quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Boa Noite 247 (30.10.19) - Apuração contra Bolsonaro vira investigação contra porteiro




TV 247

Moro, quem te viu, quem te vê…


Jornalista Helena Chagas diz que Jair Bolsonaro está fazendo Sergio Moro beijar a cruz. "Para quem surpreendeu o país no comando da maior e mais implacável investigação de corrupção, o ex-juiz e atual ministro da Justiça está sofrendo um inusitado castigo. É autor de um ofício ao Procurador Geral da República questionando investigação policial antes mesmo de ela ser concluída", diz Helena

30 de outubro de 2019

(Foto: Lula Marques | Marcos Corrêa/PR)

Por Helena Chagas, no Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia

Jair Bolsonaro está fazendo Sergio Moro beijar a cruz. Para quem surpreendeu o país no comando da maior e mais implacável investigação de corrupção realizada em terras brasileiras, acusada inclusive de abusos resultantes de seu furor investigativo — sempre negados por ele —, o ex-juiz e atual ministro da Justiça está sofrendo um inusitado castigo. É autor de um ofício ao Procurador Geral da República questionando uma investigação policial antes mesmo de ela ser concluída.

O presidente da República teve seu nome citado no depoimento de um porteiro sobre a entrada de um dos acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco no condomínio em que Bolsonaro reside, sendo supostamente autorizado a entrar com destino à sua casa. Bolsonaro estava em Brasília nesse dia, e talvez bastasse provar isso de forma cabal. Não poderia ter se reunido com o suposto assassinato no dia do crime — e, embora o fato de o miliciano acusado ter dito que ia à sua casa seja altamente constrangedor, não comprova qualquer crime.

Ou seja, quem não deve, não teme. E se Bolsonaro não se reuniu com o sujeito, não se reuniu. Não há como incriminá-lo se isso de fato ocorreu. O próprio PGR Augusto Aras parece acreditar nisso, e está remetendo o caso à procuradoria no Rio.

Tampouco soa legítima, porém, a interferência do Executivo na investigação. Bolsonaro, com o apoio de Moro, quer que o porteiro seja novamente ouvido. Mas nem o presidente da República e nem seu ministro da Justiça têm prerrogativa legal para interferir em investigações e diligências em curso, recomendando novos depoimentos ou retificações sobre eles.

O ex-juiz da Lava Jato aponta “possível equívoco” na investigação e “eventual tentativa de envolvimento indevido do nome do presidente da República no crime”, advertindo que tais atos podem configurar crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho ou denunciação caluniosa.

Moro, quem te viu, quem te vê!


Brasil 247

É hora de Bolsonaro responder pelas suspeitas que o cercam




TV GGN

Como a imprensa preparou o ovo da serpente do bolsonarismo




TV GGN

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Boa Noite 247 (29.10.19) - Lula mais perto da Liberdade




TV 247

Bolsonaro diz ter afinidade com príncipe saudita envolvido em assassinato de jornalista


Após uma reunião com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, Jair Bolsonaro disse ter “certa afinidade" com ele. Salman é suspeito de mandar assassinar o jornalista Jamal Khashoggi, morto no interior das dependências da embaixada da Arábia Saudita na Turquia

29 de outubro de 2019

(Foto: PR | Reprodução)


247 - Após uma reunião com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, Jair Bolsonaro afirmou ter “certa afinidade com o príncipe”, que é suspeito de mandar assassinar o jornalista Jamal Khashoggi, morto no interior das dependências da embaixada da Arábia Saudita na Turquia. 

Nesta segunda-feira (28), Bolsonaro participou de um jantar com o príncipe saudita e nesta terça-feira (29) deverá voltar a se encontrar com Salman para uma reunião de negócios. "Tenho uma certa afinidade com o príncipe. Em especial depois do encontro em Osaka”, disse Bolsonaro após o encontro. 

Em um relatório datado de junho, a ONU diz existirem "provas confiáveis" da participação de Mohammed bin Salman na morte do jornalista. 

Confira o Twitter da BBC sobre o assunto. 



Foi assim que @JairBolsonaro respondeu à pergunta de uma repórter sobre a pauta dos encontros dele com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, logo mais em Riade, Arábia Saudita. Leia: https://bbc.in/2MYFn7j


Brasil 247

Bom dia 247, com Altman (28.10.19): Novo tempo na América do Sul




TV 247

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Pimenta acusa Moro de blindar Queiroz para proteger o clã Bolsonaro


O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) condena a omissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, para blindar o clã Bolsonaro de seus esquemas escusos com o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabricio Queiroz, suspeito de chefiar um esquema de "rachadinha"

28 de outubro de 2019

(Foto: GUSTAVO BEZERRA | Reuters | Reprodução)

247 - O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) condena a omissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, para blindar o clã Bolsonaro de seus esquemas escusos com o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabricio Queiroz. "Se o Moro não fosse Ministro da Justiça, Queiroz já estaria preso. Como caixa da famíglia Metralha a hora que ele cair caem todos. Até as despesas da Lady Micheque foram pagas com dinheiro da conta que Queiroz administrava. A mesma onde os familiares de milicianos tb depositavam" dispara Pimenta. 

