá quanto. Embora tenha sido vetado depois, eu pressionei, fui à tribuna, esculhambei e tal. E ninguém liga. Mas depois ele foi se especializando. Aí ele foi replicar o que ele já tinha feito lá atrás, com Collor, em que ele teve a TELERJ no Rio e saiu debaixo de escândalo. Conseguiu do Lula, na chantagem - e isso eu não perdoo o Lula - dominar Furnas.

Mino: Mas por que chantagem?

Ciro: Chantagem porque forçou a mão. O Lula me disse. Eu disse pra ele, "Lula, esse cara é um bandido, cê não vai entregar Furnas pra ele que ele vai dominar a Câmara". Esse é o meu sofrimento. (...) Ele falou "não, não vou dar de jeito nenhum". No dia seguinte, nomeou. Nomeou o cara pra Furnas. Aí... Furnas distribuiu 60% da energia brasileira.

***

Mino: Mas o que ele tinha na mão?

Ciro: Não creio que no caso do Lula fosse uma denúncia, não. Agora, do que ele tem na cozinha pro Michel Temer, ele tem o Temer na mão. E ele sabe de 1500 coisas imundas do Michel Temer que o derrubariam. (...) No caso do Lula, acho que foi (...) apoio no Congresso.

***

Sobre Temer:

- Ele é uma grande mentira. (...) E ele é basicamente o representante desse lado fisiológico, clientelista e corrupto do PMDB. E o país precisa de uma coisa oposta. Parte da decepção do povo com Dilma é a frustração em função de escândalos. Ele vai responder pela decência? Só ver o Governo que ele montou, é uma quadrilha! Com exceções aí, o Meirelles não é da quadrilha, tem alguns que não são, mas o resto é quadrilha. (...) Mas se você olhar Moreira Franco, Romero Jucá, Eliseu Padilha, isso é gente de coisa muito ruim. Coisa muito ruim e velha, antiga, sabe? Manjada. Não é possível esperar daí nada se não escândalo, falta de austeridade e tal.

***

O Meirelles é, basicamente, um homem de banco. Boa pessoa, não o vejo numa categoria tão deplorável como o conjunto do Governo - a partir do próprio Temer.

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Se a população não quer defender a Democracia em abstrato, venha defender o seu emprego, seu direito de ir pra casa depois de 8 horas de trabalho, de ser remunerado por hora extra, de receber licença-maternidade... Tudo isso pode ser revogado e você terá que trabalhar 12 horas por um salário menor.

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Esse neoliberalismo mofado do Brasil quer repor a ideia do trabalho como uma commodity. 

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Precisamos cobrar um tributo - que FHC revogou - sobre heranças e doações e um tributo sobre lucros e dividendos - o Brasil é o único país da OCDE que não tem.

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O melhor é criar um mecanismo de financiamento de cooperativas de jornalistas, produtores culturais, mudar a lógica de distribuição da verba publicitária - para que ela não seja proporcional à audiência, mas crie estímulos à inovação, à rebeldia. Isso tudo eu sei fazer e funciona.

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A propriedade cruzada de meios é uma perversão que o país precisa interromper.


Conversa Afiada

A hipocrisia brutal de Villa para fugir de Lula. Por Paulo Nogueira

Postado em 28 Jul 2016

Empulhação no grau máximo

A plutocracia brasileira não é apenas corrupta, predadora e compulsivamente golpista.

É também brutalmente hipócrita.

Um pequeno grande exemplo é o de pseudo-historiador Marco Antônio Villa. Villa foi um dos nomes recrutados pelas companhias de mídia em seu jornalismo de guerra contra o PT.

Do nada a que pertencia por mérito Villa se tornou um comentarista multimídia: rádio, tevê, jornal, internet. Sempre com uma função: agredir o PT, particularmente Lula.

Villa se tornou uma fábrica de injúrias e difamações, com sua vozinha fina como a de Moro e sua completa inconsequência em acusar sem provas.

Depois de uma eternidade, Lula fez o que deveria ter feito há muito tempo: processou Villa. Onde as provas?

Soube hoje que Villa recorreu a uma manobra jurídica para escapar de Lula. Até aí, tudo bem.

