domingo, 11 de junho de 2017

Decisão do TSE sobre Temer mantém estado de humilhação do país, por Janio de Freitas

DOM, 11/06/2017 - 08:43
“Julgamento acrescentou a benção a um governo de um tribunal que se mostrou bem à altura do que julgava”


Jornal GGN - O resultado do plenário do Tribunal Superior Eleitoral que, por quatro a três votos, absolveu a chapa Dilma-Temer permitindo, portanto, que o governo Temer se mantenha no poder é analisado como mais uma cena da decadência que o país vem sofrendo nos últimos três anos pelo articulista da Folha Janio de Freitas. 

Na sua coluna deste domingo, Janio admite que alterar o estado de poder no Brasil não é fácil e que, se Temer tivesse sido condenado pelo TSE, recorreria a recursos prelatórios que espichariam sua permanência no governo e, ainda, teria "apoios poderosos" para se manter no cargo "desde que comprasse ao Congresso as medidas desejadas pelo 'mercado'", entretanto, a decisão em favor de Temer "não faz mais do que dar continuidade a uma presidência em estado catatônico", acrescentando que a absolvição do Tribunal está agravando o estado de humilhação do país "carcomido pela corrupção".





A não ser pelo espetáculo de uma Justiça que se rege cada vez mais pelo facciosismo político, a verdade é que o julgamento da chapa Dilma-Temer e a decisão do TSE não têm importância alguma.

A decisão contrária a Temer não o impediria de sobrepor recursos legítimos e recursos protelatórios, espichando sua permanência na Presidência.

Com apoio do patronato desejoso das reformas regressivas de direitos trabalhistas e do modesto aumento da distribuição de renda em anos recentes. Seria aguentar-se apenas seis meses até 2018, quando o fim do recesso político de verão lançará o país já nos desvarios da eleição presidencial. Para o país, seria sujeitá-lo a uma presidência moribunda, de um governo desmoralizado e capacho, caso mais escândalos e processos não lhe impedissem a respiração artificial antes do fim do mandato.

A decisão favorável a Temer não faz mais do que dar continuidade a uma presidência em estado catatônico. Com espasmos de medo pelo que algum dos seus convivas e associados diga em depoimento, e impossibilitada de responder a indagações policiais porque fazê-lo seria arruinar-se. A presidência de Temer é literalmente um caso de polícia. O que o julgamento do TSE lhe acrescenta é só a bênção de quatro juízes de um tribunal que se mostrou, não em todos mas em tudo, bem à altura do que julgava.

O país não é parte desse enredo. Desde meados de 2014, quando a campanha eleitoral se intensificou com acirramentos e baixarias, são exatos três anos em que tudo nos níveis de condução do país consistiu em ações por interesses pessoais ou grupais. Aí incluída a reviravolta de Dilma para a política econômica "do mercado", que o impeachment buscou por outros meios. E incluído também o dirigismo da Lava Jato, até que as delações da Odebrecht, por iniciativa sua, abrissem um pouco o leque.

Tudo no Brasil se agravou na cadência, dia a dia, desses três anos. Nenhuma força, política ou econômica, pôs os olhos e a voz para além dos seus interesses. Seu contato com o restante do país se fez apenas por intermédio das PMs, na repressão a segmentos de povo mobilizado por direitos seus ameaçados ou já mutilados.

Os Estados desabam, mesmo o rico São Paulo faz pedaladas fiscais e estatísticas para esconder as perdas da educação. No rastro dos Estados, vão os municípios. O desemprego e seus reflexos, sociais e urbanos, crescem como epidemia de desesperos e inseguranças. O Brasil está no mapa mas não está no mundo, carente de ação externa e sucumbido à humilhação de país carcomido pela corrupção.

Esse seria o Brasil que Temer, se o TSE o derrotasse, teria apoios poderosos para manter, desde que comprasse ao Congresso as medidas desejadas pelo "mercado". Esse será o Brasil que Temer, favorecido pelo TSE, terá apoio para manter, se proporcionar a transformação de direitos trabalhistas e sociais em maiores ganhos empresariais. E se não for interrompido pela polícia.



Jornal GGN

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