Veja sua postagem:


Se o Moro não fosse Ministro da Justiça o Queiroz já estaria preso. Como caixa da famíglia Metralha a hora que ele cair caem todos. Até as despesas da Lady Micheque foram pagas com dinheiro da conta q Queiroz administrava. A mesma onde os familiares de milicianos tb depositavam

Entenda: 

Queiroz é suspeito de chefiar um esquema de rachadinha -quando parte dos salários dos servidores contratados pelo gabinete são obrigados a devolverem parte dos salários – nos tempos em que trabalhava no gabinete de Flávio Bolsonaro quando este ocupava uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Leia mais aqui

Em áudio divulgado na imprensa nesta segunda, além de dizer que tratou da exoneração de uma funcionária fantasma com o ex-capitão, Queiroz também reclama da falta de apoio por parte do clã Bolsonaro e da atuação do Ministério Público. “O MP está com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente e não vem ninguém agindo”, diz Queiroz no áudio divulgado pelo jornal


Brasil 247

domingo, 27 de outubro de 2019

Celso Amorim: mudança na Argentina se propagará pelo continente


Em entrevista de Buenos Aires para o jornalista Mario Vitor Santos, o ex-chanceler Celso Amorim diz que é uma importante "conjugação de fatos" comemorar o aniversário do ex-presidente Lula com a provável vitória de Alberto Fernandez para presidente da Argentina. "O neoliberalismo está sendo derrotado, porque não corresponde aos anseios do povo, às necessidades de uma economia moderna", diz ele

27 de outubro de 2019


247 - O ex-chanceler brasileiro Celso Amorim está na Argentina acompanhando as eleições presidenciais que acontecem neste domingo, 27, e avaliou o cenário político com a provável eleição do candidato de centro-esquerda Alberto Fernandez, numa derrota para o neoliberal Mauricio Macri. 

Em entrevista ao jornalista Mario Vitor Santos, do Jornalistas pela Democracia, no Hotel Savoy, em Bueno Aires, Celso Amorim diz que as mudanças na Argentina devem se espalhar pelo continente sulamericano. 

"Essas eleições são fundamentais. Nós estamos vendo toda essa reação ao neoliberalismo na América do Sul. Episódios no Equador, no Chile, a própria vitória do Evo Morales na Bolívia, a eleição na Argentina tem um sentido muito forte, porque é o País onde muitas das coisas começaram", disse ele.

"Caso se confirme, esta eleição será um vento de mudança como outros que vieram daqui do sul e que se propagará pelo continente. É de grande importância para o povo argentino", avaliou Amorim, acrescentando que o impacto da vitória de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner pode ir além da região. 

"De certa maneira é um laboratório onde o neoliberalismo foi testado, depois de uma eleição e ele está sendo derrotado, porque não corresponde aos anseios do povo, às necessidades de uma economia moderna", acrescentou o ex-chanceler brasileiro. 

Celso Amorim também comentou o aniversário de 74 anos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está sendo comemorado em dezenas de cidades pelo Brasil e no exterior. 

"É uma importante conjugação de fatos, comemorar o aniversáriodo Lula com uma vitória de forças progressistas", disse ele.

Inscreva-se na TV 247 e assista à entrevista de Celso Amorim ao Mario Vitor Santos:


Brasil 247

Lula e o tempo que não se aprisiona e que não se vence



POR FERNANDO BRITO · 27/10/2019




Este domingo é daqueles dias em que o encontro de passado e do futuro se enlaça e explode com força do hoje.


Lula, na prisão, tem uma paradoxal alegre festa de aniversário por todo o país.


Os argentinos, enterrados numa crise, estendem a mão para trazer de volta o peronismo kirchnerista.


Os chilenos cantam nas ruas as músicas de seu sonho libertário dos anos 70, por bocas que nem haviam nascido, então.


Na Bolívia e no Equador, torrentes de indígenas se afirmam como donos do que donos são.


O que foi e o que será têm um tão improvável quanto inevitável encontro em dias assim, correntes de um oceano onde singram nossas pequenas vidas, por eles sacudidas em vales e cristas das ondas da História.


Não tivemos medo das tempestades quando jovens, porque os jovens são magnificamente temerários e a curiosidade é um desafio ao medo.


Estranhamente, também não temos, agora que velhos, porque o medo já é tão velho conhecido que suas caretas pouco nos assustam.


O que nos deu rumo aos 20, teimosia aos 40, agora, passados os 60, já não deixa mudar roda do leme para buscar porto seguro.


E então, no encontro das águas que se vão e das que se vêm, podemos flutuar, encantados pelo tempo que há de nos tragar em breve.


E como não é um ato individual, mas o resultado da sucessão de gerações que formam esta maravilha que se chama povo e que se chama humanidade, ver escrito o que nem lembramos de escrever, ainda que numa caixa de papelão, nas agitadas ruas do Chile, embora o lugarejo onde vivem chame-se La Serena, como a batizar a alma de “los abuelitos” Raúl e Silvia.

Cantando como cigarras cantam ao sol, depois de anos debaixo da terra.



Tantas veces me mataron,
Tantas veces me morí,
Sin embargo estoy aquí
Resucitando.
Gracias doy a la desgracia
Y a la mano con puñal,
Porque me mató tan mal,
Y seguí cantando.

Cantando al sol,
Como la cigarra,
Después de un año
Bajo la tierra,
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra.

Tantas veces me borraron,
Tantas desaparecí,
A mi propio entierro fui,
Solo y llorando.
Hice un nudo del pañuelo,
Pero me olvidé después
Que no era la única vez
Y seguí cantando.

Cantando al sol,
Como la cigarra,
Después de un año
Bajo la tierra,
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra.

Tantas veces te mataron,
Tantas resucitarás
Cuántas noches pasarás
Desesperando.
Y a la hora del naufragio
Y a la de la oscuridad
Alguien te rescatará,
Para ir cantando.

Cantando al sol,
Como la cigarra,
Después de un año
Bajo la tierra,
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra.



Tijolaço

Parabéns, presidente Lula!


O colunista Gustavo Conde disseca a representação de Lula para o povo trabalhador brasileiro no momento em que a América Latina passa por uma gigantesca transformação social. Ele diz: "Lula é a síntese do Brasil, mas não do Brasil fraudulento das elites seculares. Lula é a síntese da resposta que o povo brasileiro produziu diante dessas elites, num misto de paciência, generosidade, inteligência, sacrifício, resiliência e apetite por soberania"

27 de outubro de 2019

A interdição de Lula e a última ilusão (Foto: Stuckert)

De todas as qualidades de Lula, o seu apreço pela democracia é o mais impressionante. Quando decidiu combater a ditadura militar e as injustiças seculares que emperravam o desenvolvimento social de um país inteiro, Lula não organizou uma guerrilha, nem um exército paramilitar. Ele fundou um partido político. 