O extraordinário, pelo despudor canalha, é a argumentação de Villa na peça. Ele afirma que não teve a intenção de “enxovalhar” a imagem de Lula.

Quem acredita nisso acredita em tudo, na grande frase de Wellington.

Um juiz sensato deveria rechaçar o pleito de Villa apenas por causa daquela mentira cínica.

Qual foi sua intenção ao chamar Lula cotidianamente de barbaridades como chefe de quadrilha e réu oculto do Mensalão? Promover Lula? Melhorar sua estoestima? Elevar o nível do debate político nacional?

Villa só não destruiu Lula porque é insignificante.

É o farisaísmo o que mais incomoda em Villa e na direita. Seria mais honesto e transparente a Globo, a Veja, a Folha dizerem: “Perseguimos Lula porque ele se preocupa com os pobres e, se depender dele, nossas mamatas estão em risco.”

Esta é a verdade real.

Eduardo Cunha, por exemplo, sempre foi um conhecido larápio na política. Mas a mídia jamais se incomodou com isso, mesmo quando ele ganhou o vital posto de presidente da Câmara. Um ladrão na linha de sucessão presidencial: e daí?

Mas ele foi preservado e protegido pela imprensa porque é um fâmulo da plutocracia. Roubou para si, mas muito mais para os plutocratas.

Por isso teve vida mansa, e ainda hoje está aí livre, oferecendo churrasco numa mansão em Brasília paga pelo contribuinte que já deveria ter abandonado há muito tempo.

Com Lula é o extremo oposto.

Tipos como Villa, contratados em massa pelo jornalismo de guerra pós-2003, chacinam Lula ininterruptamente.

É uma coisa indecente, e ainda mais quando somos forçados a ouvir de fâmulos dos barões da mídia como Villa que a intenção não era “enxovalhar”.

Repito: apenas por isso, a mentira no grau máximo de empulhação, o pleito de Villa deveria ser rasgado em pedaços, em praça pública.

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.



Diário do Centro do Mundo   -   DCM

A defesa final de Dilma, na Comissão em que não se ouve nada


POR FERNANDO BRITO · 28/07/2016



O jornalista Tales Faria, ontem, deu a melhor definição do que será a apreciação da defesa da presidente afastada Dilma Rousseff na comissão do impeachment: Defesa de Dilma vai falar para surdos.

Porque, disse ele, digo eu e dirá qualquer um, ” a maioria dos senadores já não presta qualquer atenção aos argumentos da defesa.”

A ordem é matar e quem vai confirmá-la sabe que participa de um assassinato político.

Pode ser – já eu duvido muito de tudo e muito mais ainda da mixórdia que se transformou a representação parlamentar – crises de consciência, mas é improvável.

E Dilma optou pelo papel digno, que pode ser um erro no momento mas sempre é um acerto na história.

Não li – seria impossível, são 536 páginas, que podem ser acessadas aqui – mas correndo os olhos separei um dos trechos finais que retrata esta indiferença e ressalta a dignidade de quem vai à morte sem súplicas ou sem por-se de joelhos:

Nesse momento, estas páginas são escritas para o julgamento que se trava no parlamento e também para a história. Ao serem lidas hoje e no futuro, os leitores darão o seu veredictum.

O julgamento que será feito pelo parlamento brasileiro dará a sua sentença. Ela poderá ser coincidente ou não com a sentença que, no futuro, será dada pela história.

Qualquer pessoa isenta que venha a compulsar estes autos não terá a menor dúvida acerca de qual será o veredictum histórico acerca deste processo de impeachment.

As acusações dirigidas contra a Sra. Presidenta da República, Dilma Rousseff, são pífias e manifestamente improcedentes. São meros pretextos retóricos utilizados para que ela seja retirada do mandato que lhe foi outorgado pelo povo brasileiro.

Os decretos de abertura de crédito suplementar são atos comuns praticados dentro de uma rotina que existe há mais de uma década. Desde a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal (2001), todos os governos os praticaram, com as mesmas características com que foram editados pela nossa atual Presidenta da República. Nunca nenhum técnico ou jurista levantou a mais leve suspeita de que seriam ofensivos à lei. O próprio Tribunal de Contas da União aprovou as contas dos Presidentes que os praticaram. Por isso, todos os pareceres técnicos que fundamentavam estes atos administrativos afirmavam que eram absolutamente válidos.

