quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
A fábrica de chips de CEITEC
Por Roberto São Paulo-SP 2010
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=49786
Cylon promete reengenharia institucional completa na Ceitec
Patricia Knebel, Jornal do Comercio(Porto Alegre-RS)
No dia 1 de março de 2011, os engenheiros da Ceitec atravessarão a passarela que separa as áreas administrativas e o Centro de Design da empresa e, finalmente, ingressarão na fábrica. Isso acontecerá mais de dez anos depois que foi dado o start nesse projeto, com a assinatura do contrato entre o governo estadual e a Motorola, que na época cedeu os equipamentos para a produção pioneira de chips no Rio Grande do Sul.
Para o presidente da Ceitec, Cylon Gonçalves da Silva, será um momento esperado por todos os funcionários, mesmo que ainda leve um tempo até que a unidade esteja apta a operar, o que deve acontecer em 2012. Muito respeitado no meio acadêmico e prestigiado no Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Cylon está há poucos meses à frente da empresa, mas tem um entendimento claro dos desafios que tem pela frente.
Ele admite as dificuldades, mas projeta um futuro promissor, "desde que as decisões certas sejam tomadas". Um dos primeiros passos, que deve se iniciar antes do Natal, é uma ampla reengenharia institucional. "Vamos reprojetar a Ceitec da cabeça aos pés de forma a torná-la competitiva", diz.
Jornal do Comércio - O que esperar da Ceitec a partir de 2011?
Cylon Gonçalves da Silva - Temos grandes mudanças pela frente. A começar por um trabalho de reprojeto institucional da empresa. Vamos buscar o melhor modelo de organização que pudermos e, para isso, contrataremos uma consultoria de renome, habilitada a fazer reengenharia de empresas. O objetivo é reprojetar a Ceitec da cabeça aos pés, desde o estatuto, passando pela revisão da lei que a criou e até os manuais operacionais. Queremos deixar a empresa enxuta para, assim, enfrentar o mercado.
JC - Hoje a empresa é uma estatal dependente, pois ainda não tem faturamento. Quando passará a ter receitas?
Cylon - Temos aspirações de começar a faturar a partir de 2012 e acho que é perfeitamente viável chegar a um montante entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões em 2020. Se fizermos o dever de casa e atacarmos o mercado com bons produtos, que cheguem a tempo e com preços competitivos, conseguiremos atingir isso.
JC - Como funcionará essa transferência de tecnologia?
Cylon - Essa empresa alemã vai nos passar a receita do bolo para fazer os chips. É um processo que não será feito abstratamente, e sim baseado em projetos. Eles vão treinar o nosso pessoal e começar a transferência de tecnologia quando iniciarmos a produção do chip do boi, que será o primeiro fabricado na Ceitec.
JC - O início da operação depende apenas do processo de transferência tecnológica?
Cylon - Não. Hoje não podemos nem mexer nos equipamentos, sob pena de perdermos a garantia. As instalações estarão concluídas no dia 28 de fevereiro e no dia 1 de março teremos acesso à fábrica. Depois disso começa um processo complexo de aceitação das obras de instalações, que será feito por uma empresa independente daquela responsável pelas obras. Feito isso, será realizado o mesmo procedimento em relação às ferramentas e, então, concluem-se as obrigações legais das empresas contratadas para fazer a fábrica. A partir daí, será tudo com a gente.
JC - A equipe de profissionais já está ajustada?
Cylon - Temos 110 pessoas e quando iniciarmos na fábrica dobraremos esse número. São pessoas extraordinariamente bem formadas e mais de 40 desses 110 têm, no mínimo, mestrado. O que eles não têm e estão loucos para ter é a vivência.
JC - Como foram os testes em campo do chip do boi?
