terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Cia de Dança Giselly Andrade - FREVO





Jornal GGN

PHA: MT é só pau nos pobres!





Conversa Afiada

O “Fora Temer” no Carnaval da Globo, agora no Jornal Nacional. Veja



POR FERNANDO BRITO · 28/02/2017



Consegui, agora, o video do Jornal Nacional de hoje à noite, com a reportagem -atrasada – sobre os protestos populares contra Michel Temer.

ASntes, tinha posto o da Globonews.

Como não é jornalismo nem imparcialidade, algum sentido tem.

A Globo não afunda, sabe-se disso desde priscas eras.

O que quer dizer seu movimento é o que temos de descobrir.

Mas vale assistir o vídeo da desfaçatez do “jornalismo atrasado”, abaixo:





Tijolaço

CONDENAR LULA SERÁ MAIS DIFÍCIL QUE A FOLHA PENSA




28 de Fevereiro de 2017

Eduardo Guimarães


Reportagem do jornal Folha de São Paulo publicada nesta terça-feira de Carnaval está chamando atenção pelo ineditismo, pois condena o ex-presidente Lula à prisão em duas instâncias da Justiça e o torna inelegível para a eleição presidencial de 2018. O jornal, como se diz, “dá de barato” a condenação de Lula sem citar que provas sustentariam tal condenação.

A matéria foi feita pela repórter curitibana Estelita Hass Carazzai, que estreou na profissão de jornalista na Folha, em 2009, participando de programa de treinamento aberto a estudantes de jornalismo recém-formados.

Como Curitiba é hoje a cidade mais antipetista do Brasil e a Folha usa uma repórter oriunda da petefóbica classe média curitibana, não surpreendem os erros factuais contidos em uma reportagem jornalisticamente reprovável por usar critérios questionáveis para avaliar os processos em curso contra um ex-presidente da República.

Antes de prosseguir, é preciso ler a matéria.


Vejamos:

“Se seguirem o ritmo de outros processos, as ações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que correm pelas mãos de Sergio Moro podem torná-lo inelegível ainda antes do pleito de outubro de 2018.

Levantamento da Folha nas seis ações da Lava Jato já julgadas em segunda instância mostra que levam, em média, 1 ano e 10 meses até chegarem a um veredicto no TRF (Tribunal Regional Federal) –a partir da denúncia.

Mantido esse ritmo, o petista ficaria inelegível em meio à campanha de 2018 –entre julho e outubro.

A inelegibilidade está na Lei da Ficha Limpa, que estabelece que todo condenado por um colegiado está impedido de se candidatar (…)”

Em primeiro lugar, trata-se de matéria requentada. As informações que figuram nessa matéria já podiam ser encontradas em outra, da revista Exame, publicada em 4 de outubro do ano passado Sob o título Só 3 sentenças da Lava Jato foram julgadas em 2ª instância

A matéria de Estelita, da Folha, diz, quatro meses depois da matéria da Exame, que, agora, são seis os condenados em segunda instância pela Lava Jato. Deve ter havido algum mutirão na Justiça Federal, desde então, para dobrar a quantidade de réus da Lava Jato julgados em segunda instância.

A matéria da Exame, porém, é melhor que a da Folha porque faz ponderações que esta não faz, como, por exemplo, neste trecho:

“(…) Os trâmites na segunda instância, porém, envolvem muitas variantes, como o número de réus condenados e que vão recorrer e o próprio tempo da tramitação do processo com Moro e dos recursos no Tribunal, onde os casos são julgados por turmas de desembargadores – que se reúnem apenas uma vez por semana -, nas quais um magistrado pode, por exemplo, pedir vista para analisar os casos por tempo indefinido (…)”

Ou seja, haverá que usar uma pressa extraordinária e uma irresponsabilidade assustadora para condenar um ex-presidente da República “pela média” das condenações da Lava Jato, principalmente porque, até o momento, surgiram apenas “convicções” a respeito da culpa de Lula nos “crimes” que lhe são imputados.

Alguém pode citar uma única prova de que Lula é proprietário dos imóveis que dizem ser dele? Alguém pode citar o que, diabos, Lula fez para receber como propina imóveis baratos e que ele teria recursos próprios para comprar?

Os imóveis não tem nem mesmo conexão cronológica com atos de Lula como presidente da República. Não existe nem mesmo uma afirmação de qual negócio entre empreiteiras e o governo federal o ex-presidente, sem ter “domínio do fato” – ou seja, cargo de comando –, poderia ter viabilizado em troca da suposta propina.

A celeridade do processo de Lula, como reconhece a matéria da Folha, é tão grande que o juiz Sergio Moro não concordou em adiar nem por um dia depoimento que ele deveria prestar, mesmo que isso implicasse em o ex-presidente ter que faltar à missa de sétimo dia da companheira por 43 anos, então recém-falecida.

Algumas perguntas que a tal Estelita não se fez:

1 – Por que iriam condenar sem provas e em segunda instância um ex-presidente da República que é também o candidato com mais apoio popular para suceder Michel Temer?

2 – Por que o processo de Lula deveria tramitar “pela média” de tempo que tramitaram processos de outros réus da Lava Jato, já que é muito mais complicado devido, justamente, à falta de provas materiais?

3 – Por que a repórter dá como certa a condenação de Lula em primeira instância? Isso não compromete a imagem (risível) de independência que o juiz Sergio Moro tenta passar?

A repórter da Folha afirma que Lula poderia recorrer ao TSE para poder participar da eleição de 2018, conseguir uma liminar como tantos candidatos inelegíveis fizeram. Porém, se essas condenações em primeira e segunda instâncias se concretizassem, o ex-presidente poderia, em tese, até ser preso, já que o STF criou jurisprudência que permite prisão após condenação em segunda instância.

A matéria, portanto, é cheia de furos e de ilações. Pouco jornalismo e muita opinião. E opinião é cabível num blog autoral como este, mas nunca em reportagens de grandes jornais… Certo?

