terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

A turma do crime


POR FERNANDO BRITO · 10/02/2020


Josias de Souza, no UOL, diz que “Presidente e miliciano coabitam o mesmo noticiário”.

Não, Josias, coabitam o mesmo ambiente, e bem antes da “coincidência” da “Casa 58” do Vivendas da Barra.

A medalha, os parentes contratados para repassarem-lhe dinheiro, a defesa em plenário da Câmara, tudo isso pode ser circunstancial, mas a cumulação de circunstâncias é indício forte e que estamos diante de uma cumplicidade impensável entre o chefe da Nação e o pântano da criminalidade mafiosa.

Na Folha, o sociólogo José Cláudio Souza Alves, um estudioso do comportamento criminoso de milicianos, afirma:

Ele não estava em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio, armado até os dentes e cercado de outros milicianos do seu grupo. Ele não está numa favela, um território com alta complexidade onde não existe nitidez sobre quem é quem, numa configuração espacial urbana que dificulta a operação. Ele estava numa residência em um espaço rural no interior da Bahia.
Como o fator surpresa estava nas mãos dos investigadores, se o objetivo fosse prendê-lo, os policiais poderiam eleger o momento ideal para isso e fazer um cerco.
Não há plausabilidade na situação descrita pela polícia de que ele teria reagido, se ferido e acabado morto. Na minha visão, é uma operação suspeita.
Adriano era um cara com ampla experiência nesta área. Atuou no Bope. Numa condição de cerco, ele saberia que não teria chance alguma e se entregaria. Tudo indica, portanto, que partiram de um plano para eliminá-lo.

Acrescento: mesmo com a convicção, manifestada, por telefone, a seu advogado, de que não queriam prendê-lo, mas matá-lo, o mais provável era que o ex-capitão escolheria a chance de contar que havia muita gente – eram 70 policiais – para uma execução flagrante, à luz da manhã, se lhe fosse oferecida a rendição.

Aliás, ações policiais de grane envergadura, com o que equivale, em termos militares, a uma companhia, costumam ter um policial encarregado de registrar em vídeo toda a ação. Tanto que um deles registrou assim o aspecto da casa depois da remoção do corpo de Adriano. Não registraria a ação?

O corpo permanece nos cafundós, não há resultado de autópsia, o local do crime foi desfeito e de perícia não se tem notícia.

Nunca as práticas policiais da Baixada Fluminense foram tão longe.

Ao que parece, chegaram ao poder.


Tijolaço

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