POR FERNANDO BRITO · 06/10/2019
É impressionante o deserto mental de Jair Bolsonaro ao falar sobre os rumos da economia de nosso país.
“Não tem plano B. A economia é 100% com o Guedes. Não discuto. É 100% com o Guedes. Dou sugestões às vezes, de vez em quando eu tenho razão, ele diz que vai tomar providência”, diz ele ao Estadão, em entrevista com direito a pose de jogador de futebol em transmissão esportiva, mesmo que o time vá mal.
E vai.
Depois de nove meses de governo está claro que não havia e não há um “Plano A”, está claro que o governo não tem plano algum para arrancar o Brasil da estagnação.
As únicas iniciativas relevantes foram retardar a concessão e reduzir os benefícios das aposentadorias – o que não vai, no curto prazo, significar nenhum alívio fiscal – e vender patrimônio para obter folga de caixa, aliás insuficiente.
Nenhuma palavra sobre a crise na indústria, zero sobre o potencial do petróleo, coisa alguma sobre consumo e crédito, exceto que a Caixa Econômica baixou os juros do cheque especial. Baixou, de fato, para “apenas” 10% ao mês, com uma inflação de 4% ao ano.
Menos ainda sobre a teimosa estagnação do PIB e para as crescentes previsões de que, ano que vem, repete-se a dose zero.
A entrevista é uma dissertação primária sobre o nada, um retrato das miudezas mentais de alguém que não tem qualquer estratégia de desenvolvimento autônomo do Brasil e que só enxerga como oportunidade “estar bem” com os EUA – ou o trumpismo.
Parece não perceber que a economia mundial está na iminência, senão de um terremoto, de uma desaceleração como a que experimentou uma década atrás e que nós, de lambuja, ainda temos conexão relevante com nossos vizinhos de subcontinente sul-americano, quase todos metidos em crises e convulsões políticas: Venezuela, Argentina e agora Peru e Equador .
As prioridades nacionais são afundar barcos diante de hotéis para atrair turistas-mergulhadores, produzir bugigangas de nióbio ou suspender a importação de três caminhões de bananas equatorianas.
Empregos? Viva o Temer, diz ele, argumentando que “se o Temer não fizesse a reforma trabalhista, estaria numa situação pior do que estava antes”.
Políticas econômicas podem dar errado, mas a ausência de uma sempre dá errado.
Tijolaço
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