quarta-feira, 7 de novembro de 2018

MINISTÉRIO PÚBLICO: ONDA MACARTISTA ESPALHA-SE NAS ESCOLAS

O discurso de ódio e de caça aos "comunistas" e aos "vermelhos" adotado pela extrema direita e estimulado por integrantes do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), incluindo ele próprio, além de projetos como o "Escola Sem partido", levou o Ministério Público de diversos Estados como Minas Gerais, Bahia e Santa Catarina, a adotarem recomendações às escolas para evitar manifestações relacionadas a divergências políticas e acadêmicas entre professores e alunos; temor é que o estímulo às delações por meio de 'polícia do pensamento'acabe em um clima de perseguição parecido com o macarthismo vivenciado nos EUA na década de 1950, quando o país promoveu uma "caça aos comunistas" tendo como alvos alvos principais funcionários públicos, artistas, intelectuais, educadores e sindicalistas

6 DE NOVEMBRO DE 2018 

247 - O discurso de ódio e de caça aos "comunistas" e aos "vermelhos" adotado pela extrema direita e estimulado por integrantes do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), incluindo ele próprio, além de projetos como o "Escola Sem partido", levou o Ministério Público Federal (MPF) de Minas Gerais e o Ministério Público Estadual a adotarem recomendações às escolas para evitar manifestações relacionadas a divergências políticas e acadêmicas entre professores e alunos. Medidas semelhantes também já foram adotadas em Santa Catarina e Bahia. O objetivo das ações é evitar um clima de delações e perseguições parecido com o macarthismo vivenciado nos Estados Unidos na década de 1950, quando o senador Joseph McCarthy desencadeou uma série de ações que ficaram conhecidas como "caça aos comunistas" tendo como alvos principais funcionários públicos, artistas, intelectuais, educadores e sindicalistas. 

"A ideia é prevenir esse ambiente de certo macartismo que está rondando a sociedade brasileira em geral", disse o procurador da República do MPF-MG e procurador regional substituto dos Direitos do Cidadão, Edmundo Dias Netto Júnior. Apesar da celeuma, o Ministério Público não citou explicitamente as declarações feitas por Bolsonaro e seus aliados, optando por destacar a veiculação de notícias dando conta de que "pessoas estariam incentivando alunos a filmarem ou gravarem" professores que se posicionem com algum conteúdo considerado supostamente ideológico.

Os procuradores mineiros também destacam o risco de assédio moral e que as iniciativas para controlar as discussões e debates de "concepções filosóficas, políticas, religiosas, ou mesmo ideológicas" viola princípios constitucionais. A iniciativa para conter o avanço da "polícia do pensamento" vem na esteira da divulgação de vídeos como os feitos pela deputada eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL-SC), que pediu que alunos gravassem vídeos e delatassem professores que fizessem críticas a Bolsonaro, ou o gravado pelo também deputado eleito Alexandre Frota (PSL-SP), em prol do programa Escola Sem partido, onde estimula ações contra o que chama de "doutrinação político-partidária" dos estudantes por professores ligados "à esquerda".

Nesta direção o "macartismo brasileiro" ganhou o apoio até mesmo do presidente eleito. Nesta segunda-feira (5), Bolsonaro deu apoio a ideia lançada pela correligionária catarinense e afirmou que os professores devem se "orgulhar" e não ficar preocupados, caso algum aluno decida filmar as aulas. "Professor tem que se orgulhar e não ficar preocupado. Mau professor é o que se preocupa com isso aí", afirmou. Em 2016, ainda como deputado, ele já havia estimulado, também em vídeo, a delação de professores e mestres (leia mais).

Na semana passada, em um outro vídeo, Bolsonaro leu uma lista com nomes de pesquisadores e professores da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, vinculada ao governo do Estado de Minas Gerais, insinuando que os mesmo seriam ligados à esquerda e que deveriam mudar o seu comportamento.


Brasil 247

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