É por isso que sua figura não fica muito confortável no panteão dos chamados maiores revolucionários de esquerda da história: Fidel, Mao, Lenin, Che, todos tinham uma visão romântica do poder. Era pegar em armas, rechaçar o inimigo e promover a manutenção do novo sistema à força. 

Muita gente ainda acha hoje que esse é o caminho e, confesso que o Brasil, com sua imensa paciência de Jó, às vezes me faz pensar se não seria o caso.

A síndrome do totalitarismo, infelizmente, habita também os corações repletos de boas intenções – e a batalha semântica que daí decorre permanece atiçando os neurônios de muita gente que se diz progressista, incluindo os deste missivista. 

Mas o assunto é Lula e Lula é muito mais assunto do que tudo isso. A revolução que Lula promoveu nada tem a ver com as revoluções consagradas da esquerda romântica. Lula é muito maior do que todas elas juntas. 

Sem dar um tiro, sem usar a força, sem sequer usar a retórica da intimidação, Lula promoveu uma revolução muito mais profunda que as insurreições rudimentares subscritas no rol das soluções rápidas de turno. 


Lula fez uso do instrumento mais democrático da história do mundo do trabalho: a greve – este dispositivo tão demonizado por nossa elite e por nosso jornalismo de cativeiro. 

A partir das greves, Lula construiu um partido político, o único partido real de massas do país e um dos mais importantes do mundo. Goste-se ou não do PT, trata-se de um patrimônio brasileiro, tão imponente quanto a nossa música popular ou como as 160 línguas indígenas aqui faladas. 

Não bastasse, Lula mergulhou sua trajetória na odisseia do voto popular. Foi candidato a governador. Perdeu. Foi candidato a deputado constituinte. Ganhou. Foi três vezes candidato a presidência da República, perdeu. Insistiu e ganhou duas. No conjunto da obra, obteve mais de 280 milhões de votos dos brasileiros, somando-se eleições e turnos. 


Não há notícia de líder político com mais votos, a se julgar a proporção da população brasileira. 

Isso sem contar a imensa quantidade de prefeitos, deputados e governadores que se elegeram às custas de sua imagem ao longo de 30 anos da extinta democracia brasileira. 

Lula ainda foi além na compreensão de republicanismo democrático e recusou o terceiro mandato. Foi a antítese de FHC, que deu um golpe comprando o seu segundo mandato. Fica relativamente fácil de perceber por que FHC tem inveja mercurial de Lula e por que a nossa elite tende à histeria sôfrega quando o nome de Lula é pronunciado pelo povo. 

No mundo, só Mandela e Gandhi poderiam reivindicar posição similar à estatura histórica de Lula. 

E se você estranhou, praguejou ou pigarreou lendo a sentença acima, é porque seu complexo de vira-lata, caro leitor, ainda não foi totalmente superado. Porque é exatamente o complexo de vira-lata que produz a sentença invertida, tão popular nas hostes progressistas de grife: ‘Lula é tão grande quando Mandela e Gandhi’. 

Na verdade, trata-se do contrário: ‘Mandela e Gandhi são tão grandes quanto Lula’. 

Autoestima é isso. É não continuar a achar que o estrangeiro é sempre melhor, não importa se no enquadre etnocêntrico ou não. 

Hoje, ademais, é dia de Lula. Hoje e sempre. Este homem merece ter sua verdadeira dimensão reconhecida pelo mundo, até porque ele permanece generoso e humilde, com seus hábitos simples e sua lealdade à democracia. 

Lula é o produto mais extraordinário da somatória de toda a complexidade humana que estrutura essa ideia chamada Brasil. Nem a literatura foi capaz de produzir uma personagem tão complexa e tão representativa de nossa multiplicidade cultural, étnica e política. 

Lula é a síntese do Brasil, mas não do Brasil fraudulento das elites seculares. Lula é a síntese da resposta que o povo brasileiro produziu diante dessas elites, num misto de paciência, generosidade, inteligência, sacrifício, resiliência e apetite por soberania. 

Lula é a razão pela qual o Brasil ainda não explodiu em violência como tantos outros países portadores de elite genocida pelo mundo. 

Ele não foi Fidel, não foi Mao, não foi Lenin. É essa ambiguidade que faz a elite latejar em histeria permanente diante da monumentalidade de Lula: é graças a ele, Lula, que essa elite ainda não foi dizimada por uma revolta popular violenta. Paradoxalmente, Lula municia o país de diálogo e política, com todos os corolários que esse gesto pode desencadear, até o próprio sufocamento, como a prisão política tentou lhe impor até aqui. 

Mas Lula é fênix. Sua capacidade de se reinventar é tão grande que derrotas são transformadas em vitórias num piscar de olhos. Ele já deu essa aula e o hábito o coloca mais uma vez na condição de professor. 

Por outro lado, a América Latina entra em ebulição, também na esteira das injustiças cometidas contra Lula. 

Se Lula fosse argentino e estivesse na condição de preso político, a população daquele país já teria incendiado todas as ruas e praças. Se fosse chileno, já estaria nos braços do povo. Equatoriano, idem. Se fosse boliviano, já teria saído do cárcere político e conquistado, inclusive, o acesso ao mar. 

Aliás, que ninguém nos ouça, se Lula fosse argentino, já teria ganho o Nobel da Paz, porque soberania e autoestima coletiva aparentemente fazem parte do efeito de respeitabilidade internacional pressuposto na concessão daquele prêmio. 