Foram, por isso, assinados pela Sra. Presidente da República, sem dolo ou mesmo culpa. Assinou o que todos os que a antecederam assinaram. Assinou amparada na opinião de todos de que aqueles atos não tinham nada de irregular ou ilícito. (…)

E, por isso, estas mesmas páginas responderão à pergunta feita logo ao início destas alegações: é possível um impeachment presidencial ser um golpe de Estado?

Sim, é possível, responderão as páginas deste processo. Demonstrarão para os cidadãos de hoje e para a história, independentemente do seu resultado, que é possível sim.

Basta que pessoas que temem as urnas se unam com pessoas que perderam nas urnas, unindo seus objetivos, à revelia do povo, para que se possamos montar a farsa de uma destituição ilegítima de um governo legítimo. Uma farsa que teme ser desvelada e por isso não aceita ser chamada pelo nome que melhor a identifica na linguagem dos povos: golpe de Estado”.

Creio que não estamos assistindo o martírio de uma inocente, mas o comportamento estóico de uma mulher digna.

São seis os votos que precisa e mais de 20 os ministérios que teria a oferecer como nacos de sua eventual volta ao Governo.

Mas a “cintura” que faltou a Dilma em seus cinco anos de governo é, agora, a espinha dorsal que não se dobra.

O velho Getúlio Vargas não desprezava a política.

Mas houve uma hora em que teve a coragem de dar-se um tiro no coração.


Tijolaço

Odebrecht vai denunciar Alckmin, Pezão, Cabral e Pimentel, diz O Globo




POR FERNANDO BRITO · 29/07/2016



Na manchete de O Globo, os depoimentos do acordo de delação premiada de , executivos da construtora Odebrecht, inclusive o de seu ex-presidente Marcelo Odebrecht, apontarão, segundo o jornal mais de cem deputados, senadores e ministros, entre outros políticos, como beneficiários diretos de desvios de dinheiro público, e dez governadores e ex-governadores, entre eles o do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB); o de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB); e de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ).

Os depoimentos começam hoje, a tempo de serem vazados para as revistas semanais. Ou não, dependendo “de quem” disserem.

O curioso é que o jornal diz que “as negociações avançaram (…) depois que advogados da empresa informaram ao Ministério Público Federal que estavam conseguindo recuperar os arquivos eletrônicos do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, destinado a pagar propina a pedido de outras áreas da empresa”.

Realmente deve ser interessante o processo que leva uma grande e propineira empresa a fazer este esforço para produzir provas contra si mesma.

Como é interessante que o sistema eleitoral brasileiro, dominado pelo financiamento privado das campanhas – defendido com unhas e dentes pelo O Globo e pela mídia em geral – fosse mantido com este dinheiro.

E ainda muito mais interessante é que, nas apurações do jornal, Lula não tenha sido citado. No próximo post, veja como isso não é notícia.


Tijolaço

“Homem de causas célebres”: quem é Geoffrey Robertson, o advogado de Lula na ONU. Por Kiko Nogueira

Postado em 28 Jul 2016

Cristiano Zanin e Geoffrey Robertson na sede do Comitê de Direitos Humanos da ONU, em Genebra

Geoffrey Robertson, contratado pela defesa de Lula para representá-lo na Comissão de Direitos Humanos da ONU, já advogou para Julian Assange, dono do Wikileaks, para o ex-lutador de boxe Mike Tyson e para o autor indiano Salman Rushdie.

Robertson foi duro com Sérgio Moro. “Seus telefones, os de usa família e advogados estão grampeados. As transcrições, bem como o áudio das conversas, estão sendo liberados para uma imprensa hostil. O juiz está invadindo sua privacidade e pode prendê-lo a qualquer momento e, em seguida, pode ser julgado sem um júri”, disse ele.

“Na Inglaterra, nenhum magistrado poderia agir dessa maneira. Ele age como uma comissão anticorrupção de um homem só.” É a primeira vez que um brasileiro recorre a essa instância para questionar as instituições do país.

Quem é Geoffrey Robertson?

