quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Youssef é o cara e crime de responsabilidade não vale para o MP, por Janio de Freitas

QUI, 17/11/2016 - 09:34

ATUALIZADO EM 17/11/2016 - 09:37


Jornal GGN – Youssef é o cara. É o grande especialista em lidar com dinheiro alto, inclusive do alheio, por canais secretos. Daí que não se estranha seu silêncio sobre sua riqueza. Quem discorre sobre este fenômeno é Janio de Freitas, em sua coluna de hoje na Folha.

Para Janio, Youssef teria muito o que contar, inclusive para uma força-tarefa do Brasil com outros países mais sérios sobre esta especialidade de Ali Baba das finanças. Mas não. Ele foi liberado, volta à vida e ao gozo dela, como homem rico que é e fica.

Sua contribuição para devastar a Petrobras do pré-sal, o PT e Lula foi substanciosa, sem dúvida. À altura de um pacto. Todos os contribuintes para essa missão vão recebendo o seu prêmio de liberdade e reencontro da vida afortunada. Nenhum é de classe social/econômica desprivilegiada. O que torna ridícula a ideia propagada de que a operação que os incomodou traz ao Brasil a inovação de uma Justiça sem olhares diferenciados para as classes.

Ao contrário, são processos em que um artifício privilegia com a liberdade fácil os implicados da classe social/econômica imune ao que chama, para os de outras classes, de "rigores da lei". O crime não compensa para uns, mas continua compensando para outros.

Ele sai faceiro, já que contribuiu, e muito, para devastar a Petrobras do pré-sal, PT e Lula. Ganha o prêmio do pacto que fez, assim como ganham aqueles que contribuíram para esta missão, e nenhum deles é da classe social que mais perde com tudo isso. A operação Lava Jato inovou, criando um muro que mostra a Justiça mais afeita aos bem-nascidos, que se livram dos “rigores da lei”, fechando os olhos para as outras classes menos favorecidas.

O mesmo não aconteceu com Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro, pois que resistiram mais à coerção aplicada, nada moralmente defensável, para entregarem o grande alvo, aquele que dá chances do grande prêmio. Janio aponta que o conceito de privilégio está arraigado também na concepção de moralidade judicial que conduz a “nova fase” do Brasil.

Um Judiciário que corre para a Câmara, travestidos de salvadores via Lava Jato, para pressionar Onyx Lorenzoni a retirar a possibilidade de crime de responsabilidade de seu relatório. Eles chamam o abuso de “excesso de boa-fé” e não aceitam nem as restrições que também seriam aplicadas para ministros do Supremo Tribunal Federal e o procurador-geral da República.

Leia o artigo a seguir.

na Folha


por Janio de Freitas

É um homem rico. Especialista em lidar com dinheiro alto, próprio e alheio, na obscuridade de canais secretos, é natural o seu silêncio sobre a dimensão da sua riqueza.

Os indícios são suficientes. E a verdade é que ninguém cuidou de identificá-la, em um pacto de interesses entre quem deveria fazê-lo e aquela espécie de Ali Babá que tem atuado, ao longo da vida, com muitas vezes mais do que os 40 da lenda de seus antepassados.

Esse homem rico teria muito o que contar, até para que o Brasil colaborasse com esforços de países mais sérios sobre a especialidade do nosso herói. Mais não disse nem lhe foi perguntado, no entanto, além da missão de um só alvo que seus inquiridores se deram. Ou receberam, de dentro ou de fora.

Por isso, dada por satisfeita a lenta curiosidade que se espichou por dois anos e oito meses, o homem rico volta hoje ao gozo da vida, que para isso lhe tem servido a riqueza.

Alberto Youssef, a rigor, não poderia voltar agora aos seus ambientes. Na grande bandalheira feita por meio do Banestado, do Paraná, cuja apuração e punição nunca chegou ao verdadeiro fim, Youssef recebeu o prêmio de uma delação privilegiada que, porém, significava o compromisso de não voltar ao crime. Ou perderia aquele e qualquer outro benefício futuro.

Delinquente desde a adolescência, Alberto Youssef logo voltaria ao tráfico, pelo menos de dinheiro. Preso outra vez, não poderia ver repetido o privilégio que já traíra. Mas recebeu-o do mesmo Sergio Moro.

Sua contribuição para devastar a Petrobras do pré-sal, o PT e Lula foi substanciosa, sem dúvida. À altura de um pacto. Todos os contribuintes para essa missão vão recebendo o seu prêmio de liberdade e reencontro da vida afortunada. Nenhum é de classe social/econômica desprivilegiada. O que torna ridícula a ideia propagada de que a operação que os incomodou traz ao Brasil a inovação de uma Justiça sem olhares diferenciados para as classes.

Ao contrário, são processos em que um artifício privilegia com a liberdade fácil os implicados da classe social/econômica imune ao que chama, para os de outras classes, de "rigores da lei". O crime não compensa para uns, mas continua compensando para outros.

Com Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro (OAS) o que se passa é a resposta à maior resistência de ambos às formas de coerção –nenhuma moralmente legítima– para entregarem o que faz jus ao prêmio. O mesmo que se passa com outros alheios a delações. O conceito de privilégio está arraigado também na concepção de moralidade judicial que conduz a "nova fase" do Brasil.

Procuradores dessa "operação" correram agora à Câmara, para pressionar o deputado gaúcho Onyx Lorenzoni a retirar, em um relatório seu, a extensão a juízes e procuradores da possibilidade de processo por crime de responsabilidade.

Contra a sua impunidade por abusos ("excessos de boa-fé", dizem) não aceitam nem as restrições que valem para os ministros do Supremo Tribunal Federal e o procurador-geral da República.

Seria muito esperar que Lorenzoni se fizesse notado, não mais pela deseducação de chupar chimarrão em plenário, mas por não ceder à pressão para mais privilégios. E manter no projeto um equilíbrio de justiça. Como deputado do DEM, ele sabe quem faz as coisas compensarem ou não.


Jornal GGN

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