Mas há um outro fator que Estelita não considerou. Mês passado, durante o velório de dona Marisa Letícia Lula da Silva, o Blog conversou com Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula, e foi informado de alguns fatos que podem frustrar os desejos da repórter da Folha e de seus patrões.



Lula teria que ser condenado por Sergio Moro até meados deste ano para que houvesse um tempo menos escandalosamente curto para uma segunda condenação no ano eleitoral de 2018, ou iria parecer ainda mais que ele enfrenta um processo sumário e político.

Porém, no metade desse caminho tortuoso reside uma pedreira. Zanin Martins afirma que dificilmente o Comitê de Direitos Humanos da ONU deixará de acolher a denúncia de Lula de que a Justiça brasileira está sendo usada como “arma de guerra” política contra si.

É isso mesmo que você leu e que Estelita, da Folha, não leva em conta: a ONU deve abrir processo contra o Estado brasileiro por suas instituições estarem perseguindo um ex-presidente. E essa será uma bomba que vai cair no cenário político brasileiro no segundo semestre deste ano, segundo o advogado de Lula.

O efeito prático disso é que o MUNDO estará de olho no julgamento de Lula em primeira instância e, além disso, no Brasil, pode haver uma comoção se usarem um processo criminal sem provas para impedir o povo de votar no mais amado ex-presidente da história da República, segundo Datafolha, Ibope e tantos outros institutos de pesquisa.

O risco que a direita tucano-midiática corre é de haver uma comoção nacional ante uma condenação de Lula sob provas fracas, como ocorreu no julgamento do mensalão. E muito mais porque o tempo se encarregará de acelerar um processo que está surgindo e que foi recentemente noticiado pelo jornal Valor Econômico.

Confira trecho da reportagem.







Esse processo deve se acelerar muito, até o ano que vem. Primeiro porque a crise econômica ainda está longe de terminar devido à crise política; segundo, porque mesmo que a economia melhorasse o golpe vai fazer as pessoas perderem direitos trabalhistas, programas sociais etc; terceiro, porque muitos apoiaram a derrubada ilegal de Dilma caindo no conto do vigário da mídia e dos golpistas de que, ela saindo, o bem-bom da era Lula voltaria. Ou seja, as pessoas apoiaram Dilma esperando que os benefícios dos OITO ANOS de Lula retornassem.

A memória afetiva dos áureos tempos do governo Lula vai se tornar extraordinariamente forte até o ano que vem. A vida dos brasileiros vai piorar muito e mesmo que a economia reaja, ano que vem, todos estarão furiosos com as medidas golpistas de supressão de direitos.

Tornar Lula inelegível ou até prendê-lo na véspera de uma eleição presidencial plebiscitária como a que haverá em 2018 não só poderia desencadear uma guerra civil como desmoralizar de uma forma trágica o Brasil diante do mundo.

Pra mim, amado leitor, não vão ter peito de fazer isso. Correm o risco de provocar comoção social, com multidões na rua exigindo que permitam que Lula se candidate. E protestando furiosamente contra uma sua impensável prisão arbitrária.

Baixem a bola, golpistas. Não é assim que a banda vai tocar. Escrevam o que estou dizendo – lembrando que desde 2015 eu vinha dizendo que Lula iria se fortalecer eleitoralmente, como todos estão vendo, ouvindo e sentindo acontecer.




Brasil 247

MÍDIA SE DESESPERA E PEDE QUE JUDICIÁRIO CONDENE LULA E CONCLUA O GOLPE

LULA REBATE ESTADÃO: CURANDEIRISMO JURÍDICO

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Jobim verbaliza no Estadão o corte das asas de Moro


POR FERNANDO BRITO · 26/02/2017



Nélson Jobim está longe de ser esquerdista, muito menos santo de meu altar.

Foi ministro da Defesa dos governos Lula e Dilma, mas também foi Ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, que o nomeou para o Supremo Tribunal Federal, do qual foi presidente e onde ainda tem grande interlocução.

Por isso, a sua entrevista ao Estadão – que, salvo surpresas, será a matéria de política mais importante do domingo de Carnaval – tem um peso imenso e é um dos mais duros golpes assestados na atuação do MP e do juiz Sérgio Moro.

Ao dizer que há “espetacularização” e “arbitrariedades” na Operação Lava Jato, Jobim não está falando por si.

E não fala pelo PT ou por Lula, porque se absteve de falar até agora.

Mas está falando pelos políticos, pelo governo e pela cúpula do Judiciário, com um som de tesoura pronta a cortar as asas do juiz Sérgio Moro e da tal “força tarefa”.

Jobim, sem citar nomes, não se furtou a apontar casos concretos dos quais todos sabem quem são os autores.

Inclusive contra o tribunal revisor das decisões de Moro, o Tribunal Regional Federal da 4a. Região, que tem homologado, por princípio, o que é decidido em Curitiba. E vai além de insinuar que Moro quer projeção política com o que faz.

Leia este trecho da entrevista de Jobim:

(…)há também, digamos, uma tendência, um equívoco, em que alguns juízes acham que têm de fazer justiça e não aplicar a lei. Quem diz ‘não, eu não vou aplicar a lei porque o que julgo é ilícito’, de onde vem esse poder? Do concurso público que o transformou em juiz? Essa discussão do projeto das 10 medidas anticorrupção (projeto que está na Câmara a ser enviado para o Senado), que foi oferecido pelo Ministério Público, inclui posições de alguns promotores ridículas. Tinha absurdos completos em termos de atribuição de uma espécie de um poder sacerdotal para efeito investigatório.

A Lava Jato tem ferido os direitos das defesas, por exemplo?

Há exageros. Inclusive nas prisões que são feitas em Curitiba (sede da operação sob responsabilidade do juiz federal Sérgio Moro), em que as coisas vão se prolongando e resultam em delações. Outro exemplo, condução coercitiva. Ela só é admissível quando alguém se nega a ir em uma audiência em que foi previamente intimado. Mas não se admite que alguém que não foi convocado para depor seja levado coercitivamente para depor.

A do Lula foi arbitrária?