Resumindo, ele está do lado oposto ao de Moro no sentido profissional e filosófico. O Independent fez um bom perfil dele na época do imbroglio Assange. Destaco alguns trechos:

. “A transparência conduz a um governo melhor.” Essas palavras poderiam ter vindo de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, preso e detido em Londres, aguardando a extradição para a Suécia acusado de estupro. Mas elas podem ser encontrados nas memórias do homem que se mantém entre Assange e o processo no exterior: Geoffrey Robertson.

. Aqueles que têm seguido a carreira de Robertson não ficaram surpresos ao vê-lo encurtando suas férias para vir defender seu compatriota australiano. 

. Para Robertson, “a justiça é um grande jogo porque proporciona a oportunidade de ganhar do mais poderoso, do próprio estado. Isso não significa que Davi vai necessariamente matar Golias, mas as leis da batalha irão impedir Golias de matar Davi de maneira desleal”.

. Geoffrey Ronald Robertson nasceu em 1946 e cresceu em uma casa confortável nos subúrbios de Sydney. Ele quis entrar para o direito depois de ler o processo de Lady Chatterley em 1 960 e de ver o desempenho do advogado de defesa, Gerald Gardiner.

. Afligido por acne quando adolescente, ele não socializava muito e desenvolveu os hábitos de um workaholic. Robertson era um aluno sério, com, em suas próprias palavras, “uma perspectiva individualista e um pouco puritana”.

. Ele chegou ao Reino Unido em 1970, achando que a bolsa de estudos em Oxford seria um “desvio agradável” antes de iniciar uma carreira em Sydney. Acabou ficando na Inglaterra. 

. Iniciada em 1973, sua carreira no Reino Unido é notável, com várias causas célebres. Em 1978, ele defendeu dois jornalistas acusados de violar segredos oficiais quando entrevistaram um oficial de inteligência. A absolvição dos jornalistas foi uma vitória histórica para a liberdade de imprensa. 

. O foco de Robertson se deslocaria para os direitos humanos e a responsabilização dos governos. Na década de 1990, ele defendeu os quatro diretores da fábrica de ferramentas Matrix Churchill acusados ​​de fornecer ilegalmente armas a Saddam Hussein. O julgamento entrou em colapso depois que o juiz rejeitou as tentativas por parte do governo de suprimir documentos-chave. Um inquérito judicial subsequente descobriu que ministros tinham realmente encorajado a venda de armas. 

. Robertson esteve no centro das atenções novamente quando defendeu o jornal The Guardian num processo de difamação movido por Neil Hamilton, do Partido Conservador.

. Houve outros casos menos famosos, mas não menos importantes. Como QC [Conselheiro da Rainha, cargo honorífico], ele processou o ditador malauiano Hastings Banda e defendeu dissidentes detidos por Lee Kuan Yew, de Singapura. 

. A vida privada de Robertson tem sido tão agitada quanto a pública. Seu casamento com a romancista australiana Kathy Lette o manteve nos holofotes da mídia. Os dois se conheceram em Brisbane em 1990, quando participavam de um programa de televisão na Austrália. Ambos estavam em relacionamentos naquele momento, Robertson com a chef Nigella Lawson e Lette com o executivo de televisão australiano Kim Williams. “Os opostos se atraem” é a explicação de Robertson para a união improvável do advogado liberal com a autora de obras como “Atração Fetal” e “Homens – Um Guia do Usuário”. O casal tem dois filhos, Georgina e Julius. 

. Robertson escreveu livros polêmicos. Um deles era um julgamento do papa e do Vaticano, outro um trabalho histórico acadêmico sobre John Cooke, o advogado que assumiu a tarefa de processar Charles I após a Guerra Civil inglesa.

. Robertson não é para todos os gostos. Direitistas não gostam dele. Católicos ficam irritados com seu antipapismo. E o apoio de longa data ao intervencionismo militar humanitário como um meio de levar os criminosos de guerra e violadores dos direitos humanos à justiça levou-o a uma posição um pouco estranha sobre o Iraque. Na edição de 2006 de seu livro “Crimes Against Humanity” ele fala da “retidão moral de derrubar Saddam Hussein e a ilicitude dos meios utilizados para fazê-lo”, com a implicação de que o erro de George W. Bush foi apenas de usar a justificativa errada para o invasão.

. Em suas memórias, ele descreve como, na sua opinião, a lei pode servir como uma “alavanca para a libertação”. É uma filosofia que orienta toda a sua carreira, seja na corte, no estúdio de televisão, ou nos livros. Seus hobbies são tênis, ópera e pescaria.

Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.


Diário do Centro do Mundo   -   DCM

ONU vai notificar o governo brasileiro





Conversa Afiada

DELAÇÃO DA ODEBRECHT COMEÇA E ATINGE TODO O SISTEMA POLÍTICO BRASILEIRO


Nesta sexta-feira, começa oficialmente a delação premiada da Odebrecht, que será feita por 50 executivos da empreiteira em todo o país e atingirá cerca de 100 políticos; entre os alvos, além do ex-presidente Lula e da presidente eleita Dilma Rousseff, estão líderes da oposição, com o senador Aécio Neves (PSDB); na lista, há tambémpelo menos dez governadores e ex-governadores, incluindo o tucano Geraldo Alckmin (SP), Fernando Pezão e Sérgio Cabral (PMDB), do Rio

29 DE JULHO DE 2016 


247 - Nas negociações de delação premiada com a Lava Jato, executivos da Odebrecht, incluindo o ex-presidente Marcelo Odebrecht, apontaram mais de cem deputados, senadores e ministros como beneficiários direto do esquema de corrupção ou por vantagens, como repasse de verbas para campanhas.

Segundo reportagem de Jailton de Carvalho, na lista, há pelo menos dez governadores e ex-governadores, incluindo o tucano Geraldo Alckmin (SP) e Fernando Pezão, do Rio (PMDB). Entre os ex-governadores, o nome de Sérgio Cabral (PMDB) também foi citado.

Os depoimentos estão previstos para começar hoje e são os mais temidos desde o início da operação. A empresa atua em contratos com administração pública dos três Poderes. Só ano passado, faturou mais de R$ 130 bilhões no Brasil e no exterior.

Segundo o colunista Merval Pereira, conjunto de delações implicará tanto o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff, como líderes da oposição, com o senador Aécio Neves (PSDB).



Brasil 247

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Lula fez muito bem em denunciar Moro ao mundo. Por Paulo Nogueira

Postado em 28 Jul 2016

Juiz partidário

Num mundo menos imperfeito, Lula jamais teria que recorrer a um tribunal internacional para se defender de acusações que lhe são feitas no Brasil.

Mas este mundo em que vivemos é muito imperfeito — e isto quer dizer que Lula agiu muito bem em bater nas portas da Comissão de Direitos Humanos da ONU.

No centro do apelo de Lula está o que todos sabem, embora poucos falem: Moro é um juiz parcial, tendencioso, inconfiável.

É um juiz da plutocracia, um homem que não faz cerimônia nenhuma em aparecer ao lado de homens como os irmãos Marinhos em celebrações.

É evidente que ele vai condenar Lula, quaisquer que sejam as circunstâncias, se puder. Condenar e prender.

Os fatos não contarão nada, assim como no julgamento de Dilma pelo Senado.

Moro é um juiz da linha de Gilmar Mendes. Você consegue ver Gilmar julgando qualquer causa relativa ao PT que não seja com uma tonitruante condenação?

É uma medida extrema a de Lula, mas tempos excepcionais demandam ações igualmente excepcionais, para lembrar a grande frase do rebelde britânico Guy Fawkes.

Fingir que Moro e a Lava Jato são neutros só serve à plutocracia e a ambos, Moro e Lava Jato.

Um dos erros graves de Dilma e do PT não foi, lá para trás, ter reagido à altura quando se caracterizaram os abusos da Lava Jato. Não tardou que ficasse claro que o objetivo de Moro era extirpar Lula, Dilma e o PT — e não a corrupção.

Dilma, Lula e o PT sempre contemporizaram com a farsa de Moro e da Lava Jato, dentro de uma estratégia fracassada de republicanismo suicida.

Coube a Lula, ainda que com atraso, dizer verdades sobre Moro, primeiro no plano interno e agora no cenário internacional.