Em tempo: o imaginário subserviente brasileiro costuma fazer piada do ego argentino buscando um efeito compensatório: diante do nosso complexo de vira-lata, a autoestima do vizinho assusta. 

Toda essa engrenagem das reações embutida na monumentalidade de Lula e no caráter macunaímico – e anímico – do brasileiro pacifista de si mesmo não significa apenas manifestar a frustração de não poder participar de uma insurreição inflamada pró Lula, mas significa, entre outras coisas, que Lula jamais seria apenas argentino, chileno ou equatoriano.

Lula é cidadão do mundo.

Mas, estruturalmente, Lula é um brasileiro de origem pobre. Sua luta é travada em uma outra dimensão, na dimensão das palavras, dos gestos, dos tempos, dos sentidos, da espiritualidade, da memória, da arte, do sonho, do amor e do exercício da inteligência. 

É por isso que América Latina e Lula se complementam. Os países latino-americanos precisam de Lula justamente por Lula ser diferente. Lula, por sua vez, precisa da América Latina, pois ela verbaliza a defesa clássica que se faz da soberania dos povos. 

Convém, nesse ínterim, não esquecer de uma coisa: Chile, Argentina, Uruguai e países irmãos não têm uma Rede Globo para massacrar sua soberania. Isso faz uma diferença considerável. A imprensa desses países pode ser mentirosa, violenta e subserviente aos EUA, mas nada se compara à Rede Globo que, a rigor, também é fruto de uma singularidade: é a representação perfeita da elite mais subdesenvolvida do planeta, potencializada pelas dimensões de um país continental.

Essa também é parte da explicação para o fato de Chile, Equador e Argentina se revoltarem contra o neoliberalismo desalmado: sem Globo, fica mais fácil. 

Mas o assunto é Lula. Lula e a América Latina. Brasil e América Latina. O que ocorre no Chile é, em grande medida, a resposta que os brasileiros não puderam-quiseram dar ao golpe de Estado contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. 

O golpe no Brasil devastou o continente e a resposta chegou antes nos países vizinhos. O que vemos agora é o a América Latina sendo repovoada por governos soberanos de esquerda, à exceção miserável do Brasil que, por sua vez, caminha para o mesmo e irresistível destino. 

O povo latino-americano ama Lula. O povo latino-americano se inspira em Lula. O povo latino-americano sente a dor de Lula. O povo latino-americano precisa de Lula. 

Nós, brasileiros, precisamos dessa complementariedade. O momento é absolutamente alvissareiro para que, de uma vez por todas, o continente se una para produzir muita democracia e muita soberania. 

Sozinho, o Brasil é uma eterna jabuticaba. As singularidades deste país e o espírito democrático de Lula podem encontrar sua cara-metade política e aprofundar ainda mais os laços que foram construídos pelos governos soberanos do passado recente. 

Não é à toa que um dos primeiros sinais emitidos pelo novo presidente argentino seja o gesto Lula Livre, pois a Argentina precisa muito de Lula para enfrentar o desafio de lidar com herança maldita deixada por Maurício Macri. 

São essas e outras razões que me fazem, de maneira sentida, dar os parabéns a essa emanação da natureza chamada Luiz Inácio Lula da Silva. 

Lula, caros leitores, faz apenas 74 anos. Joe Biden tem 76, Roger Waters, 76, Gilberto Gil, 77, Bernie Sanders, 78 e Pepe Mujica 84. Ele é o caçula. Um caçula disciplinado que cuida da saúde como poucos. 

Dar os parabéns ao Lula é saber que ele estará presente, em vida e na política, pelos próximos 20 anos, com extrema disposição. Alguém aqui já viu um nordestino que passa dos 90 anos em ação? Tentem ver. Eles cultivam a terra, cuidam da família e apreciam tudo o que há de melhor nesta vida, da cachaça à poesia, da cantoria ao amor. 

Parabéns, Lula! Celebrar sua chegada a este mundo é celebrar o próprio mundo. 

Assista a última Live do Conde, sobre Lula e América Latina: 



Brasil 247

Entre Vistas com o economista Eduardo Moreira




TVT

STF adia julgamento e segue suspense sobre... Lula. Queiroz faz-tudo oferece 500 empregos no Estado




LT   -   You Tube   - Bob Fernandes

A história de Eduardo Cunha, o político mais perigoso da República

Chico Otávio e a vida turbulenta de Eduardo Cunha, o homem que incendiou a República




GGN

Capa de Veja contra Lula já foi desmentida por três fontes


Veja já foi desmentida, nesta sábado (26), por 3 fontes: o delegado que tomou o depoimento em outubro de 2018, o promotor que encaminhou a delação ao Gaeco, em São Paulo, e o empresário Ronan Maria Pinto, que afirmou que Valério, se disse o que disse, foi porque quer benefícios da Justiça. O PT, presidido por Gleisi Hoffmann, anunciou processo

27 de outubro de 2019


Capa da Veja e Gleisi Hoffmann (Foto: Esq. Agência Câmara/Dir. Reprodução)

Jornal GGN – Mara Gabrilli teria sido, segundo informações de Joaquim de Carvalho no DCM, a fonte de Veja para produzir uma capa associando Lula à morte de Celso Daniel.

A reportagem se sustenta em uma delação premiada de Marcos Valério, que supostamente teria dito que o empresário Ronan Maria Pinto “ameaçava” entregar o ex-presidente como “mandante” do assassinato que aconteceu em 2002.

Veja já foi desmentida, nesta sábado (26), por 3 fontes: o delegado que tomou o depoimento em outubro de 2018, o promotor que encaminhou a delação ao Gaeco, em São Paulo, e o empresário Ronan Maria Pinto, que afirmou que Valério, se disse o que disse, foi porque quer benefícios da Justiça, já que está preso indefinidamente em Minas Gerais.

Mara não é a fonte mais confiável para falar qualquer coisa sobre a morte de Celso Daniel. A empreitada da senadora neste campo é pessoal.

