Fernando Brito
Protocolada no Senado – com 31 ou 32 assinaturas- pois os números divergem mas é improvável que se consiga tirar três ou quatro senadores – a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito que quer analisar as denúncias de favoritismo e corrupção no Ministério da Educação ainda tem consequências difíceis de serem antecipadas, embora nenhuma delas sugira deixar de prejudicar Jair Bolsonaro.
Daí a que ela venha a ser instalada é outra caminhada, muito embora pareça que Rodrigo Pacheco não vai se prestar ao papel de engavetá-la e virar o “Lira do Senado”.
Não se nutra muita esperança em que ela vá, diretamente, levar a consequências jurídicas para os responsáveis pelas irregularidades, que estão muito mais vulneráveis no inquérito policial agora de volta ao Supremo Tribunal Federal.
Mas a lambança é tão grande que sobra material para três meses de revelações sórdidas sobre o que se passava ali e – embora improvável – alguns dos investigados resolvam contar a mando de quem cobravam para liberar verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Os 90 dias de duração da CPI (se for instalada, como se espera) na próxima semana serão exatamente o prazo necessário para que ela transcorra ao longo de toda a campanha eleitoral e seja um duro baque no desejo de Bolsonaro apresentar-se com o conhecido “no meu governo não existe corrupção”.
Vai ser difícil ao governo montar, como na CPI da Covid, uma forte “tropa de choque”: Marcos Rogério deve ser candidato ao governo de Rondônia, Jorginho Mello ao de Santa Catarina e Luís Carlos Heinze, ao do Rio Grande do Sul. Talvez precise lançar mão da indicação de Flávio Bolsonaro para os embates, uma faca de dois gumes, porque vai “colar” o presidente diretamente nos debates.
A postura dos líderes de confissões evangélicas ligados a Bolsonaro também vai influir muito. Ninguém, no Senado, quer que a CPI avance no sentido de eventuais cumplicidades com o escândalos e também não o querem os pastores-políticos. Recordemos que, no finalzinho da CPI da Covid, foi retirado o pedido de indiciamento de Silas Malafaia justamente para não despertar a ira dos segmentos neopentecostais dos evangélicos.
Tudo vai depender de um esvaziamento político eleitoral de Bolsonaro, que possa encontrar na CPI um lugar visível de ruptura pública.
CPI não pode investigar presidente da República, em tese, mas na prática, ao se debruçar sobre os destinatários de um eventual patrocínio, seja credenciando-os a um “atendimaento especial” no MEC seja, agora, protegendo o ex-ministro da investigação policial, ele irá para a berlinda e não será xingando os senadores que se livrará da repercussão disto.
Tijolaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário