terça-feira, 19 de novembro de 2019

Como o Flamengo se tornou instrumento da extrema direita


Afagados por dirigentes, Bolsonaro, Witzel e correligionários surfam na euforia em torno da boa fase do clube mais popular do país. Diretoria se diz apolítica, mas negou homenagem a vítima da ditadura

19 de novembro de 2019


(Foto: Reprodução)

247 - O jornalista Breiller Pires, no Portal El País, indica que Embora seja comum chefes de Estado trocarem gentilezas em eventos diplomáticos, a cena chamou atenção de quem acompanhava, no fim de outubro, o encontro entre os presidentes de Brasil e China. No Grande Palácio do Povo, em Pequim, Jair Bolsonaro entregou um agasalho do Flamengo a Xi Jinping, explicando se tratar do “melhor time do Brasil no momento”. Torcedor do Palmeiras, principal oponente do rubro-negro carioca pelo título do Campeonato Brasileiro, Bolsonaro ainda disse ao anfitrião que “1,3 bilhão de chineses também serão Flamengo” na final da Copa Libertadores, contra o River Plate. Do outro lado do planeta, a breve cerimônia resumiu como o clube de maior torcida do país se tornou um instrumento político para a diplomacia do presidente.


Figura cativa em estádios, Bolsonaro tem utilizado o futebol como trampolim de popularidade desde que se elegeu – uma carta já empregada por muitos que o antecederam no cargo, do clássico ufanismo insuflado pela ditadura militar na campanha da Copa de 1970 ao lobby presidencial em prol da construção da Arena Corinthians durante o Governo Lula, às vésperas do último Mundial sediado pelo Brasil. Elevando a instrumentalização à máxima potência, incluindo o expediente de se convidar para grandes jogos como o clássico entre Santos e São Paulo, na Vila Belmiro, o presidente ultradireitista enxergou no Flamengo, que não vivia uma fase tão empolgante desde os tempos de Zico, nos anos 80, a plataforma de maior alcance para conquistar torcedores.


Em abril, na mesma semana em que o time sagrou-se campeão carioca, o mandatário recepcionou no Planalto a menina Yasmin Alves, que, supostamente, teria se recusado a cumprimentá-lo em visita a sua escola, e a presenteou com uma camisa do Flamengo. Em junho, Bolsonaro apareceu nas tribunas do Mané Garrincha ao lado do ministro da Justiça, Sergio Moro, para acompanhar o jogo dos rubro-negros contra o CSA. Ambos posaram para fotos vestindo camisas do time. A exibição no estádio aconteceu três dias depois do The Intercept revelar mensagens vazadas de Moro, que colocaram em xeque a imparcialidade do ex-juiz da Lava Jato. Na semana passada, o presidente voltou a agradar flamenguistas durante uma solenidade em Campina Grande, na Paraíba, ao cravar que Gabigol marcará o gol do título da Libertadores.


Concorrentes pelo protagonismo na direita recorrem a estratégia similar. No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel (PSC), que venceu a eleição colado na imagem de Bolsonaro, mas agora se apresenta como desafeto do presidente, é outro chefe de governo a surfar na onda do Flamengo. Um dos primeiros compromissos oficiais como governador eleito foi receber o então candidato a presidente rubro-negro, Rodolfo Landim, para discutir a concessão do Maracanã. Em janeiro, Witzel esteve no estádio para assistir a um jogo do time pelo Campeonato Carioca. Apesar de torcer para o Corinthians, ele entrou no gramado com uma camisa do Flamengo, pediu autógrafos aos atletas e tirou selfies com torcedores. A partir dali, se dedicou a estreitar laços com o clube.


Brasil 247

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