As pessoas lá fora desconhecem o que se passa no Brasil. O jornalista americano Glenn Greenwald disse nunca ter visto uma mídia como a brasileira. Ele só viu o horror por viver aqui. O advogado australiano contratado por Lula foi na mesma linha: disse ser inconcebível, em sua terra, um juiz como Moro.

Vivemos uma guerra movida pela plutocracia. O jornalismo que se pratica nas corporações é de guerra. A justiça que se faz nos tribunais mais elevados é de guerra.

Que essa guerra seja, ao menos, reconhecida e denunciada por suas vítimas.

O recurso de Lula está impregnado de um forte componente simbólico. A direita brasileira tradicionalmente aumenta a violência contra a democracia quando não há resposta a seus ataques.

Lula respondeu. Jogou em escala mundial luzes sobre o caráter de Moro e da Lava Jato.

Moro vai ter que ser mais cuidadoso com seus passos, para não dar completa razão a Lula.

Ele será observado pelo mundo, uma situação nova e desconfortável para quem jamais recebeu nenhum tipo de fiscalização no Brasil e por isso pôde cometer abusos em série.

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Diário do Centro do Mundo   -   DCM

quarta-feira, 27 de julho de 2016

O fascismo neoliberal e a falsa democracia. Por Jari da Rocha





Nossa perplexidade diante da tomada fascista do Brasil, depois de anos de um governo progressista – com todos os defeitos que lhe são inerentes, e no mundo, a partir do avanço da extrema-direita e, também, com as demonstrações de ódio e xenofobia em vários países, nos impede de reagir.

Essa paralisia, típica de choques (golpes), terá sua duração enquanto não entendermos o processo que está engolindo o que até então chamávamos de democracia, termo esse cooptado pelas novas práticas fascistas.

Em meio a essa (nossa) visão embaçada, um elemento, que sempre esteve presente e que fomos incapazes de neutralizar, sequer tocá-lo, se destaca: o capital global.

A figura eleita como forma de ‘tomada de consciência do povo brasileiro”, o gigante que despertara, não é a personificação de um povo que resolveu tomar as rédeas de seu próprio destino vestindo verde e amarelo.

Esse gigante, um monstro enorme com milhões de cabeças, era movido, na verdade, pelo que faz mover o mundo: um deus.

O deus dinheiro que vem nos engolir por dívidas, culpas e por mau comportamento. Subjaz aí, a ideia de que os devedores são culpados por seus pecados de insucesso capital.

Se quer o peixe (nada mais bíblico) aprenda a pescar, mesmo que ninguém lhe queira ensinar. E, por favor, não fale em fome numa hora dessas.

A lógica dos golpes de estado, dos estados de exceção e do autoritarismo que se impõe é pregada, ironicamente, através da palavra LIBERDADE como uma espécie de “operador cristão” da nova governamentalidade neoliberal.

(Curioso observar que o interino Temer usou a palavra ‘confiança’ ao usurpar o governo de Dilma Rousseff)

Assim, possivelmente, possamos entender o porquê da insistente disputa do uso do termo impeachment e sua aura de ‘democracia’.

Os golpes contra governos progressistas, que insistem com o ‘famigerado’ estado do bem estar social, são essencialmente golpes econômicos, mas que se apropriam da fôrma ‘democracia’ para, através da mídia (e sua liberdade de expressão) e da justiça (e sua igualdade para todos) definirem as disputas do campo político sob o disfarce – fascista – da democracia.

São, na verdade, partidos políticos reacionários empenhados e absolutamente comprometidos com as formas “religiosas” docapitalismo.

Por esta razão, já não é mais preciso tanques para impor um golpe de Estado.

Nesses períodos de recrudescimento das liberdades coletivas e individuais é sempre recomendável lembrar Brecht: “A cadela do fascismo está sempre no cio.” E acrescentaria: sempre, mas sob novo disfarce.

E o que houve, então, com esse fascismo que julgávamos extinto desde a 2a. Guerra? Ele se transformou?

