sábado, 28 de julho de 2018

Carmem Lúcia e seu “gentileza gera gentileza”


POR FERNANDO BRITO · 28/07/2018


A Doutora Cármen Lúcia, presidente do STF e da República, enquanto Michel Temer desfila sua insignificância no exterior, veio falar, como é de sua preferência, a uma plateia de de empresários no Rio de Janeiro e deu algumas daquelas declarações de alta densidade filosófica, como não faria melhor o Conselheiro Acácio de Eça de Queiroz:

“Basta ter olhos a ver que estamos vivendo, não uma pátria mãe gentil, a falta de gentileza parece que está presente de todos nós. É preciso que nós recobremos basicamente a sermos filhos gentis para que essa pátria seja uma mãe gentil para todos”.

Melhor não faria aquele simpático lunático, se me perdoam o eco, do profeta que desenhava seus dísticos como o famoso “Gentileza gera Gentileza“.

Já nem sugiro à ministra que busque autores mais eruditos, como os Don & Ravel da ditadura e seus conselhos de que se ‘plante uma flor/ pra florir nosso país /quem destrói a paz / não verá jamais/ um irmão feliz, em seu clássico “Só o amor constrói”.

Bastaria apenas que Dona Cármem, em lugar de embarcar no carro de vidros escurecidos à saída da Associação Comercial, no Centro do Rio, percorresse algumas dezenas de metros entre camelô, pedintes ou gente embrulhada em farrapos de cobertor para ter ideia de que estes filhos da pátria são até muito gentis perto da forma que a mãe, que ela representa em sua pompa, as trata.

No encontro, a ilustre ministra, do alto de sua sapiência, disse que as ‘instituições estão funcionando, apesar do momento de incerteza’.

Ah, sim, estão. No meio da maior crise político-institucional das últimas décadas, com o país ardendo numa crise sem tamanho, as autoridades judiciais do nosso país debatem-se numa intensa procura de…encontrar uma fórmula para dar forma “menos ilegal” ao auxílio-moradia…

Enquanto não se encontra, claro, “temos de manter isso”, porque suas excelências ganham pouco, ao redor de apenas R$ 30 mil, o que já não dá para comprar ternos em Miami.

Chegamos ao ponto de ter de esperar um paquiderme (paquiderme, excelência, antes que me queira processar, quer dizer “pele grossa” ou “casca grossa” como falaria o povão) como o ministro Gilmar Mendes ser o porta-voz de um protesto que caberia a outros magistrados, menos “capangueiros”, contra a estúpida investigação contra professores universitários, o novo reitor Ubaldo Cesar Balthazar e o chefe de gabinete da Reitoria da UFSC, pelo crime deste último ter aparecido alguns segundos enquanto estudantes exibiam uma faixa criticando uma delegada da PF e uma juíza. As duas foram as responsáveis pela ridícula operação que arrastou o ex-reitor Luiz Carlos Cancellier à humilhação, que o levaria ao suicídio.

(Sobre isso, aliás, informações novas no Blog do Marcelo Auler)

Dos neoministros Luís Roberto Barroso e Luiz Fachin, até há pouco professores universitários, nem um pio. No caso do primeiro, ao menos, seu compromisso com a comunidade acadêmica parece ser apenas o de privatizá-la.

As instituições, tem razão a senhora Ministra, estão funcionando. Funcionando como fábricas do ódio que a senhora diz ver por toda parte, distribuído com eficiência e sem parcimônia pelas redes sociais e pela mídia.

Permito-me sugerir à ministra, se não lhe caiu bem a citação de Don & Ravel, buscar nos nos versos de Camões onde ele diz que um rei, meu xará, esteve a ponto de deixar destruir-se o reino por que “um fraco rei faz fraca a forte gente”

Quando um reino tem o ódio nas cortes, vai querer gentileza nas ruas?


Tijolaço

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