"É muito evidente que Mourão representa exatamente a mesma agenda do Bolsonaro, sem tirar nem pôr", afirmou o jornalista Breno Altman, em entrevista à TV 247; ele defende que a esquerda não apoie o projeto do "mal maior" e avalia que um eventual governo Mourão terá menos ruídos e confusões, criando mais condições para que o programa neoliberal seja executado; assista
25 DE MAIO DE 2019
247 - O jornalista e editor do site Opera Mundi, Breno Altman, falou à TV 247 sobre os rumores de impeachment do presidente Jair Bolsonaro e ressaltou que a saída de Bolsonaro e a permanência do vice-presidente, Hamilton Mourão, representa maior estabilidade para a implementação do programa neoliberal no país. Ele ainda disse que as manifestações de 15 de maio, em defesa da educação, só terão importância política caso as pessoas se mantenham nas ruas e consigam construir uma nova alternativa de governo.
Altman frisou que Mourão tem o mesmo plano de governo de Bolsonaro e, portanto, seria um erro apoiá-lo. "É muito evidente que Mourão representa exatamente a mesma agenda do Bolsonaro, sem tirar nem pôr. Seria um tiro no pé com uma bazuca, um erro histórico, suicida da esquerda brasileira". Além disso, o jornalista disse que a queda do atual presidente sem o vice daria mais estabilidade para a implementação do programa de governo que está posto. "A consequência de uma queda do Bolsonaro que não seja também uma queda do Mourão é dar mais estabilidade e unidade para o outro lado impor seu programa, que é o mesmo programa do Bolsonaro, é o programa da reforma trabalhista, da reforma da Previdência e dos ataques contra as universidades públicas".
Breno Altman ainda refutou qualquer possibilidade de apoio a Mourão pela esquerda mediante o argumento de que ele seria o "mal menor" em relação ao "mal maior", que seria Bolsonaro. "Toda vez que a esquerda entra em um cálculo de qual é o mal menor ela está, imediatamente, renunciando seu papel protagonista, está imediatamente renunciando sua busca de liderança no processo nacional, ela se transforma em uma força auxiliar para apoiar o mal menor contra o mal maior, isso é o pior que pode existir em política. Quando uma força política se transforma em força auxiliar de alguma das frações desse modelo ela faz o pior mal que pode existir para o povo brasileiro, que é deixar o povo brasileiro sem voz, deixar o povo brasileiro subalterno, é deixar o povo brasileiro a serviço das frações das classes dominantes. Não há mal maior que pode ser provocado do que este".
Ele também comentou sobre as manifestações de 15 de maio em defesa da educação e contra o corte de verbas para as universidades, que levaram dois milhões de pessoas para as ruas, e disse que o movimento só mostrará sua importância caso as pessoas permaneçam nas ruas e construam uma alternativa de poder que não inclua Mourão. "Os dois milhões que foram às ruas só têm importância se continuarem nas ruas, isso não está dado que vai acontecer, e se forem capazes de construir uma alternativa independente, ou seja, se o povo brasileiro tiver forças para construir uma alternativa independente. Se a esquerda renunciar o objetivo de ter uma alternativa independente, uma alternativa que implique na aplicação de um outro programa antagônico ao programa neoliberal, se a esquerda renunciar a essa perspectiva os doi milhões que foram às ruas não terão passado de massa de manobra para a direita resolver os seus problemas".
Altman voltou a opinar sobre o posicionamento da esquerda diante da possível queda de Bolsonaro e permanência de Mourão. "A esquerda brasileira vai aceitar a transformação das forças que se põem em movimento, que colocaram dois milhões no dia 15 e que poderão ser mais nas próximas semanas, vão colocar esse movimento a serviço de algumas das frações da direita, renunciando a construção de alternativa de uma independente? Em todos os países onde se fez isso a esquerda deixou de existir".
Ainda sobre 15 de maio, Breno Altman analisou que as mobilizações foram defensivas em relação às universidades e a Educação. "O que inflama a massa que foi para a rua é a defesa do ensino público e da universidade democrática. Essas manifestações são ainda, e poderão ser por um longo período, manifestações de caráter defensivo, não são manifestações de caráter ofensivo, ou seja, são manifestações na defesa do direitos e, somente assim, elas têm amplitude de massa. Qualquer tentativa de substituir, de uma maneira prematura, palavras de ordem defensiva como contra a reforma da Previdência, defesa do ensino público e defesa da universidade democrática por palavras de ordem que deem um desfecho para a crise, 'fora Bolsonaro' ou 'fora Bolsonaro e Mourão', seria um gravíssimo equívoco que poderia levar ao esvaziamento das ruas rapidamente".
Ele afirmou que as mobilizações precisam se consolidar na forma defensiva para que passem a ter caráter ofensivo. "Se o povo brasileiro conseguir ter uma mobilização permanente, ampliar a quantidade de gente envolvida, passar dos dois milhões para os dez milhões, conseguir criar no país o clima que a direita criou contra os governos petistas em 2015 e 2016, quando eles foram capazes de colocar 5, 10 milhões de pessoas nas ruas a cada ciclo de mobilização, se a esquerda for capaz de massificar dessa forma a resistência, isso só é possível com as bandeiras defensivas neste momento, só é possível com as bandeiras de defesa dos direitos sociais, se isso ocorrer nós podemos entrar em outro cenário, o cenário do qual se passa da defensiva para a ofensiva".
Inscreva-se na TV 247 e assista à entrevista na íntegra:
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