Sim, não tenha dúvida. Isso é muito bom quando você está de acordo com o fim, mas quando o fim for outro… O dia muda de figura quando acontece contigo. O que nós temos de deixar claro é essa coisa da exposição dos acusados. Vão pegar um sujeito em um apartamento e aparece gente com metralhadora, helicóptero. Tudo isso faz parte daquilo que hoje nós chamaríamos de ação-espetáculo, ou seja, a espetacularização de todas as condutas. O Judiciário não é ambiente para você fazer biografia individual. Biografia se faz em política. 

O sr. acredita em “desmonte” da Lava Jato?

Não, isso faz parte do discurso político. Evidente que quem está sendo perseguido vai querer fazer isso (desmontar), agora se afirmar que está acontecendo, é só discurso. Evidente que você tem de afastar a prática de violências de qualquer natureza. Nós não podemos pensar de que se algo foi malfeito, autoriza que seja mal feito também a forma de persegui-los.

Por exemplo?

A divulgação da gravação da presidente Dilma com Lula depois que havia encerrado o tempo de gravação, autorizado pelo próprio juiz que havia determinado a gravação. Você acha isso legítimo? Qual é a consequência disso? Esse episódio é seríssimo. Houve algum processo para verificar se houve algum abuso? Há um inquérito sobre isso? Que eu sabia, houve várias tentativas por parte dos interessados e que não aconteceu nada. Lembro bem que chegaram até a dizer: ‘Casos excepcionais requerem medidas excepcionais’. 

E conclui dizendo que densidade eleitoral “é uma coisa que não se constrói dentro do tribunal.”



Tijolaço

A autofagia da direita que virou monstro



POR FERNANDO BRITO · 27/02/2017



Semana passada, tratei aqui do significado do “barraco” cibernético entre Reinaldo Azevedo e a ex-apresentadora da Veja, Joyce Hasselman, dizendo que “o que interessa no episódio é que desenha, para quem não entendeu ainda, que a direita caminha para a extrema direita e os tucanos ficam lamentando o monstro que eles próprios criaram”.

Hoje, na Folha, o sociólogo Celso Rocha de Barrros, na Folha, faz uma boa análise do que o episódio deprimente (para quem não viu e que se poupar do sofrimento integral, há, ao final, o “compacto” editado pela Mídia Ninja, embora retire metade das grosserias, resume o arranca-rabo)

Embora a representação seja caricata, o assunto é sério. E vai se refletir no “camisa amarela” da Paulista

Barraco expõe disputa dentro da 
direita, que não se decide sobre Temer

Celso Rocha de Barros, na Folha

Como diria o comissário Gordon, não foi o debate de que precisávamos, mas talvez tenha sido o debate que merecíamos. Uma pequena guerra civil começou dentro da chamada “nova direita” brasileira: Reinaldo Azevedo, colunista da Folha, foi atacado por Joice Hasselmann, ex-“Veja”, e por Rodrigo Constantino, ex-“Veja”, por suas críticas à Lava Jato, e respondeu animadamente.

Intelectualmente, foi um daqueles jogos em que o compacto com os melhores momentos tem só o hino nacional e o apito final. Mas o barraco dos conservadores foi o canário na mina: é sinal de uma crise chegando, e de uma disputa real dentro da direita brasileira, que deve se tornar mais acirrada nos próximos meses.

A direita brasileira precisa se decidir sobre Temer; abandoná-lo é colocar em risco as reformas de mercado, apoiá-lo é colocar-se no centro do alvo da Lava Jato. Não será fácil.

Azevedo defende o governo Temer e, recentemente começou a fazer críticas à Lava Jato. Talvez o apoio e o timing das críticas não sejam completamente não relacionados. Ao contrário de Olavo de Carvalho ou Constantino, Azevedo tem trânsito na direita institucional brasileira; suas posições são mais ou menos próximas das do DEM, por exemplo, ou da direita do PSDB. Esses setores investiram pesadamente no governo Temer. E todo mundo ali vai aparecer nas delações.

Para essa turma, o ideal é que a cruzada anticorrupção pare no PT, e o discurso “Temer colocou o Brasil nos trilhos de novo” tem que colar até a eleição de 2018. Se der certo, os governistas entram com boas chances na disputa presidencial.

Os adversários de Azevedo são recém-chegados buscando maior inserção institucional. Não se importariam se a política brasileira implodisse. No cenário de implosão, Azevedo os ameaça com Lula; mas eles sonham, aberta ou secretamente, com Bolsonaro. E, sobretudo, cada um deles sonha ser Steve Bannon, o assessor de extrema-direita de Trump.

Os movimentos anti-Dilma tentam se equilibrar no meio dessa tensão. Recentemente, convocaram uma passeata a favor da Lava Jato. Mas a convocação é uma piada: em vez de tentar atrair o maior público possível para defender a operação, o Movimento Brasil Livre incluiu na pauta dos protestos a reforma da Previdência e a revogação do Estatuto do Desarmamento. Fez isso para impedir que apareça qualquer um que se disponha a gritar “Fora, Temer”. Isto é, o MBL apoia a Lava Jato desde que o seu lado continue no poder. Como diria o PT, assim até eu.

Por sua vez, Ronaldo Caiado não disfarça a pretensão de ser candidato a presidente no ano que vem. Olhando com os olhos de 2018, Caiado já se apavorou com o que viu, e pediu a renúncia de Temer. Mas é difícil que arraste consigo sua base social ou o resto da direita, ao menos enquanto Temer estiver amarrado às reformas. E quem se converter ao “Fora, Temer” tão perto de 2018 vai parecer oportunista (e o será).

A história não contada do impeachment de Dilma Rousseff é justamente sua origem na crise de liderança da direita brasileira depois da quarta derrota presidencial seguida do PSDB. Desde então, a direita brasileira foi liderada por quem gritasse mais alto. Agora a combinação de delações contra a direita e eleições presidenciais vai testar a competência política dos vencedores de 2016.


Tijolaço

Xadrez do elo desconhecido entre Temer e Yunes

SEG, 27/02/2017 - 07:44




Qual a razão do primeiro amigo de Michel Temer, José Yunes, ter entrado em pânico, quando seu nome apareceu em delação de executivo da Odebrecht, a ponto de procurar o Ministério Público Federal para uma delação sem sentido.

