A chanceler alemã Angela Merkel não quer excluir a gigante de tecnologia da construção da rede 5G no país por essa ser uma empresa chinesa, apesar da pressão dos "falcões da segurança"
26 de setembro de 2020
Angela Merkel (Foto: Sputnik)
Sputnik - A recusa de Angela Merkel em banir ou restringir as atividades do gigante tecnológico chinês é um exemplo para a Europa e um desafio à política dos EUA, dizem especialistas.
A Alemanha pretende continuar cooperando com a Huawei, apesar das tentativas de Washington de evitar a participação do gigante chinês, dizem especialistas entrevistados pela Sputnik Alemanha.
Atualmente, o governo alemão está formulando regras de segurança para sua rede 5G. A chanceler alemã Angela Merkel não quer excluir a Huawei da construção da rede 5G na Alemanha por essa ser uma empresa chinesa, apesar da pressão dos "falcões da segurança" no país, informou a agência Bloomberg citando fontes anônimas.
O anúncio da chefe de Estado alemã pode servir de exemplo para outros países da União Europeia (UE) construírem suas relações com o gigante lógico chinês, opina o jornal Global Times.
Assim, a recusa pela Alemanha de impor uma proibição à admissão da Huawei em seu mercado com o pretexto de garantir sua segurança nacional, uma vez que os critérios para esta segurança ainda estão sendo desenvolvidos, é também um desafio à política europeia dos EUA, pois atualmente Berlim detém a presidência no Conselho da UE.
A abordagem da Alemanha relativamente à Huawei seria ditada não apenas pelos interesses da Alemanha, mas também pelos da UE, observa Mikhail Belyaev, especialista do Instituto Russo de Estudos Estratégicos, em entrevista à Sputnik.
"Neste caso estamos falando de apenas uma empresa, a Huawei, a maior empresa, que detém as posições de liderança no setor e que tem nas suas mãos, podemos dizer, o futuro. É claro que a Alemanha está abrindo portas para esta empresa tanto em seu próprio país quanto na UE, entendendo que esse vetor trará benefícios significativos tanto para a própria Alemanha quanto para toda a UE", comenta.
Desvantagens sem a Huawei
A revista alemã de informação política Focus nomeou a Huawei como uma das líderes no campo da tecnologia 5G, sendo muito atraente em termos de relação preço-qualidade. Metade das antenas utilizadas pelas operadoras de telecomunicação Deutsche Telekom e Vodafone para construir as redes 5G são fabricadas pela Huawei.
A publicação estima que as operadoras alemãs perderão bilhões de euros e deixarão outros países para trás na construção do 5G se a Alemanha tiver que abrir mão desses serviços por causa de eventuais regulamentos de segurança. A Huawei tem negado repetidamente as acusações por parte dos EUA de ignorar os requisitos de segurança.
Entrevistado pela Sputnik China, Hu Chunchun, vice-diretor do Centro de Estudos Alemães da Universidade Tongji em Tientsin, China, observou que a cooperação da Huawei com a Alemanha continuará, apesar das dificuldades:
"A Alemanha não se recusa a envolver a Huawei na construção de redes 5G no país, o que a China considera bem-vindo. É incompreensível, mas os EUA transformaram sem provas a Huawei e o 5G em um problema de segurança nacional. Mesmo que deixemos de lado a teoria da conspiração, estas são acusações infundadas e unilaterais contra a China por parte dos EUA.
"Nesse contexto, é muito difícil para a Alemanha, ocupando a presidência rotativa da UE, resistir à pressão dos Estados Unidos e fazer um julgamento relativamente justo. Esperamos que os círculos políticos na Alemanha realmente cumpram as intenções da chanceler Merkel."
O especialista, no entanto, alerta que Washington pode impedir uma cooperação real entre Berlim e Pequim.
"Espero que a chanceler Merkel faça julgamentos políticos racionais que reflitam a opinião da parte principal da sociedade alemã."
Confronto indireto entre Washington e Berlim
Mikhail Belyaev avalia que a Alemanha se envolveu em um complexo jogo geopolítico com os EUA devido a sua cooperação com a Huawei, mas não vai recuar:
"A América compreende o impacto que a política europeia da China pode ter nas posições americanas no mundo, tanto econômicas quanto políticas e morais. O fortalecimento da Europa, o fortalecimento da China e o fortalecimento dos laços Europa–China minam o domínio da América no mundo de muitas maneiras."
Como prevê o especialista do Instituto Russo de Estudos Estratégicos, a Alemanha continuará sob pressão dos EUA em meio a sua rápida perda de influência no mundo.
"[A Alemanha] manterá sua posição relativamente à Huawei, enquanto a América não conseguirá nada com sua pressão sobre ela", afirma.
Brasil 247
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