A tucana é filha de empresário do ramo de transportes de Santo André que faleceu. Há décadas, a senadora diz que a saúde do pai foi impactada pelo que aconteceu nos tempos de PT numa das maiores cidades do ABC Paulista, que costumava ser um “cinturão vermelho” antes da Lava Jato.



Brasil 247

Como presente de aniversário, Lula pede que "não deixem destruir o país"


“Eu, quando sair daqui, eu quero… Não sei pra onde ir, mas eu quero me mudar pra outro lugar. Eu quero viver. Eu espero que o PT me utilize, espero que a CUT me utilize, espero que os sem-terra me utilizem, espero que os LGBT me utilizem, espero que os quilombolas me utilizem, espero que as mulheres me utilizem, espero que todo mundo me utilize para fazer com que eu tenha utilidade nessa minha passagem pelo planeta Terra”, diz ele, que hoje completa 74 anos

27 de outubro de 2019


(Foto: Stuckert)

Por Michelle Carvalho, no Brasil de Fato – Em quase duas horas de entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, concedida nesta quarta-feira (23), Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre as comemorações Brasil afora pelo seu aniversário, neste domingo (27), e a rotina dentro da prisão em Curitiba. 

Visivelmente emocionado ao falar da Vigília Lula Livre, o ex-presidente diz que sente vontade em passar seu aniversário junto das pessoas que estão acampadas em frente a Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), desde quando foi preso, em abril de 2018.

“Vou até falar para o diretor aqui, o doutor Luciano, que ele poderia vir aqui na hora do aniversário, eu sair daqui com ele e ir lá, soprar as velinhas. São 74 velinhas, e eu não vou ter fôlego para assoprar tudo. Aí eu vou lá, vejo o aniversário, como um pedaço de bolo e volto para cá, não tem nenhum problema”, brinca Lula.

Lula fica emocionado ao dizer que só vai poder receber um pedaço de bolo que os militantes vão preparar para ele na terça-feira, após o feriado do funcionalismo público, quando o expediente da Polícia Federal volta a funcionar. "Eu não tenho nem como receber. Vão ter que guardar o bolo para eu comer um pedacinho. Vou ouvir [os parabéns]. Eu estou triste por estar aqui, mas feliz por ter tantos amigos do lado de fora", completa.

Como presente de aniversário, ele pede que "as pessoas não deixassem destruir o país" e completa que "não há presidente que seja eleito para destruir o país".

Entre livros e músicas

Quanto à rotina dentro da Superintendência da Polícia Federal, além da leitura de livros e biografias, como a de Nelson Mandela, Gandhi, Carlos Marighella e Padre Cícero de Juazeiro, ele diz que está lendo mais sobre o tempo em que os negros foram escravizados no Brasil.

“Uma coisa que me interessa muito é ler sobre a escravidão. Estou aprendendo porque o Brasil é do jeito que é, porque ainda existe preconceito… Esse é um tema que me apaixonou, porque eu nunca consegui entender, não sei se vocês lembram, quando eu era presidente, a gente tentou, foi aprovada uma lei, o Fernando Haddad [então ministro da Educação] deve se lembrar disso, para ensinar a história africana no Brasil, que era umas formas que eu achava que a gente iria vencer o preconceito nesse país”, lembra.

Entre uma leitura e outra, Lula também ouve muita música, inclusive cantos gregorianos, que às vezes, embalam suas noites de sono. O ex-presidente acorda cedo, prepara o próprio café e garante o sabor inigualável da bebida.

“Eu vou dormir por volta de meia-noite, uma hora da manhã. Eu acordo todo dia às seis e meia da manhã, faço meu café, faço um café de qualidade. Acho que não tem ninguém que faça um café melhor do que eu”.

Na conversa, o ex-presidente também reafirma o desejo de casar novamente, ressaltando que encontrou uma pessoa que o está ajudando a passar por esse momento.

Para o futuro, Lula já está se preparando agora. Ele afirma que não vai deixar o ódio, a solidão, o desânimo ou a depressão tomar conta, o que ele quer é viver.

“Eu, quando sair daqui, eu quero… Não sei pra onde ir, mas eu quero me mudar pra outro lugar. Eu quero viver. Eu espero que o PT me utilize, espero que a CUT me utilize, espero que os sem-terra me utilizem, espero que os LGBT me utilizem, espero que os quilombolas me utilizem, espero que as mulheres me utilizem, espero que todo mundo me utilize para fazer com que eu tenha utilidade nessa minha passagem pelo planeta Terra”, finaliza.

Ao se despedir, o ex-presidente pede que a equipe do Brasil de Fato diga para todo mundo que está bem, muito disposto a brigar e manda um abraço a todo mundo.

Confira os trechos mais importantes da entrevista:



Brasil 247

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Uma breve nota sobre o Chile em chamas, por Rodrigo Medeiros


Baradit mostra que os planos para impedir um governo popular existiam desde antes de Allende ganhar as eleições.


-25/10/2019


Uma breve nota sobre o Chile em chamas, por Rodrigo Medeiros

Os recentes distúrbios sociais no Chile merecem reflexão. Afinal, como pôde o oásis neoliberal na América do Sul ter se transformado em um campo de batalha? Para responder a tal questionamento, evoco um livro de grande repercussão recente no Chile, “La dictadura” (2018), de Jorge Baradit. Para o autor, é preciso reconhecer que a ditadura foi uma luta de classes na qual a elite chilena semeou o terror, acusando Allende de querer instalar uma ditadura do proletariado e suprimir as liberdades individuais. Pinochet encabeçou a via armada ao neoliberalismo.

