quarta-feira, 25 de julho de 2018

O “Doutor Confere”


POR FERNANDO BRITO · 24/07/2018


Nutro a maior antipatia política pelo Sr. Sérgio Cabral, e até me orgulho de jamais ter dado um voto.

Muito antes da revelação de seu esquema de propinas já o sabia – e todos o sabiam – corrupto contumaz e a sua mansão na Costa Verde do Rio de Janeiro era, há 20 anos, a prova concreta de seus desvios de conduta.

Mas ele é um ser humano e a seres humanos todos estamos obrigados a tratar como tais.

E não há dúvidas que, pela execração pública que Cabral atraiu, há muita gente que se aproveita da antipatia popular pelo ex-queridinho da Globo para tratá-lo como não se deve tratar nem a um animal.

Estão recentes na memória as algemas nos pés e nas mãos para conduzi-lo, mesmo sob a escolta armada de quatro ou cinco agentes armados de fuzil e pistolas, com o objetivo evidente de produzir a imagem da humilhação.

Agora, tem-se este episódio sádico de sua colocação na “solitária” porque recusou-se a ficar, como diz o próprio autor da ordem, o promotor André Guilherme Freitas, na ‘posição de confere’, isto é, de revista, encostado na parede e de cabeça baixa.

Desobedecido, determinou verbalmente que Cabral fosse colocado na “solitária”.

O Ministério Público não é agente penitenciário para dar “ordem unida” a presidiários, muito menos para mandar colocar “na tranca” um prisioneiro.

Sua função é fiscalizar abusos ou regalias e só deve se dirigir ao preso para fazer indagações que se prestem a esclarecer irregularidades no seu tratamento.

Convencido delas, para um lado ou outro, deve se dirigir ao juiz para que se os apure ou corrija.

O tal Dr. André foi a tal ponto atrabiliário que o próprio juiz de Execução Penal – que é a autoridade no caso de presos – disse que sua atitude foi “manifestamente ilegal”.

É o que dá ter se deixado o Ministério Público ter se “ameganhado”.

Agem, agora, como qualquer PM: “encosta aí e abre as pernas”. Talvez, para ficar mais polido e “republicano”, “encosta aí e abre as pernas, cidadão”

Se o Dr. André quer ser agente penitenciário, que deixe o Ministério Público e abrace uma nova profissão.

Infelizmente, não se pode garantir que, como carcereiro, haja um promotor de Justiça a frear-lhe os instintos autoritários.

Porque, além dele, estamos cheios de outros “Dr. Confere” que, quem sabe, qualquer dia estejam metidos em alguma blitz, prontos a dar um “esculacho”…



Brasil 247

Nenhum comentário:

Postar um comentário