quinta-feira, 22 de junho de 2017

Uma voz militar lúcida: Villas Bôas condena venda de terras e Exército-policial



POR FERNANDO BRITO · 22/06/2017




Ao falar, hoje, no Senado Federal, o comandante do Exército assumiu posições corajosas e lúcidas, que dão a todos a esperança de que as nossas Forças Armadas não estão dispostas a embarcar em qualquer aventura entreguista e repressiva:

Villas Bôas disse ser contrário à venda de terras nas regiões fronteiriças, ressalvando que se absteria de comentar a questão em relação a outras partes do território. Disse que vê com “preocupação” uma maior abertura para a exploração das riquezas minerais por empresas de fora. Mencionou que o Exército tem levantamentos sobre a “estranha coincidência” entre a demarcação de terras indígenas com a presença das riquezas minerais.

Que não são poucas, porque ele disse que as estimativas do Exército situam em US$ 23 trilhões os recursos naturais da Amazônica.

Para ele, as populações indígenas hoje são as principais vítimas disso, pois seriam utilizadas por interesses ligados ao ambientalismo na definição de unidades de conservação e depois “abandonados à própria sorte”

O general afirmou que o país é vítima de uma visão que opõe o desenvolvimento à preservação ambiental.

– Morei lá por oito anos e penso justamente o oposto. O que vai salvar a região amazônica, inclusive a natureza, é o desenvolvimento. É a implantação de polos intensivos para empregar aquela grande mão de obra, impedindo que ela vá viver do desmatamento extensivo – defendeu.

Mas Villas-Bôas foi além. No G1, diz que o Exército “não gosta” do uso de militares em atividades de segurança pública, que classificou como “desgastante, perigoso e inócuo”.

-Eu, periodicamente, ia até lá [Favela da Maré, ocupada pelo Exército por meses a fio] e acompanhava nosso pessoal, nossas patrulhas na rua. E um dia me dei conta, nossos soldados, atentos, preocupados, são vielas, armados, e passando crianças, senhoras, pensei, estamos aqui apontando arma para a população brasileira, nós estamos numa sociedade doente”

Numa mostra que, ao contrário dos que acham que as Forças Armadas são compostas de brutucus sem visão estratégica, o comandante do Exército fez uma definição preciosa da razão que obriga um país como o Brasil a ter um projeto próprio de desenvolvimento nacional, ao contrário dos que acham que o negócio é aderir a tudo o que vem de fora.

Depos de dizer que foi um equívoco o país deixar-se levar pela confrontação ideológica da Guerra Fria, que nos dividiu e levou ao abandono de um projeto nacional e evolui hoje para a “perda da identidade e o estiolamento da auto-estima”.

– Se fôssemos um país pequeno, poderíamos nos agregar a um projeto de desenvolvimento de um outro país. Como ocorre com muitos. Mas o Brasil não pode fazer isso, não temos outra alternativa a não ser sermos uma potência. Não uso esse termo na conotação negativa, relacionada a imperialismo, mas no sentido de que necessitamos de uma densidade muito grande.



Tijolaço

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