Baradit mostra que os planos para impedir um governo popular existiam desde antes de Allende ganhar as eleições. A União Soviética não tinha interesse no projeto democrático chileno e nunca o apoio. Com o apoio dos Estados Unidos, por sua vez, a elite chilena adotou várias ferramentas de desestabilização do governo. Uma classe média influenciável e medrosa apoiou essa sabotagem do governo de Salvador Allende. Baradit cita documentos desclassificados de órgãos da inteligência norte-americana e reconhece ainda os erros políticos da Unidade Popular.

O contexto da Guerra Fria e a famigerada Escola das Américas são descritos como elementos de tempos sombrios para a América do Sul. Deve-se destacar que sob a Unidade Popular ocorreu a nacionalização do cobre, então em poder de empresas norte-americanas. Ao final de 1972, houve uma greve de caminhoneiros que paralisou o país, obstruindo a distribuição de alimentos e artigos de primeira necessidade. A pressão derivada da sabotagem sobre a economia era enorme, inflação e desabastecimento. No plano externo, a escassez de crédito ajudava a estrangular o país. O espantalho do comunismo era manipulado pelos golpistas, que provocavam medo ao falar de cubanos inexistentes e tanques russos que viriam cruzando os Andes. Em junho de 1973, já estava claro que o golpe viria.

De acordo com Baradit, “la economía se iba al carajo. Unos temían lo peor, otros buscaban lo peor. Las diferencias se volvierón irreconciliables”. A paralisação dos transportes públicos agravou a situação do governo Allende. No dia 30 de agosto, o presidente Allende declarou em discurso público: “!Solo acribillándome a balazos podrán impedir la voluntad que es hacer cumplir el programa del pueblo!” Seus partidários sentiam que estava escapando pelos dedos as possibilidades de realizar mudanças sociais em um país espantosamente desigual.

Em seu último pronunciamento, descrito no livro citado, Allende falou para a história: “En nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente; em los atentados terroristas, volando los puentes, cortando las líneas férreas, destuyendo los oleoductos e los gaseodutos, frente al silencio de quienes tenían la obligación de proceder. Estaban comprometidos. La historia los juzgará”.

O primeiro momento do golpe foi de massacre indiscriminado. Segundo afirma Baradit, “el valle de Santiago era un campo de concentración cercado por controles militares armados”. A Direção Nacional de Inteligência (Dina) seria a Gestapo do novo regime. Os Chicago Boys entregaram um plano chamado “El Ladrillo”, a ser seguido após o golpe de 11 de setembro de 1973. As privatizações e a redução do poder regulatório do Estado integravam esse plano. As manufaturas chilenas regrediram e o país se viu como vendedor de matérias-primas novamente, vendedor de cobre e comprador de cabos de cobre. A implantação de um modelo econômico liberal selvagem transformou vários aspectos sociais básicos da vida coletiva em negócios privados. Em 1990, a ditadura entregou um país com índices de pobreza entre 40% e 45%. A redemocratização chilena teria que lidar com a tutela das Forças Armadas, comandadas pelo general Pinochet.

Segundo Baradit, “los peores años de la economía chilena se vivieron durante la dictadura de los Chicago Boys”. Nenhuma governo democrático suportaria tais experimentos. Ainda segundo o autor, “nuestro principal error fue pensar que el fin de Pinochet en el gobierno significaba el fin de la dictadura, porque no fue así”. O espírito da ditadura continuaria por outros meios. A distribuição de rendas e riquezas piorou sob a ditadura e a Concertação foi pouco ousada para mexer na estrutura do modelo econômico herdado, por temer o Exército e o poder econômico estabelecido. Conforme aponta Baradit, “este país es dirigido económicamente por una militancia pinochetista agradecida de los privilegios recibidos. Una elite que tiene el poder económico, militar, de los medios, de las tierras, de las industrias, de la prensa, de todo”.

Como lição, talvez caiba citar mais uma vez um trecho do livro de Baradit: “Quisimos la vía democrática al socialismo y nos dieron la vía armada al neoliberalismo”. A sombra da ditadura segue vigente no Chile. O Chile é um dos países mais desiguais do mundo (aqui). Uma pesquisa divulgada recentemente pelo instituto Ipsos revela que 67% dos entrevistados naquele país “se cansaram de suas condições de vida nas áreas econômica, de saúde e aposentadoria”, que consideram “desiguais e injustas”. Assim como no Chile, no Brasil o 1% mais rico da população detém mais de 25% da renda.

Estive no Chile neste ano e não captei então a convulsão social que tomaria conta das ruas do país. Alguns colegas me disseram que conversei mais com os adultos e muito pouco com os jovens. Enquanto os primeiros guardam as dores da ditadura e, portanto, o medo do questionamento do modelo econômico herdado, os mais jovens seriam os protagonistas das manifestações por não terem vivido esse período de trevas da história chilena. Faz sentido. Deixo aqui algumas das últimas palavras públicas de Salvador Allende para encerrar: “Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir una sociedad mejor”.


GGN

Herança maldita ajuda a entender caos social no Chile, por Bruno Lima Rocha


O país de Lautaro e da nação Mapuche vive uma dupla mazela como Estado pós-colonial


-24/10/2019



por Bruno Lima Rocha*


A rebelião do povo chileno, cujo estopim foi o anúncio do aumento das passagens do metrô, na capital Santiago, tem raízes profundas. O país de Lautaro e da nação Mapuche vive uma dupla mazela como Estado pós-colonial.


A primeira é comum à toda América Latina e se trata da condição dependente, subalterna e periférica. Ao contrário do que arvoram os defensores do neoliberalismo, o Chile não é uma economia complexa. Segue dependendo das exportações de cobre e, sim, está muito privatizado. Essa é a segunda mazela.


Toda a rotina é muito cara, os índices reais de condições de vida são altos e praticamente não há rede de proteção social. A educação superior é paga e não há cobertura universal de saúde. Salários rebaixados e cerca de 40% da população concentrada na capital e região metropolitana.


