sexta-feira, 25 de maio de 2018

À espera de sentença, morre J. Hawilla, o "dono do futebol brasileiro"

SEX, 25/05/2018 - 14:27
ATUALIZADO EM 25/05/2018 - 14:28


Foto: Ciro Boro/Reprodução


Jornal GGN - O empresário do futebol José Hawilla, ex-dono do polêmico grupo Traffic Sports, morreu na manhã desta sexta-feira (25), aos 74 anos. Acusado no esquema de corrupção da FIFA, admitiu pagar poprinas durante décadas por direitos a torneios de futebol, terminando como um delator da Justiça dos Estados Unidos.

Passou os últimos cinco anos detido em sua mansão na Flórida, EUA, após ter sido preso por algumas semanas no início das investigações da chamada FIFA Gate, em maio de 2013. Aqui, era alvo de uma investigação, sem notícias de avanços, do Ministério Público brasileiro, quando decidiu retornar ao Brasil em fevereiro deste ano.

Após cinco meses no país, foi internado nesta segunda-feira (21), no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, por problemas respiratórios. Considerado o "dono do futebol brasileiro", J. Hawilla fundou a Traffic Sports, maior empresa de marketing esportivo do Brasil e envolvida em diversos esquemas de corrupção, e até então era proprietário da TV TEM, filiada da Rede Globo em quatro regiões do interior paulista.

No site da filial da Globo em Sorocaba, Bauru, São José do Rio Preto e Itapetininga, a TV TEM divulgou a notícia acompanhada da nota de pesar do prefeito de São José do Rio Preto, Edinho Araújo (PMDB), que chegou a decretar luto oficial na cidade por três dias.

"Recebo com pesar a informação da morte do empresário e amigo J. Hawilla, idealizador da TV TEM. Decidi decretar luto oficial por três dias no município. Em sua TV, Hawilla apostou no conceito de jornalismo cidadão, dando voz à comunidade e sendo porta voz das reivindicações da população de grande parte do Estado de São Paulo. É uma grande perda", disse o prefeito.

Em maio de 2015, quando o escândalo da FIFA foi deflagrado com a prisão de sete cartolas, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, o Departamento de Justiça norte-americano e a FBI divulgavam as primeiras informações já concluídas do caso que paralisou o mundo do futebol.


Tratava-se de um blindado sistema de corrupção que circula pelos campeonatos e organizações de futebol, como os altos funcionários tratavam de decisões de negócios da FIFA como vales para serem trocados por riqueza pessoal. Os cartolas Marin, Jeffrey Webb, Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel foram presos enquanto estavam no Hotel Bar Au Lac, onde participariam de um congresso que deveria reeleger Sepp Blatter à frente da FIFA.

Falava-se, incialmente, de mais de US$ 150 milhões em propinas pagas em troca de direitos de transmissão e de marketing de campeonatos, desde as eliminatórias da Copa do Mundo, a Concacaf, a Copa América, Libertadores e Copa do Brasil. 

Hawilla, já na mira dos investigadores, confessou culpa ainda em dezembro de 2014 pelas acusações de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça, concordando em devolver US$ 151 milhões de seu patrimônio.

"Duas gerações de dirigentes de futebol abusaram de suas posições de confiança para ganho pessoal, frequentemente através de aliança com executivos de marketing inescrupulosos que barraram concorrentes e mantiveram contratos lucrativos para si mesmos através do pagamento sistemático de propinas. Os dirigentes são acusados de conspiração para solicitar e receber mais de US$ 150 milhões (cerca de R$ 400 milhões) em subornos em troca do apoio oficial dos executivos de marketing que concordaram com pagamentos ilegais", divulgava o Departamento de Justiça.


Amigo de longa data de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, tanto Teixeira, quanto Marco Polo Del Nero entraram para a lista das investigações do chamado FIFA Gate mais recentemente. Ajudando as autoridades americanas, Hawilla gravou conversas e entregou provas e documentos, revelando como funcionava o pagamento de propinas ao ex-presidente da Conmebol, Nicolas Leoz, ao ex-presidente da Associação de Futebol Argentino, Julio Grondona, e ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

Como recompensa, o empresário do futebol brasileiro ganhou o perdão de parte dos crimes cometidos. Mas as conversas gravadas, ainda em 2014, com o dono da empresa de marketing esportivo Klefer e ex-presidente do Flamengo Kleber Leite, não deixaram dúvidas sobre os ilícitos cometidos por Marin, Marco Polo Del Nero e seu amigo Ricardo Teixeira. 

Detalhes sobre as revelações de J. Hawilla foram divulgadas pelo GGN na cobertura sobre o julgamento da FIFA Gate em dezembro do ano passado [leia aqui e aqui].

Foto: Spencer Platt/Getty Images

Apesar de ter recebido o perdão por boa parte dos crimes cometidos, a expectativa era que a Corte de Nova Iorque condenasse o empresário a até 80 anos de prisão, além do pagamento da multa que já estava sendo feito. Culpava a crise econômica brasileira por não conseguir vender a Traffic e com esse dinheiro quitar a multa na Justiça, pedindo um prazo maior e ainda devendo cerca de US$ 100 milhões. Estava marcado para o dia 2 de outubro o julgamento nos EUA que iria definir os anos que J. Hawilla cumpriria na cadeia.



Jornal GGN

Nenhum comentário:

Postar um comentário