Cylon - Fizemos o teste da versão 1 do chip do boi, que foi desenvolvida pela Associação Ceitec e depois encampada no momento da transformação para a empresa. Tínhamos como objetivo avaliar a qualidade técnica e a mercadológica do dispositivo. Do ponto de vista tecnológico, os chips não apresentaram problemas. Já na questão mercadológica, vimos que o brinco do boi, que é o produto final, teve um percentual não desprezível de problemas. O principal deles é o fato de o animal rejeitar o dispositivo e fazer de tudo para arrancá-lo, inclusive se esfregando na cerca. Isso também acaba danificando a antena que fica acoplada ao chip, prejudicando a transmissão dos dados. Mas essa é uma dificuldade conhecida pelas empresas que atuam no ramo de identificação animal. Já era assim no brinco tradicional.
JC - Foi para evitar questões como essa que a Ceitec mudou um pouco o foco de atuação?
Cylon - Sim. Esse hoje é um problema das empresas que vão fabricar o brinco, ou seja, que farão a produtização do nosso chip. Mudamos a estratégia e hoje o nosso foco é projetar e fabricar circuitos integrados. Assim, ao invés de buscarmos 5% do mercado de brincos, queremos 100% do mercado de chip.
JC - Apesar da versão 1 ter sido bem-sucedida, por que não será esta a ser produzida e comercializada pela Ceitec?
Cylon - A versão 1 tem uma grande limitação que é o fato de o número da identidade do boi vir escrito de fábrica, e isso não é conveniente na hora das vendas. Desenvolvemos a versão 2 onde o número da identidade é gravado no ponto de venda. Esse é o produto que eles querem. Recebemos os primeiros chips, que agora serão distribuídos como amostras de engenharia. Qualquer companhia no Brasil que quiser fabricar o brinco do boi vai bater na nossa porta e, se for um player sério, vai receber amostras para testar.
JC - Quais são os outros projetos em quais a Ceitec está envolvida?
Cylon - Em linhas gerais, a Ceitec vai se focar no mercado de chips para identificação de objetos, animais e pessoas. No caso dos animais, o projeto paradigmático é o da rastreabilidade bovina, mas sabemos que em países desenvolvidos é obrigatório o chip de identificação em animais domésticos e isso talvez seja adotado no Brasil. Também estamos desenvolvendo projetos de rastreabilidade de bolsas de plasmas, junto com a Hemobrás. É um chip mais sofisticado e que devemos mandar prototipar no primeiro semestre de 2011, na X-Fab. E também estamos envolvidos em produtos como a identidade e passaporte digital brasileiro.
JC - Qual a principal contribuição que a Ceitec terá no futuro?
Cylon - Eu estive envolvido por 15 anos no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron. Esse projeto passou por várias fases. Na primeira delas, que de certa forma é a mesma pela qual a Ceitec passa hoje, foi a das pessoas falando que um projeto como esse não poderia ser feito no Brasil. A segunda era a de que poderia ser feito, mas que não iria funcionar. Depois que funcionou, veio o terceiro momento, quando diziam que, apesar de ter dado certo, não teria quem usar. Hoje, o laboratório está na última etapa, quando os comentários são na linha de ‘eu teria feito melhor, mais rápido e com menos dinheiro'.
A grande contribuição que a Ceitec vai dar para a indústria eletrônica no Brasil é a de, justamente, passar por essas quatro fases. É o chamado efeito de demonstração. E, se tudo der certo, vamos novamente mostrar que o Brasil tem competência, pessoas qualificadas e inteligência para trabalhar numa das indústrias mais sofisticadas e complexas que existe no mundo. Não sei se a Ceitec será uma Intel ou Samsung um dia porque estou olhando para um bebê recém-nascido. O importante é ter um sistema funcionando e ver o entusiasmo de uma juventude bem preparada. São essas pessoas que vão construir o futuro. A Ceitec pode vir a ser realmente muito grande. Não somos piores que os americanos e coreanos que construíram empresas de sucesso nessa área. .....
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É este tipo de projeto que nosso país precisa!
ResponderExcluirPaís nenhum do mundo se desenvolve para valer sem o domínio da tecnologia.
EStamos vivendo na era da economia do conhecimento. Estas ~iniciativas são fundamentais se quisermos ser um país desenvolvido!
Parabéns e Sucesso aos envolvidos!!
Gostei muito da entrevista com Cylon.Ele tem os
ResponderExcluirpes no chão e o entusiamo na cabeça.Parabens a ele e toda a equipe. Vai dar certo!