A jornalistas, Yunes disse que lhe foi solicitado por Elizeu Padilha – Ministro-Chefe licenciado da Casa Civil – que recebesse “documentos” em seu escritório. Os tais “documentos”, na verdade, eram propinas pagas pela Odebrecht e levadas até ele pelo notório doleiro Lúcio Funaro.

Aos jornalistas, Yunes declarou ter sido apanhado de surpresa. E, assim que se deu conta do ocorrido, procurou o amigo Temer, que o acalmou.

Ao MPF, declarou que nada disse a Temer.

De sua parte, Temer mandou informar os jornais que exigirá explicações de Padilha.

O que está por trás dessa dança dos lobos, tão desesperada e tão sem nexo?

Dias atrás o grupo Anonymous divulgou um pacote de documentos sobre negócios de Yunes, Temer e outros sócios.

No primeiro artigo da série, mostramos que a principal suspeita levantada – a associação de Yunes com grandes bilionários – na verdade era uma sociedade para um condomínio a ser construído na Bahia.

Vamos, agora, à parte perigosa revelada pelos documentos, ajudado por comentaristas do Blog que passaram informações centrais para fechar a narrativa.

Peça 1 – as diversas formas de lavagem de dinheiro

Por que interessa conhecer os negócios de José Yunes, o primeiro amigo?

Primeiro, porque, após a delação do executivo da Odebrecht, descobriu-se que ele participava dos esquemas de captação de recursos de Michel Temer.

Depois, porque um dos modus operandi de muitos políticos é o de receberem no exterior, através de depósitos em fundos de investimento com aparência de legalidade. Em vez de contas convencionais em países estrangeiros, fundos de investimento através dos quais entram no Brasil como investimento externo.

De certo modo, é o caso de José Serra, conforme esmiuçado por Amaury Ribeiro Jr no livro “A privataria tucana”.

O fundo de investimentos de sua filha Verônica acumulou um patrimônio significativo. Em pelo menos um caso, sabe-se que foi utilizado para troca de favores com empresas.

Foi o caso da Serasa Experian, que, no final do mandato de Serra como governador de São Paulo, ganhou de graça o Cadin estadual (Cadastro Informativo dos Créditos não Quitados de Órgãos e Entidades Estaduais).

Assim que Serra deixou o governo, Verônica intermediou para a Serasa-Experian a venda de um site de e-mail marketing, a Virid. Na época, o mercado avaliava o preço em no máximo R$ 30 milhões. A Experian pagou R$ 104 milhões. Empresa de capital aberto na Bolsa de Londres, manteve o valor da transação em sigilo. Para todos os efeitos, foi um lucro legalizado do fundo de investimentos de Verônica.

Sérgio Machado tinha investimentos no exterior, através de um filho que era alto funcionário do Credit Suisse – e, ao que consta, foi sacrificado pela gula do pai e do irmão político.

Portanto, há uma probabilidade de que as empresas de Yunes possam ter servido para abrigar recursos políticos captados por Temer.

Não faltará paraíso fiscal no purgatório político em que se meteu Yunes, caso os Anjos Gabriel do Ministério Público Federal resolvam investigar a sério.

O dossiê disponibilizado pelo grupo Anonymous na Internet traz algumas pistas que precisam ser bem investigadas, das empresas dos Yunes.

Peça 2 – o Banco Pine

Aqui, aí se chega no elo desconhecido, o Banco Pine, ou Fist Pinebank, Inc, ou FPB.

O Banco Pine é o sucessor do BMC (Banco Mercantil de Crédito), da família Pinheiro, do Ceará, de três irmãos, Norberto, Nelson e Jaime Pinheiro, que chegaram a montar um banco médio, bem-sucedido. Assim como outros bancos cearenses, especializou-se em AROs (Antecipação de Receita Orçamentária) para prefeituras e em crédito consignado para funcionários públicos.

Depois, o banco foi vendido por R$ 800 milhões ao Bradesco e, de suas entranhas nasceu em 1997 o Banco Pine, brasileiro, o First Pinebank que, depois de uma passagem turbulenta pelos Estados Unidos, tornou-se um banco panamenho; e a BR Partners, uma associação de Ângela Pinheiro, filha do patriarca Jaime Pinheiro, com Ricardo Lacerda, ex-presidente da Goldman Sachs do Brasil.

Aqui, começa nosso pequeno quebra-cabeça:

Em 2005, o nome do Pine Bank já apareceu associado ao doleiro Toninho Barcelona, no escândalo do Banestado (https://goo.gl/wQh4dq)

Em julho passado, a Lava Jato já tinha batido no Pine (https://goo.gl/opDxOv), através da Operação Caça-Fantasmas, da 32a fase. Identificou o FPB Banc Inc – àquela altura, um banco panamenho, mas de propriedade de Nelson Pinheiro, um dos três irmãos sócios do BMC-, o PKB da Suiça e o Carregosa, de Portugal, suspeitos de montarem representações clandestinas para clientes interessados em abrir contas em paraísos fiscais. Outro nome que apareceu no FPB foi o de Eduardo Rosa Pinheiro, também a família Pinheiro.

A suspeita da Lava Jato é que esse esquema teria sido usado por doleiros e operadores de propina para esconder o dinheiro da corrupção da Petrobras e de outras empresas públicas, investigadas pelas operações Lava Jato, Custo Brasil, Saqueador e Recebedor.

Os bancos tinham ligação direta com a Mossak Fonseca. A Polícia Federal e o MPF pediram prisão preventiva dos funcionários do banco, mas o juiz Sérgio Moro permitiu apenas condução coercitiva. Alegou que as evidências levantadas pela Lava Jato apenas apontavam atuação clandestina no país.


Assim como na batida na Mossak Fonseca, quando se constatou que não havia pistas que levassem a Lula – mas a alguns bilionários influentes -, abafou-se a investigação e manteve-se em sigilo as descobertas.