Em entrevista ao Instituto Humanitas da Unisinos (Universidade do Vale do Rio do Sinos) o filósofo Rodrigo Karmy Bolton, doutor em Filosofia pela Universidade do Chile, define o fascismo como um humanismo:


O fascismo, diríamos, é um humanismo. Para o fascismo, trata-se de salvar a ‘raça’ que será a última propriamente ‘humana’ que sobreviveu à invasão parasitária dos ‘outros’ (muçulmanos, judeus, índios, negros etc.).

Um regime que não reconhece a lei, porém sua exceção permanente, não conhece a técnica, senão como imperialismo; não sabe do outro mais do que como inimigo; não conhece o exército, senão como aparato policial; converte o silêncio em seu aliado mais forte, combinado com uma estetização completa da vida social; reduz a noção de progresso à extensão de suas rodovias e vislumbra o passado apenas como um mito que, tendo sido esquecido por muito tempo, é reeditado em e como presente.

Leia a entrevista completa de Karmy no site do IHU, que afirma que “o fascismo vive em nossos corpos” e o neoliberalismo, que funciona como um dispositivo, é uma “doutrina aristocrática, pois privilegia os melhores. Um aristocratismo econômico, e não político…”


Tijolaço

Lula aposenta Barbosas, Janôs e Moros




Conversa Afiada

Temer chegou ao fim da linha



27 de Julho de 2016

Por Paulo Moreira Leite



As pesquisas dos últimos dias mostram que mesmo incluindo o esforço para levar o filho de 8 anos na escola, o baú de truques banais para tentar elevar a popularidade de Michel Temer a qualquer preço está chegando ao fim. Com números arrasadores, o Ipsos e o Paraná Pesquisas mostram uma verdade inegável. Quanto mais a população conhece o governo Temer, mais o rejeita. 

Temer sempre foi um político ruim de votos e é claro que isso quer dizer muita coisa numa democracia. Coisas ruins, em geral. Fez a carreira política beneficiado pela presença em aparelhos que lhe garantiam a eleição em pleitos parlamentares, invisível e opaco num máquina de cabos eleitorais profissionais, prefeitos, governadores e empresários amigos que garantiam votos anônimos, inexpressivos e difíceis que são assegurados hoje para serem esquecidos amanhã. Tudo aquilo que a maioria da população rejeita e condena.

Cresceu na fase sem glória e sem moral do velho PMDB que foi a legenda honrada de Ulysses Guimarães e da luta contra a ditadura. Ganhou importância quando gerenciava – o termo é este – uma força sem importância para o povo, apenas para os interesses de uma maioria arrasadora de amebas profissionais. 

Protegido pela opacidade de quem nunca sentiu necessidade de revelar uma ideia, um projeto, Michel Temer se desfaz dia após dias, há dois meses, desde que, sob os holofotes da presidência, precisa dizer a que veio e enfrentar a hora da verdade. Nessa circunstância inevitável, exibe um programa de anti-Brasil. A essência do seu problema é política.

Ele chegou ao Planalto a bordo de um golpe parlamentar, uma suspensão temporária do Estado Democrático de Direito, destinada a permitir a aplicação de medidas de exceção de caráter cirúrgico, que devem ser limitadas no tempo e na profundidade, pois não há condições políticas para ir além disso. 

Desde o primeiro dia, contudo, o governo Temer busca mudanças de outro caráter, que mesmo governadores eleitos, em disputas legítimas e inquestionáveis, teriam dificuldade de realizar. Em países com o perfil sócio-econômico semelhante ao nosso, é mais frequente em ditaduras escancaradas – e não nas envergonhadas.

Ainda que tenham sido inspirados em Margaret Thatcher e Ronald Reagan, as versões sul-americanas mais conhecidas de criação de um Estado mínimo exibidas pelo governo Temer só conseguiram avançar em suas pretensões através da ditadura, da tortura e da violência, da supressão das garantias democráticas. Você sabe de quem estamos falando: Augusto Pinochet, que destruiu no Chile o mais avançado estado de bem-estar social do continente; e Alberto Fujimori, que arrancou a raiz das primeiras iniciativas que vinham sendo construídas nessa direção. Pinochet chegou a La Moneda pelo sangue de um golpe que se tornou uma vergonha mundial desde o primeiro dia -- como tantos exilados brasileiros conheceram na própria carne. Fujimori foi eleito e, após uma série de movimentos demagógicos, cavou terreno para um golpe institucional, origem de uma ditadura corrupta e violenta que seria derrubada com auxílio da Casa Branca, com receio de que o caráter temerário de seu governo levasse a uma situação fora de controle, ameaçando a estabilidade conveniente aos investimentos no país. Nos momentos de megalomania, seus aliados falavam que a "fujimorização" poderia ser uma entendia na América Latina.

