quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A entrevista de Lula - 4, por Luis Nassif

QUA, 20/12/2017 - 13:16
ATUALIZADO EM 20/12/2017 - 17:11

Luis Nassif


Sobre a destruição do governo Dilma

Presidente tem que ficar de fora dos acordos políticos, inclusive para poder agir se houver impasse.

Vivemos coisa atípica em 2014. Vínhamos de um mundo diferente, que começou com as manifestações de 2013 que, em um primeiro momento, tratamos como se fosse manipulação da imprensa em cima de 3 mil meninos lutando pelo Passe Livre. Depois achamos que era o povo querendo mais. Hoje tenho muita desconfiança sobre o que foi 2013. Ali começou processo de desmonte do nosso governo, da ideia de afastar o PT e a Dilma do governo.
A campanha de 2014 foi uma campanha com uma dosagem de ódio que não estávamos acostumados a ver no Brasil.

Aécio plantou vento e está colhendo tempestade.

Tentei ajudar a discutir o futuro governo em 2014, mas a Dilma é que poderá dizer.

No dia da apuração das eleições, quando deu resultado final, tinha algo estranho no semblante da Dilma. Sai de lá com ideia de que tinha alguma coisa deixando minha querida amiga Dilma desconfortável. Eu disse para ela que era importante montar o governo ainda em novembro, porque do jeito que estava o andar da carruagem, se esperasse para montar o governo poderia ter um governo nascendo velho.

Ela teve o tempo dela. A gente discutiu nomes e não foi possível ela colocar e ela era presidente da República. Houve momento muito delicado quando Dilma apresentou reforma. Aquilo foi um choque para aquela parte da sociedade que entrou na campanha no segundo turno, porque não queria a volta da direita.

Leva tempo para recompor crença das pessoas. Facilitou os adversários chamando a gente de estelionatários. Nosso povo chamando a gente de traidor.

Em política eu tenho dosagem de pragmatismo muito grande. Aprendi muito cedo a diferença entre teoria e prática. Não pode colocar teoria sem testar na prática porque, se cometeu erro, não tem tempo de consertar.

Vamos montar governo melhor do que eu tive em 2003 e 2010.

Parte das pessoas que participaram comigo estão muito melhores. Haddad tinha como experiência a Universidade. Agora, a prefeitura de São Paulo.

Sou muito otimista com o que vai acontecer neste país. Vamos ganhar a eleição, vou dizer para o povo o que vai acontecer. Não vou fazer eleição dizendo meias verdades.

A gente vai ter que discutir seriamente o referendo revogatório ou uma nova Constituinte.

Nossa Constituinte teve mais de cem emendas parlamentares. Arrancaram nossa Constituição e fizeram outra.

A elite brasileira, que perdeu a discussão na Constituinte, fez uma nova Constituição.

Se quiser pensar estrategicamente e de forma soberana este país, não pode a cada vitória eventual mudar a Constituição. Porque os políticos judicializaram a política. E o Judiciário politizou a Justiça.

O povo tem que saber que para fazer as mudanças que o país precisa, a pessoa que vota em um Presidente progressista tem que votar em um deputado progressista. Tem que exigir por escrito o que ele quer fazer da vida.

Agora, com fundo partidário, estão vendendo nacos do fundo.

Quero discutir: porque povo pobre tem que pagar mais imposto de renda que o rico? Porque o rentismo não paga imposto de renda? Porque não pode pensar em política tributária em que os mais humildades paguem menos? Porque não se coloca em prática a questão sobre as grandes heranças?

Vamos mostrar os exemplos da Inglaterra, Estados Unidos, e não em Cuba.

Não mudei antes porque não tenho hoje, com 72 anos, a visão que tinha aos 40. O tempo existe para a gente evoluir. De fora do governo estou pensando de forma mais justa na política tirbutária.

Fiz duas políticas tributárias, mandei para o Congresso. Uma tinha a unanimidade dos empresários, sindicatos e lideranças. Não andou porque Serra não queria, porque lamentavelmente as pessoas não querem um país mais equânime. Tem que ter política tributária que torne estados mais iguais.

Não vai ser campanha apenas pedindo voto, mas discutindo projeto de Nação, que país a gente deseja. Por isso Haddad foi indicado pela Executiva nacional como coordenador do programa.

Eu não preciso ser candidato para fazer o que já fiz. Quero fazer outro.

Eu não tenho cara de radical. Estou mais sabido. Quando presidente eu sempre disse que sei quem são meus amigos e meus amigos eventuais, sei de onde vim e para onde vou.

Posso dizer: o povo pobre vai subir mais um degrau na escala social.


Jornal GGN

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