No Chile, assim como no Brasil, o 1% mais rico fica com 25% da renda nacional. Não há sociedade moderna que sustente isso. Como é possível uma sociedade ser sadia se nela a condição normal é o desencanto, somado com a desesperada luta pela sobrevivência, além da certeza da maioria de que não terá uma velhice tranquila? É uma sociedade “metamorfoseada”, como os EUA, com a singela exceção do poderio da superpotência diante dos diminutos PIB e da posição do Chile no Sistema Internacional.


Após 29 anos de democracia formal, o Chile ainda vive sob a égide da legislação antiterrorista – que deu base ao texto aprovado no Brasil, ainda no governo Dilma Rousseff – o que, na prática, implica em criminalizar a luta social e suas variadas formas de protesto. E tal como era no início do século 20 em nosso continente, a repressão não impede a luta, mas a agudiza. Um regime “democrático”, tutelado pelos Carabineros (polícia militar nacional) e aplastrado pela desigualdade, não pode pretender muito. Não há como governar sem o mínimo de condições materiais imediatas e expectativas de futuro. E isso o neoliberalismo não sabe e não quer assegurar.


Muito do que hoje ocorre está para além das políticas antissociais dos governos Sebastián Piñera (2010-2014 e atual) e Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018). Tal como Mauricio Macri na Argentina, Piñera não prometeu nada diferente do que está fazendo. Era evidente que a vida se tornaria mais difícil, com maior nível repressivo e desespero societário. O problema não é só a direita sendo a direita, mas os governos da Concertación não tocando nas estruturas de Estado deixadas como legado da herança maldita da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), a Dina (polícia política que também operou no narcotráfico) e seus sócios Chicago Boys, da economia neoclássica de Milton Friedman.

PUBLICIDADE




O golpe de Estado contra o governo de Salvador Allende (1970-1973) assassinou, além de mais de 11 mil, também um arranjo social que seria minimamente estável, solidário e economicamente regulado. Apesar do heroísmo do médico presidente, era óbvio que nem o Departamento de Estado (os militares entreguistas, chamados de vende patria, em espanhol) e menos ainda a oligarquia chilena iriam permitir uma “transição pacífica” para o socialismo. Ao contrário, promoveram o terrorismo de Estado e tais instituições continuam perpetuando a repressão generalizada.


Diante desse desenho societário e da impotência dos governos de turno (independente se mais à direita ou menos à esquerda), a cada geração de jovens chilenos fica evidente que o modelo não mudaria por “boa vontade” dos controladores das riquezas do país e seus patrões externos. Some-se a revolta social ao racismo anti-indígena atravessado pelo consumo frustrado e a memória histórica do pinochetismo, sempre viva diante da carestia e do desespero para fechar as contas do mês para as famílias de baixa renda.


Podemos comparar o momento do Chile com outros episódios latino-americanos sob democracia oligárquica. Penso no Caracazo venezuelano e no Estallido Social argentino, com a hiperinflação, ao fim do Plano Austral. No Chile, além da explosão popular, também há incidência dos movimentos sociais organizados e as esquerdas mais à esquerda dentro e fora do espectro eleitoral. Se o povo chileno conquistar uma nova Assembleia Constituinte dotada de uma rede de proteção social pública e gratuita, será uma vitória para a terra de Manuel Rodríguez e também para toda a América Latina.


*Bruno Lima Rocha é cientista político, professor de Relações Internacionais e Jornalismo na Unisinos



GGN

Nassif após acusação de Veja contra Lula: preço do subdesenvolvimento é elevado


"Marcos Valério, lá de Belo Horizonte, informa que Lula mandou matar Celso Daniel", escreve Luis Nassif no Jornal GGN. "É a revista que anunciou que as FARCs iriam invadir o Brasil, que Cuba mandava dólares para o PT em garrafas de rum, que milhares de dólares entravam em envelopes no Palácio do Planalto. A revista se autodestruiu"

25 de outubro de 2019


247 - "Marcos Valério, lá de Belo Horizonte, informa que Lula mandou matar Celso Daniel", escreve Luis Nassif no Jornal GGN. "É a velha Veja de volta, com a mesma falta de criatividade, com os mesmos roteiros cinematográficos, em torno dos mesmos vilões e dos mesmos factoides". De acordo com o jornalista, "a guerra intestina produziu Bolsonaro e seu exército de zumbis, desmontou políticas públicas que levaram décadas para serem montadas, espalha a selvageria por todos os cantos do país".

"Mas os poderes institucionais – com destaque para a mídia – persistem no vale tudo e na marcha da insensatez", diz. "É a revista que anunciou que as FARCs iriam invadir o Brasil, que Cuba mandava dólares para o PT em garrafas de rum, que milhares de dólares entravam em envelopes no Palácio do Planalto. A revista se autodestruiu, tentou se refazer, mas a síndrome do escorpião falou mais alto. Não adianta. O preço do subdesenvolvimento é elevado".

Leia a íntegra no GGN


Brasil 247

Bom dia 247, com Brian Mier (25.10.19): Lula mais perto da liberdade




TV 247

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

0:03 / 1:01 NJN: SUPREMO DECIDE SE LULA CONTINUA PRESO OU NÃO




Nocauate

Rosa vota pela presunção de inocência e abre porta para liberdade de Lula


Em seu voto decisivo, ministra do STF Rosa Weber se manifesta pela prisão após condenação transitada em julgado. "Não é dado ao intérprete ler o preceito constitucional pela metade, como se tivesse apenas o princípio genérico da presunção da inocência, ignorando a regra que nele se contém – até o trânsito em julgado”. Placar fica em 3 a 2 pela prisão em segunda instância

24 de outubro de 2019

Tijolaço: Rosa Weber faz o que Moro mandar (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)

247 com STF - O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou na tarde desta quinta-feira (24) o julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADC) 43, 44 e 54, nas quais se discute a prisão após condenação em segunda instância. 