Mas outros países atuaram. No dia 10 de fevereiro de 2017, menos de duas semanas atrás, a Superintendência Bancária do Panamá suspendeu a licença de corretagem do Pine Bank, a partir de informações levantadas pela Lava Jato (https://goo.gl/KYF0gc). No Panamá, era um banco pequeno, com US$ 134 milhões em depósitos e apenas US$ 13 milhões de capitalização declarada,

Constatou-se que o banco recorria apenas à Serasa para analisar sua carteira de clientes, em vez de colocar relatórios reais das empresas. Além disso, a FPB tinha montado 44 empresas através dos escritórios da Mossak Fonseca, provavelmente para desviar dinheiro de suborno.

Os jornais do Panamá apontavam o fato do site do banco não informar nada sobre seus proprietários e acionistas. Sabia-se apenas que o banco pertencia a uma família de empresas debaixo do guarda-chuva de Brickell Group.

O jornal Panama News anotava que o FBK tinha um presidente de nome Eduardo Pinheiro, um gerente geral chamado José Palucci e um convidado especial para a inauguração da sede, de nome Mailson da Nóbrega.

O jornal levantou o nome da consultoria Brickell Management Services Inc, de Miami, com apenas 6 funcionários. E constatou que Pine Bank foi acusado pelo FED de violar vários pontos da lei anti-lavagem de capitais, tendo encerrado as operações nos Estados Unidos. Segundo o jornal, “propriedade anônima, gestão aparentemente ausente – um banco estranho para se fazer negócios, exceto se houver algum priopósito especial”.

Peça 3 – os negócios da família Yunes

Ao longo das últimas décadas, a família de José Yunes expandiu seus negócios por vários setores. Aparentemente, tem dois filhos bastantes empreendedores, dos quais Marcos Mariz de Oliveira Yunes é o que fica à frente dos negócios.

A principal empresa do grupo é a Yuny.

Trata-se de uma grande incorporadora criada em 1996 (https://goo.gl/9iirmz). Em 2007 recebeu aporte de R$ 700 milhões do Golden Tree Insite Partners. Pode ser coincidência de nomes, mas há uma Golden Tree Insite Partners no Reino Unido (https://goo.gl/0WddPa) que em 2010 foi declarada insolvente.

Mais tarde, a VR tornou-se sócia da Yuny. Hoje em dia, do Conselho participam Abraham Szajman e Ury Rabinowitz, este alto funcionário da Brasil Telecom nos tempos de Daniel Dantas – em princípio, significa apenas que é um executivo requisitado. Depois, montou uma joint-venture com a Econ Construtora, a Atua Construtora, para imóveis de baixa renda.

No grupo, há outras empresas menos transparentes.

Uma delas é a Stargate do Brasil Estética de Produtos e Serviços

Criada em 30 de abril de 2007, é sociedade de José Yunes com Arlito Caires dos Santos. No Google, consegue-se chegar próximo com um Carlito Aires dos Santos – trocando o C do sobrenome para o nome, empresário mato-grossense de Peixoto de Azevedo, cuja empresa foi aberta em 20 de março de 2015 (https://goo.gl/lv7cpF).

Por sua vez, a Stargate é sócia da Golden Star, Serviços e Participações Ltda. Aparentemente, a intenção da sociedade foi a aquisição dos bens do panamenho Kamal Mohan Mukhi Mirpuri por Gilberto Pereira de Brito. O endereço de Kamal remete às proximidades do Trump International Hotel em Colon, Panamá. Kamal é proprietário da Multitrade Export Ltda, do Panamá.

Não é o único elo panamenho na nossa história, como se viu no caso do PInebank.

Peça 4 – as ligações do Pine com os Yunes

Como já se viu, o Banco Pine foi apontado como um dos canais para o dinheiro da corrupção das empresas investigadas pela Lava Jato.

Em outros tempos, uma das maneiras de “esquentar” dinheiro frio, depositado fora do país, era através de uma operação cruzada. O investidor depositava seus dólares nas agências externas do banco; e elas serviam de garantias para empréstimos que eram concedidos, aqui, para empresas controladas por ele. Foi assim com o Banco Excel, de um membro da família Safra, que chegou a adquirir a massa falida do Econômico, mas quebrou quando a apreciação do real promoveu o descasamento das garantias externas com os financiamentos internos.

No dossiê do Anonymous são inúmeras as evidências de ligações comerciais do Pine com as empresas dos Yunes, particularmente com a incorporadora Yuny.

· Em setembro de 2010, a Atua Construtora e Incorporadora convoca AGE para autorizar a contratação de financiamento de R$ 5 milhões junto ao Banco Pine


· Em dezembro de 2011, outra AGE para autorizá-la a tomar mais R$ 5 milhões com o Pine


· Em 18 de julho de 2013, outros R$ 5 milhões (ou renovação do crédito rotativo) novamente junto ao Pine


Peça 5 – os negócios de Temer com Yunes

Os caminhos de Michel Temer, da família Pinheiro, do Banco Pine e da incorporadora Yuny se cruzam em vários imóveis de Michel Temer e de sua holding Tabapuã.
Edifício Lugano

Temer tem duas unidades no edifício Lugano, na rua Pedroso Alvarenga 900, uma construção luxuosa com conjuntos comerciais de 102 a 202 m2.


A incorporadora é a Yuny, dos Yunes.
Spazio Faria Lima

Temer possui duas salas no edifício na rua Iguatemi (https://goo.gl/4XecSC), com escritórios que vão de 350 a 700 m2. Na região, escritórios de 350 m2 custam de R$ 3,5 a R$ 7 milhões.

Trata-se de uma obra faustosa também da Yuny.

Em 23 de maio de 2011, transferiu para a Tabaupã, empresa que tem em sociedade com a filha Luciana.


Quem aluga o escritório é Andréa Pinheiros, da BR Partners, e uma das herdeiras do banco Pine, filha de Jaime Pinheiro, o patriarca.

