Publicado por Carlos Fernandes
- 7 de maio de 2019
Ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas. Foto: Agência Brasil
Não existe espaço numa sociedade minimamente civilizada que permita conceber o tipo de crítica desqualificada à base de xingamentos e palavras de baixo calão utilizados comumente pelo astrólogo Olavo de Carvalho.
No caso específico dos seus recentes ataques ao general Eduardo Villas Bôas, a coisa torna-se ainda mais desprezível porque descamba para a sua doença física degenerativa o que demonstra não só a falha moral do autoproclamado filósofo da Virgínia, mas, sobretudo, a sua peculiar inclinação para a crueldade.
Não são poucos nem irrelevantes os motivos que levam qualquer cidadão razoavelmente conhecedor do papel das FFAA numa nação, a lançar críticas e repreensões às posturas e atitudes do ex-Comandante no passado recente.
Mas o fato de uma terrível doença o aprisionar numa cadeira de rodas e limitar suas funções motoras, com certeza não é um deles.
Quem se predispõe a um papel como esse revela-se à margem da dignidade humana e, como tal, incapaz de sentir a dor e o sofrimento alheio.
Dito isto, chega a ser didática a forma como bolsonaristas e olavetes estão tratando aqueles que até pouco tempo atrás eram tidos por eles próprios como a reserva moral do governo e exemplo inquestionável de competência e lisura na administração pública.
Um a um, os generais aquartelados no governo vão sentindo na pele a fúria daqueles que jamais tiveram um mínimo de apreço pela democracia, pela lei e pela ordem.
Vítima de suas próprias escolhas, o alto comando das Forças Armadas do país vai descobrindo que a opção por ultrapassar as suas prerrogativas constitucionais para ameaçar e chantagear poderes independentes da República se mostraram um terrível erro.
E mais do que todos, foi o general Eduardo Villas Bôas que teve o papel preponderante para que a peça central da disputa política de 2018 se mantivesse presa, isolada e incomunicável.
O recado claro que emitiu à Suprema Corte desse país horas antes do julgamento que poderia dar a liberdade ao ex-presidente Lula, representou não somente uma violação grave de suas funções, mas, principalmente, a sua vontade incontinente de retornar a um Estado controlado não pelo povo, mas por militares.
Porém, o que Villas Bôas e a imensa maioria dos generais não puderam perceber é que a empreitada que se permitiram trilhar não os levava a um regime gerido por patentes.
No Brasil de Bolsonaro, mais letal do que suas armas é a ignorância ideológica que trouxeram a reboque a impedir a razão, o saber e a liberdade.
Por isso mesmo, excluindo-se obviamente os ataques à sua triste doença que luta com força e dignidade, toda humilhação pela qual o general Eduardo Villas Bôas está passando, inclusive vindas da parte do próprio Bolsonaro, são educativamente merecidas.
Esse talvez seja o preço que esteja pagando por trair o seu país.
Diário do Centro do Mundo - DCM
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