Pinochet foi ditador por 17 anos. Fujimori, tudo somado, ficou dez.

Antes disso, porém, ambos tiveram direito a pequenos minutos de glória, permitida a partir de princípios mais flexíveis do que se imagina por parte de quem tinha o dever de negar apoio e consideração. Pinochet foi tratado por Tatcher com honras de aliado preferencial, protegido inclusive no momento em que, deposto, teve de encarar um mandato de prisão por tortura e morte assassinado pelo procurador espanhol Baltazar Garzón.

Ainda em seu posto, Fujimori estufou o peito, em Lima, na cerimônia em que Fernando Henrique Cardoso lhe entregou a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração do Estado brasileiro.

A impopularidade de Temer é recorde pelo prazo mas sua origem é o conteúdo. Trata-se de um programa que jamais teria votos da maioria dos brasileiros para chegar ao Planalto. De caráter socialmente excludente, colonial em sua essência, a rejeição era só uma questão de tempo.

Por mais que a mídia grande tenha feito o possível para esconder a natureza perversa do processo em curso, numa manipulação de informações coerente com um processo que o Prêmio Nobel da Paz Perez Esquivel chamou de golpe branco, a população já compreendeu o sentido do espetáculo. Diariamente, descaradamente, seus benefícios são reduzidos. Conquistas de tempos recentes recentes são ameaçadas – quando não foram suspensas de imediato. Não há nenhuma boa notícia para quem é pobre, dá duro no fim do mês para pagar contas e educar os filhos. A lista é tão longa que o risco de esquecer alguma coisa é real. 


O projeto que limita o endividamento do governo é um programa de recessão permanente. A reforma na Previdência é uma ofensa. A mudança no Minha Casa Minha Vida é um escárnio. A base para cortes no Bolsa Família é uma mentira. O ataque a Petrobras é um crime. O retrocesso na educação é um recuo histórico. O programa de destruição da CLT envergonha qualquer cidadão com orgulho do 13 de maio de 1888.


Nos terroristas de Alexandre Moraes, na suspensão do Whatsapp, no projeto de suspensão de garantias democráticas do Ministério Público, medidas autoritárias ameaçam chegar a vida real. O nome adequado para o financiamento politicamente dirigido a portais da internet é aparelhamento. 


Nefasto por sua própria natureza, o golpe de abril-maio é um desses desafios imensos que o povo de um país está condenado a vencer, de uma forma ou de outra. Se a história conta uma lição é ensinar que cedo ou tarde a maioria consegue impor seus direitos, por mais obstáculos que encontre no caminho.

No Brasil de 2016, a opção mais civilizada e menos traumática também é a mais curta, obviamente. Reside na votação do Senado, que pode transformar o pesadelo dos últimos dois meses num episódio grave mas passageiro. Bastam os votos necessários para derrotar o golpe, abrindo caminho para um plebiscito que poderá realizar aquilo que a quase totalidade da população deseja -- a realização de novas eleições presidenciais. Para além de tramas menores de balcão, disponíveis em qualquer lado, a base dessa decisão será a convicção, por parte de um número razoável de senadores, de que é impossível ignorar que mesmo direitos e prerrogativas de representantes do voto popular estão em jogo num processo que abre caminho a medidas de exceção que ninguém sabe aonde vão terminar.

A hipótese de uma derrota da democracia no Senado é lamentável, deve-se admitir. Seu efeito seria transformar a resistência num processo mais duro e doloroso, ainda que inevitável. Mas, ao contrário do que dizia a filosofia amiga de Pinochet e Fujimori, não há fim da história. Ela sempre pertence ao povo que, nas pesquisas sem truque, já disse com clareza o que pensa de Michel Temer e seu governo.


Brasil 247