POR FERNANDO BRITO · 20/11/2019
No UOL, o ótimo Jamil Chade escreve uma reportagem-lamento em que conta a diáspora que leva de nosso país os capitais – algo que os leitores deste blog tem lido sempre aqui – os cérebros mais qualificados e, sobretudo, o respeito internacional.
Embora pessoalmente nunca tenha tido este desejo – ao contrário, dez dias fora do Brasil já me foram supliciantes, quando os passei – não sou o único a conhecer gente que sonha (e realiza) a ideia de viver em lugares que estejam fora desta nuvem de ódio e selvageria em que mergulhamos.
Que diferença do país que, há poucos anos, atraía gente de toda parte, cheia de planos e sonhos de progresso.
Chade traz os números de um ranking produzido pelo Institute for Management Development, um centro de estudos de competitividade mundial. E o Brasil é o 61° entre 63 países listados de acordo com a sua atratividade para os profissionais mais qualificados e e experientes no mundo. Ficamos na frente, apenas, da Venezuela e da Mongólia.
A tabela do IMD está aí ao lado para você conferir a posição de cada país e o triste buraco em que nos metemos.
Fica faltando o terceiro item, que o jornalista situa no contexto de teremos um governo onde presidente e ministros não sabem “onde está a fronteira entre o embate político e o respeito”, o que ele elenca numa série de episódios que também já são nossos velhos conhecidos, nestes 11 meses de mediocridade.
O fato objetivo e inegável é que o Brasil, que havia florescido como um país emergente, cada vez mais capaz de sustentar seus interesses no mundo, veio murchando desde a ruptura democrática e, com Jair Bolsonaro passou de vez a ser uma exotic place, um lugar estranho, onde vamos na contramão do século 21 em questões comportamentais, ambientais e políticas, com um protonazismo de matriz religiosa que contrasta com a imagem, até simplória, que carregamos há décadas de país alegre, receptível, marcado por uma diversidade – ao menos na aparência – harmônica que, agora, parece ter sido reduzida a cinzas.
Sempre fomos marcados pela descrença de nossas elites de que aí estivesse a nossa força, ao menos o nosso potencial para que pudéssemos ser, um dia, uma Nação que correspondesse ao nosso território, riqueza natural e riqueza humana.
Mas há agora mais que desprezo, há ódio. E a elite embruteceu-se ao ponto de já quase nada querer senão a segregação e a repressão à massa de excluídos que se vai encorpando e formando guetos ameaçadores, para os quais é cada vez mais necessário – num crescimento sem fim – o crescimento de um aparato repressivo, policial e, ocupa, adicionalmente, os papéis de máfia, milícia e de força de controle social.
As redes sociais passaram, como talvez em nenhum outro lugar, a ser o mais importante instrumento de controle ideológico, formando-se uma camada de limbo mental à base de exibicionismos de celebridades sem talento, sob o patrocínio de um sistema que aposta tanto nisso que cogita ter um apresentador de programa de gincanas como sua “esperança branca”, depois de ter apelado a um político tosco, sobre quem achou que teria controle.
Tijolaço
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