O resultado do julgamento poderá colocar em liberdade o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é mantido como preso político há mais de 500 dias. 

Com placar de 3 a 1 pela prisão após condenação em segunda instância, a análise foi retomada com o voto da ministra Rosa Weber. Ela indica ser favorável ao texto constitucional que determina prisão só após a ação trânsito em julgado. 

"Não é dado ao intérprete ler o preceito constitucional pela metade, como se tivesse apenas o princípio genérico da presunção da inocência, ignorando a regra que nele se contém – até o trânsito em julgado”, diz a ministra. 

Antes de Rosa Weber, três ministros – Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Roberto Barroso – consideram que o início da execução da pena após decisão de segunda instância é constitucional. O relator das ações, ministro Marco Aurélio, entende que essa possibilidade ofende o princípio constitucional da presunção de inocência.


· 1h



Rosa: "Minha leitura constitucional sempre foi e continua a ser exatamente a mesma". A ministra lembra que, ao negar HC do ex-presidente Lula em 2018 permitindo a prisão em 2ª instância, foi em "atenção ao princípio da segurança jurídica". Acompanhe: 







Rosa Weber se manifesta contra a prisão após condenação em 2ª instância. "Não é dado ao intérprete ler o preceito constitucional pela metade, como se tivesse apenas o princípio genérico da presunção da inocência, ignorando a regra que nele se contém – até o trânsito em julgado”

Acompanhe ao vivo:



Leia texto do STF sobre o julgamento

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) prosseguirá, na sessão de quinta-feira (24), o julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADC) 43, 44 e 54, nas quais se discute a possibilidade de iniciar o cumprimento da pena antes de serem esgotadas todas as possibilidades de recurso (trânsito em julgado). Até o momento, três ministros – Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Roberto Barroso – consideram que o início da execução da pena após decisão de segunda instância é constitucional. O relator das ações, ministro Marco Aurélio, entende que essa possibilidade ofende o princípio constitucional da presunção de inocência. A análise será retomada com o voto da ministra Rosa Weber.
As ações foram ajuizadas pelo Partido Ecológico Nacional (PEN, atual Patriota), pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O objeto é o exame da constitucionalidade do artigo 283 do Código de Processo Penal (CPP), que prevê, entre as condições para a prisão, o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Relator

Na sessão da manhã desta quarta-feira (23), o ministro Marco Aurélio votou pela constitucionalidade do dispositivo do CPP e, como consequência, pela suspensão da execução provisória de penas que tenham sido determinadas antes do trânsito em julgado, com a libertação dos que tenham sido presos após o julgamento de apelação.

Segundo o ministro, a literalidade do inciso LVII do artigo 5º da Constituição Federal, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, não deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação. A exceção à prisão após o esgotamento de recursos, ressaltou o relator, se dá em situações individualizadas, quando se concluir pela aplicação da prisão preventiva, nos termos do artigo 312 do CPP.


Ministro Alexandre de Moraes

Para o ministro Alexandre de Moraes, que abriu a divergência, uma decisão condenatória de segunda instância fundamentada, que tenha observado o devido processo legal, afasta o princípio constitucional da presunção de inocência e autoriza a execução da pena. O ministro considera que o juízo natural para a análise da culpabilidade do acusado são as chamadas instâncias ordinárias (primeiro e segundo graus), a quem compete o exame dos fatos e das provas.

Ele frisou a necessidade de dar efetividade à atuação dessas instâncias e argumentou que, em caso de eventual ilegalidade ou inconstitucionalidade, existe a possibilidade de concessão de habeas corpus ou de medida cautelar para que o sentenciado aguarde em liberdade o exame da questão pelos tribunais superiores. “Ignorar a possibilidade de execução de decisão condenatória de segundo grau, fundamentada e dada com respeito ao devido processo legal e ao princípio da presunção de inocência, é enfraquecer as instâncias ordinárias”, afirmou.

Ministro Edson Fachin

Para o ministro Edson Fachin, é coerente com a Constituição Federal o início da execução da penal quando houver confirmação da condenação em segundo grau de jurisdição, salvo quando for expressamente atribuído efeito suspensivo ao recurso cabível. No seu entendimento, a possibilidade não afasta a vigência plena das garantias relacionadas ao princípio constitucional da presunção de inocência. “É inviável sustentar que toda e qualquer prisão só pode ter seu cumprimento iniciado quando o último recurso da última corte constitucional tenha sido examinado”, ressaltou.

O ministro afirmou não desconsiderar que o atual sistema prisional brasileiro “constitui um verdadeiro estado de coisas inconstitucional”, mas observou que essa inconstitucionalidade não diz respeito apenas à prisão para o cumprimento da sentença, mas a toda e qualquer modalidade de encarceramento. Ressaltou ainda que a jurisprudência da Corte Interamericana e da Corte Europeia considera delimitado o alcance da presunção de inocência.


Ministro Luís Roberto Barroso

Ao acompanhar a divergência, o ministro Luís Roberto Barroso destacou que os fundamentos contra a possibilidade de execução provisória “não resistem ao teste da realidade”. Segundo o ministro, dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) demonstram que o índice de encarceramento no Brasil e o percentual de prisões provisórias diminuiu após 2016, quando o STF assentou a atual jurisprudência sobre a matéria.

O ministro ressaltou que o inciso LVII do artigo 5º da Constituição prevê que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, enquanto o dispositivo que trata da possibilidade de prisão é o inciso LXI do mesmo artigo, segundo o qual ninguém será preso senão em flagrante delito. “O requisito para decretar a prisão no sistema brasileiro não é o trânsito em julgado, mas a ordem escrita e fundamentada da autoridade competente”, afirmou. Em sua avaliação, o cumprimento da pena apenas após o trânsito em julgado incentiva a interposição de recursos protelatórios e contribui para a impunidade.



Brasil 247