Conclusão do jogo

Tem-se, então, todas as peças do jogo:

1. O melhor amigo do presidente, José Yunes, participava dos processos de arrecadação de propinas das empresas investigadas pela Lava Jato

2. As empresas de Yunes tinham financiamento farto com o Banco Pine, da família Pinheiro, envolvido com os escândalos da Lava Jato, fechado nos Estados Unidos por acusação de lavagem de dinheiro e, há duas semanas, fechado tambem no Panamá.

3. Temer com grandes investimentos em projetos da Yuny, a incorporadora da família Yunes, convidando o patriarca José Yunes para assessor especial..

Dificilmente toda essa movimentação passaria despercebida pela Lava Jato, ainda mais depois de invadir os escritórios da Mossak Fonseca e ter identificado o papel do Pine Bank.

Um dia se saberá ao certo a razão de terem segurado essas informações.



Jornal GGN

domingo, 26 de fevereiro de 2017

“É INCESTUOSA A RELAÇÃO DO GOVERNO TEMER COM AS PETROLEIRAS”




Em entrevista exclusiva ao 247, o empresário Cesar Prata, presidente do Conselho de Óleo e Gás, da Abimaq, denuncia a existência de uma relação incestuosa entre o governo de Michel Temer e as grandes petroleiras internacionais, como Shell, Exxon, Chevron, Total e Stataoil, que estão interessadas no pré-sal; "Praticamente acabaram com a exigência de conteúdo nacional no setor de óleo e gás"; segundo ele, no momento em que o mundo se torna mais protecionista, o Brasil decidiu andar na contramão e escancarar seu mercado; ele afirma que 1 milhão de empregos serão perdidos com o fim do conteúdo nacional e diz que os empresários foram "iludidos e traídos" por Temer; confira a íntegra

26 DE FEVEREIRO DE 2017 

247 – O petróleo parece mesmo ter sido a motivação central para o golpe contra a democracia brasileira, deflagrado em 2016. Isso porque as primeiras vítimas do novo regime foram o antigo modelo de partilha na exploração do pré-sal, sob o comando da Petrobras, e a política de conteúdo nacional, que favorecia as indústrias nacionais, que fornecem equipamentos para a indústria de óleo e gás.

Com Temer, a Petrobras cedeu campos do pré-sal para companhias internacionais, como Total e Statoil, mudou o modelo de partilha para concessão e, agora, escancarou a cadeia produtiva do setor, acabando com a política de conteúdo nacional. Com isso, empresas estrangeiras não apenas poderão explorar o pré-sal, como poderão trazer plataformas de fora do País.

Tal decisão revoltou os empresários do setor, que já estimam o corte de 1 milhão de empregos, num Brasil, que, com Temer, foi a 13 milhões de desempregados. "É um absurdo completo", diz Cesar Prata, presidente do conselho de óleo e gás, da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), em entrevista aos jornalistas Leonardo Attuch e Paulo Moreira Leite. "No momento em que o mundo se torna mais protecionista, para proteger seus empregos, o Brasil decidiu ir na contramão", afirma.

Prata afirma ainda que os empresários foram "iludidos e traídos" pelo governo Temer e pelo ex-chanceler José Serra. "O que se comenta no mercado é que há uma relação promíscua entre este governo e as empresas internacionais de petróleo", afirma.

O empresário diz ainda que, antes de se licenciar, o ministro agora licenciado Eliseu Padilha marcou uma reunião com os empresários do setor para debater a política de conteúdo nacional. No entanto, antes disso, o governo já exibia um vídeo, em Houston, meca do petróleo nos Estados Unidos, vangloriando-se do "liberou, geral" no setor (confira aqui).

Cesar Prata diz ainda que a destruição do setor de óleo e gás e da engenharia brasileira representa a volta a um projeto de Brasil colônia. Assista, acima, à sua entrevista.



Brasil 247

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Um Grito de Brasilidade contra a lei do sexagenário e a entrega da Nação


Se a capacidade dos vende-pátria, vende-terras, vende-petróleo, vende-água parece inexaurível, mais cresce a responsabilidade dos nacionalistas.


Roberto Requião[1]



A saída do Reino Unido da União Europeia; a eleição de Trump, nos Estados Unidos; a liderança de François Fillon na disputa para a presidência da França; a recente pesquisa indicando o avanço do Partido Social Democrata da Alemanha, na hipótese de rompimento da aliança que hoje mantém com a chanceler Angela Merkel; a derrota do primeiro ministro da Itália, Mateo Renzi, em um plebiscito que mais rejeitou sua política econômica que as reformas administravas que propunha; a crise espanhola que não ata e nem desata, impedindo há mais de ano que o país tenha um governo com clara maioria no Parlamento; a lenta, dolorosa agonia da Grécia são recorrências que têm uma mesma origem: a reação à ditadura do capital financeiro global, cuja prevalência sobre os interesses nacionais, sobre o trabalho, a produção , a ventura de vida , o bem-estar e a felicidade dos homens desperta reações Planeta Terra afora.

Evidentemente, como todo acontecimento político e social, não há rigorosa simetria em tais reações, mas o denominador que os impulsiona é o mesmo: a saturação do neoliberalismo, especialmente da financeirização da vida das nações e da humanidade.

“Nenhum país vai se desenvolver se não defender sua indústria e seus trabalhadores”.

Esta frase é uma citação.

Qualquer um das senhoras e dos senhores senadores, inclusive eu, desconhecendo sua autoria, a colocaria à conta de um líder de esquerda, de um nacionalista de algum país subdesenvolvido. Mas a frase é de Donald Trump, presidente norte-americano que se elegeu não por causa de delírios como o muro na fronteira com o México ou a política anti-imigração. E sim porque prometeu fazer com que os interesses do povo norte-americano, especialmente de seus trabalhadores, iriam se impor à globalização.

Certamente não é meu herói, como não são os senhores François Fillon, Martin Schulz ou a senhora Thereza May. 

Da mesma forma, não inscreveria entre as minhas inspirações a senhora Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI ou o senhor Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial. Mas tanto uma como outro, frequentemente, tem espicaçado as políticas econômico-financeiras de países como o nosso que, tristemente, mediocramente têm insistido em seguir a trilha do fracassado modelo liberal.

