Em artigo, ex-ministro e economista afirmam que América do Sul teria mais autonomia ao
adotarem moeda compartilhada com mais liquidez externa
Foto: Isabela Kronemberger on Unsplash
As relações internacionais estabelecem um conceito de soberania diferenciado daquele usado nas políticas internas: se, por um lado, o Estado e sua moeda são soberanos, fora das fronteiras a hierarquia coloca o dólar norte-americano como a divisa mais importante para negociações entre países.
Porém, o ex-ministro Fernando Haddad e o economista Gabriel Galípolo destacam que a guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe à tona antigos medos por conta do desrespeito à soberania nacional por países de maior poder bélico.
Em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, Haddad e Galípolo lembram que tanto Estados Unidos como Europa usaram suas moedas para estabelecer sanções contra a Rússia, inclusive excluindo-a do sistema de pagamentos internacional Swift.
Segundo eles, essa situação acaba por reacender o debate do uso de uma moeda internacional e a soberania dos povos de países com moedas consideradas não conversíveis, uma vez que seus gestores acabam ficando mais sujeitos às limitações impostas pelo mercado externo.
Na visão de Haddad e Galípolo, uma integração que seja capaz de fortalecer a América do Sul, impulsionando seu comércio e investimentos, pode formar um bloco econômico mais relevante globalmente e inclusive aumentar sua soberania monetária.
E o Brasil poderia dar subsídios à criação de uma nova moeda digital sul-americana, a partir de sua experiência em diversas operações, como a adoção da URV (Unidade Real de Valor).
“A criação de uma moeda sul-americana é a estratégia para acelerar o processo de integração regional, constituindo um poderoso instrumento de coordenação política e econômica para os povos sul-americanos”, ressaltam Haddad e Galípolo.
De acordo com os articulistas, essa moeda seria emitida por um Banco Central Sul-Americano, e sua capitalização inicial seria de responsabilidade dos países-membros de forma proporcional à sua fatia no comércio regional.
A capitalização seria feita com as reservas externas dos países ou por meio de uma taxa sobre as exportações para fora da região. Essa nova moeda poderia ser usada seja para fluxos comerciais ou para fluxos financeiros entre os países da região.
GGN
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