Ainda agora, o presidente do Banco Mundial declara: “É a primeira vez que vejo um governo destruir o que está dando certo. Nós do Banco Mundial, o G8 e a ONU recomendamos os programas sociais brasileiros para dezenas de países, tendo em vista os milhões de pobres brasileiros que saíram da extrema pobreza nos governos anteriores a esse.

Agora, a fome vai aumentar consideravelmente em 2017. Cortar programas sociais que custam tão pouco ao governo, como o Bolsa Família, é uma coisa que não tem explicação”.

Tem explicação sim, senhor Jim Yong Kim. A mesma explicação do porquê o Brasil foi o derradeiro país a libertar os negros da escravidão. A mesma explicação do porquê, comparativamente com Estados Unidos da América, as nossas elites políticas, econômicas e sociais optaram pelo escravismo, pela dependência, pela economia agroexportadora, pelo extrativismo, pelo rentismo, pelo arrocho salarial, pela segregação e exclusão social, pelo golpismo.

Nesses tempos de internet, onde é livre falar, é só falar, alguns ociosos, com parcos neurônios, nenhuma leitura e a típica ousadia dos idiotas, costumam despejar toneladas de preconceitos étnicos, morais e religiosos para explicar o descompasso entre o desenvolvimento brasileiro e o desenvolvimento norte-americano.

Ignoram eles que, na segunda metade do século XIX, o caminho escolhido pelos Estados Unidos para se desenvolver chamou a atenção dos maiores teóricos da economia política da época, à esquerda, à direita, ao centro. Vou citar três dos mais expressivos teóricos que se ocuparam a estudar os Estados Unidos.

Os fundadores do comunismo, Marx e Engels, e Friedrich List, um homem de centro, criador do chamado “Sistema Nacional de Política Econômica”. List vai se tornar o formulador de política econômica mais traduzido até os meados do século XX, e exerce forte influência sobre o pensamento econômico e político até os nossos dias. Citaria entre seus discípulos John Maynard Keynes, Raul Prebisch e o nosso Celso Furtado.

Marx e Engels falam com admiração que os norte-americanos escolheram a via expressa para o desenvolvimento, que optaram por fabricar fabricantes, criando mecanismos para incentivar a produção industrial local, financiando-a e protegendo-a da concorrência internacional.

List, recolhe no exemplo dos Estados Unidos os elementos essenciais para formular seu próprio sistema de política econômica.

O que encantou teóricos comunistas e liberais no modelo norte-americano?

Encantou-os três iniciativas:

1ª) Fixação de tarifas alfandegárias elevadas e seletivas, para proteger a indústria local; além da concessão de subsídios para favorecer o crescimento do setor.

2ª) Investimentos públicos em infraestrutura: ferrovias, rodovias, hidrovias portos, energia e saneamento.

3) Criação de um banco nacional e de um sistema estatal de financiamento da produção.

Foi assim que os Estados Unidos tomaram a via expressa para o desenvolvimento.

Vejam, por quase um século, de 1860 à década de 1940, os Estados Unidos mantiveram a política de tarifas alfandegária elevadas e seletivas, para proteger a sua produção industrial. Ao mesmo tempo em que não abriu mão da política de subsídios.

As bases para essa política de desenvolvimento foram lançadas por Alexander Hamilton, um dos pais fundadores dos Estados Unidos, logo depois da independência do país, no século 18.

Até hoje eu vejo pessoas de esquerda torcerem o nariz por causa de algumas observações nada favoráveis de Marx sobre a parte inferior do continente americano, enquanto manifesta admiração pela política de desenvolvimento industrial da parte superior.

Parece que o velho Marx tem razão, não é? Afinal, desde sempre, as elites brasileiras -e latino-americanas por extensão- optaram claramente pela subordinação do desenvolvimento nacional aos interesses do capitalismo internacional.

Quando os Estados Unidos rompem com a metrópole londrina, voltam-se imediatamente a “fabricar os seus fabricantes”, como observou Marx.

Quando o Brasil livra-se de Portugal, faz aquilo que os Estados Unidos recusaram-se a fazer: torna-se subordinado ao desenvolvimento industrial britânico. Portugal, proibia-nos fabricar até mesmo sabão, velas e botões. Depois do grito do Ipiranga, o Brasil continuou sem fabricar sabão, vela ou botões.

Os Delmiro Gouveia, os Irineu Evangelista de Souza foram avis rara no pombal da Casa Grande e, como exceções, não fizeram verão.

Da mesma forma que, lá atrás, as nossas elites escravocratas e coloniais renunciaram adotar o “Sistema Americano de Economia Política”, os atuais governantes, com o apoio do sistema financeiro, de políticos e partidos conservadores, globalistas, para não dizer colonizados, da mídia e dos economistas e comentaristas da Globo, da Globonews, da CBN, expressões máximas do influentíssimo analfabetismo pátrio, persistem hoje em fazer do Brasil o último refúgio de um sistema que fracassou no mundo todo e que passa a ser repudiado até mesmo nos centros econômicos mais avançados.

Na contramão da história no alvorecer da nacionalidade, na contramão da história em uma das mais graves crises do Planeta.

Enquanto Donald Trump, Thereza May, François Fillon, Justin Trudeau, Martin Schulz, Pablo Iglesias aumentam o tom contra a globalização financeira e defendem a adoção de políticas protecionistas, para salvaguardar os seus povos da voracidade de Mamon, os gênios pátrios anunciam toda sorte de franquias, de aberturas, de concessões, de submissões para atrair os especuladores internacionais e aqueles hipotéticos investidores que apreciam uma pechincha.

Vamos ao roteiro da transformação do Brasil em um estado bárbaro, dependente, produtor intensivo de produtos agrícolas voltados à exportação, fornecedor de matérias primas e commodities, com a oferta em larga escala de mão-de-obra barata e desprotegida de direitos.

Eis o roteiro em execução:

. Destruição do ainda precário Estado Social brasileiro, que estávamos construindo desde a Revolução de 30 e que deu bons avanços entre 2003 e 2015.

. Fim dos direitos trabalhistas, com a prevalência do negociado sobre o legislado e com a liberação irrestrita da terceirização do trabalho.

. Reforma da Previdência, que tem como senha a falsa alegação de déficit no setor, mas cujos objetivos são o aumento do tempo de serviço dos trabalhadores e a privatização da área.

. Venda, a preços irrisórios, como os próprios compradores festejaram, de reservas de petróleo da camada pré-sal.

. Fim da política do conteúdo local; contratação no exterior de plataformas para a Petrobrás; preterição das grandes empresas nacionais de engenharia, sob a alegação de que se envolveram em corrupção ao mesmo tempo em que se contratam empresas de engenharia estrangeiras, internacionalmente denunciadas por corrupção.

. Aperto do torniquete da dívida em estados e municípios, exigindo como contrapartida a privatização de empresas de energia elétrica, de água e de saneamento, o arrocho salarial e previdenciário, cancelamento de programas sociais.

. Aumento do teto de financiamento do programa Minha Casa, Minha Vida, para privilegiar a classe média alta.

. Liberação do saque do FGTS, para produzir um ilusório, fugaz e publicitário aquecimento da economia, sacrificando e pulverizando a poupança dos trabalhadores.

A lista das tais “reformas”, todas elas para atrair investimentos estrangeiros ou estimular que os empresários brasileiros troquem o rentismo pela produção, estende-se ao infinito.

Fez-se e faz-se terra arrasada de toda e qualquer proteção ao trabalho, aos desamparados, aos mais pobres, aos idosos e ao empresariado nacional. Parafraseando o presidente do Banco Mundial: nunca se destruiu tanto, em tão pouco tempo.

E a cereja nesse bolo neoliberal vem agora, com a permissão da venda de terras aos estrangeiros. O ministro Meirelles disse que quer ver aprovada a novidade em 30 dias, porque, segundo ele, a venda de terras atrairá grandes investimentos internacionais.

Oh, Senhor Deus! Misericórdia, Senhor!

Sua excelência, o senhor ministro da Fazenda, depois de quase um ano de idas e vinda erráticas, improdutivas, espera agora uma enxurrada de dólares, com a venda de terras?

Que será depois? A água? O aquífero Guarani, como insinuou o agora blindado ministro Moreira Franco? Na sequência o ar? A casa da sogra? Quê mais?

Aliás, a reação do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, à proposta de seu colega Meirelles constitui-se no melhor argumento contra a venda de terras.


Disse Blairo: “Tudo bem, desde que não se vendam terras onde plantamos soja e milho, do contrário, os estrangeiros vão manipular o plantio, conforme a cotação internacional dos produtos”.

Desculpe-me, ministro Blairo, que terras, então, os estrangeiros vão comprar? Para plantar o quê? Hortaliças? E como o governo vai impedir que os estrangeiros comprem terras onde se produzem soja e milho? Quer dizer que nós vamos vender terras para eles e determinar o que eles podem ou não plantar? Sendo assim, que interesse eles teriam em comprar terras aqui?

Por fim, vou voltar a 132 anos atrás, ao ano de 1885, para constatar que o tempo passa, o tempo voa e as nossas elites governantes, as nossas classes conservadoras, como se dizia antigamente, continuam mediocremente as mesmas.

No dia 28 de setembro de 1885, foi aprovada a Lei da Gargalhada, também conhecida como lei Saraiva-Cotegipe ou Lei dos Sexagenários.

No fervor da luta contra a escravatura dos negros, os conservadores aceitaram aprovar uma lei que libertasse escravas e escravas com mais de 60 anos. Na verdade, só ficavam imediatamente livres as negras e os negros com mais de 65 anos. Os com menos, deveriam indenizar os seus donos, trabalhando mais três anos, sob o chicote dos feitores.

Essa incrível lei ficou conhecida como a Lei da Gargalhada, pois foi assim que a receberam os abolicionistas e os brasileiros com um mínimo de senso de humanidade. E senso do ridículo!

Não por causa da obrigação de o escravo com 60 anos ter que trabalhar mais três, para indenizar o seu dono. Não. 

A amarga gargalhada foi porque a vida média dos escravos brasileiros era de 30 anos! Trinta anos! Logo, praticamente não havia vivo quem a lei beneficiasse!

Como são insaciáveis em sua crueldade, as classes dominantes! Pois não é que 132 anos depois, produzem uma contrafação, um pastiche da Lei Saraiva-Cotegipe.

Que é a reforma da Previdência? Como a Lei da Gargalhada não alcançava nenhum beneficiário vivo, a reforma da Previdência vai beneficiar trabalhadores quando eles não existirem mais. 

Leio na edição desta quarta-feira do Jornal do Senado que o presidente Eunício recebeu, dia 21, representantes da indústria, que vieram lhe entregar as principais reivindicações do setor. Duas se destacam: um Projeto de Decreto Legislativo que prevê o fim de normas do Ministério do Trabalho sobre segurança em máquinas e equipamentos, e a terceirização total e irrestrita da mão-de-obra.

Como se vê, é inesgotável a capacidade de se reinventar a escravidão de nossos trabalhadores.

Emprego, salário, aposentadoria, desenvolvimento industrial, produção agrícola, inovação e tecnologia, soberania nacional, segurança, saúde e educação públicas de qualidade, moradia digna, direito ao lazer e à felicidade, proteção à infância e aos idosos. É o queremos, é o que basta. Mas nada disso será possível com um governo que vende até as nossas terras e que ressuscita a Lei da Gargalhada.

Como discursou o nosso genial Raduan Nassar: tempos tristes, tempos sombrios os tempos de hoje.

Mas, se a capacidade dos vende-pátria, vende-soberania, vende-terras, vende-petróleo, vende-água, vende-dignidade, vende-vergonha parece inexaurível, mais cresce a responsabilidade dos nacionalistas, dos democratas e dos progressistas em resistir à destruição do Brasil como Nação.

Rebelar, resistir, desobedecer, é o nosso dever. Já!




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