quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Zelensky destruiu a Ucrânia e a atirou 'no fogo da guerra', diz um dos líderes da oposição do país


Viktor Medvedchuk se opõe à subordinação da Ucrânia aos planos ocidentais desde o golpe de 2014

26 de janeiro de 2023

Viktor Medvedchuk (Foto: Mikhail Metzel/TASS)


Sputnik - Um dos mais proeminentes políticos da oposição ucraniana, Viktor Medvedchuk não poupa o vocabulário ao falar do atual líder do regime na Ucrânia, Vladimir Zelensky, cuja política ele tacha, sem pestanejar, de "neonazista". Em entrevista exclusiva ao RT, acusa o presidente de desrespeitar a democracia e as leis do país, que rotula como "destruído".

Preso em abril passado, sua foto em que aparece algemado pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em ucraniano) circulou como uma espécie de "troféu" entre os canais oficiais ucranianos.

Seus bens e de sua mulher, Oksana Marchenko, foram confiscados pelo governo do país.

Seu destino, acreditava, era incerto. Até que foi surpreendido com a negociação que o libertou, em uma troca de prisioneiros entre Rússia e Ucrânia no contexto da operação militar especial, no final do mês de setembro do ano passado. Desde então, vive na Rússia com status vago, já que foi privado de sua cidadania ucraniana.

Tece críticas contumazes contra Zelensky, cuja ideologia, ele alerta, precisa ser "destruída". Não sabe, entretanto, que fim o líder do regime ucraniano terá.

"Seu destino é desconhecido para mim. Mas devo dizer que adoraria vê-lo responder por tudo o que fez à Ucrânia e ao seu povo. Ele destruiu o país. Ele o atirou no fogo da guerra. Isso é culpa dele. Gostaria de relembrar o que muitos esquecem hoje em dia, infelizmente. Sobre o que aconteceu pouco antes de 24 de fevereiro. Eu estava dando muitas entrevistas e falava sobre isso também. Sobre a necessidade de evitar a guerra, de fazer de tudo para evitá-la. Zelensky poderia fazer alguma coisa? Tenho certeza: ele poderia. E além disso, ele tinha que fazer. Ele tinha que seguir os Acordos de Minsk. Você ouviu as revelações de [ex-chanceler alemã Angela] Merkel e [ex-presidente francês François] Hollande. E até [o ex-presidente ucraniano Petr] Poroshenko está tentando entrar no jogo (...) Precisamos destruir a ideologia de Zelensky. Ele acha que a Ucrânia está unida e todos o apoiam, [apoiam] a guerra e não há ninguém que queira a paz ou um futuro diferente, enquanto nós acreditamos que essas pessoas existem e também são ucranianas. Elas têm o direito de falar o que pensam. Elas têm o direito de falar e serem ouvidas."

Eleito quatro vezes deputado pelo povo ucraniano, Medvedchuk é advogado e atuava na macropolítica do país desde 1997, quando foi eleito para o Parlamento pela primeira vez.

No ano seguinte, tornou-se vice-presidente da Verkhovna Rada, a Câmara dos Deputados ucraniana. No período de 2002 a 2005, Medvedchuk trabalhou como chefe da administração do presidente da Ucrânia, Leonid Kuchma.

Foi um dos ferrenhos adversários do golpe conhecido como Euromaidan (que pregava uma "revolução" violenta por parte de grupos de extrema-direita, nacionalistas e neonazistas), contra a qual entrou em oposição aberta em 2014, tornando-se um perseguido político por confrontar o regime ucraniano.

Após um período de silêncio, publicou um artigo na semana passada sobre a atual situação da Ucrânia e as condições que levaram o país até os dias atuais.

Medvedchuk demonstra gratidão pelo auxílio dado pelos líderes russos na sua libertação e extradição.

"Sou muito grato à liderança da Rússia por essa troca — eles ajudaram a mim e à minha família. Foi um momento muito difícil na minha vida, e na vida da minha família. Sou grato por não ter passado pelo que poderia ter passado na Ucrânia. Por causa dos processos criminais que foram forjados contra mim entre 2019 e 2020, eu teria sido condenado a 15 anos de prisão — foi o que me disseram e acredito que o teriam feito, mesmo que não houvesse fundamento legal para a acusação."

Ele narra a perseguição política perpetrada por Zelensky devido ao fato de se opor às diretrizes do atual regime ucraniano.

Afirma, no entanto, que segue lutando pelos direitos dos ucranianos.

"Meu status atual não é uma questão simples. Sou cidadão da Ucrânia. Eu até tenho um passaporte ucraniano. No entanto, Zelensky está determinado a me destruir como político da oposição em sua luta intransigente contra mim. Em primeiro lugar, ele emitiu uma ordem para continuar os litígios e as investigações sobre processos criminais contra mim. Meus advogados estão defendendo meus interesses na Ucrânia. Em segundo lugar, ele fez um movimento imprudente ou mesmo louco para tirar minha cidadania com base na suspeita de que eu tinha cidadania russa. Nunca tive cidadania russa. E não precisava, porque sou um político ucraniano, sempre fui. Não fui embora, não desisti. Continuei lutando, mesmo em prisão domiciliar. Continuei lutando mesmo depois da soltura por conta da troca, nesses três meses de longo silêncio. Eu não chamaria isso de silêncio. Tem sido um esforço sistêmico para ajudar não apenas os ucranianos, mas também beneficiar os interesses dos cidadãos ucranianos e russos, nas circunstâncias atuais e em meio às hostilidades, em meio a milhares de vítimas, em meio à destruição de infraestrutura (...) Acredito que é uma violação direta da Constituição me privar de minha cidadania ucraniana. E não é apenas minha opinião. É impossível privar um cidadão da Ucrânia de sua cidadania, exceto por um pedido voluntário. Contradiz não apenas a Constituição, mas também contradiz uma convenção internacional, que proíbe fazê-lo se uma pessoa se tornar apátrida."

A Ucrânia aderiu a esta convenção internacional, explica ele.

Apesar disso, Zelensky continua seus esforços para esmagar um oponente político por meio de repressão política e processo criminal que Medvedchuk situa como ilegal.

"É um objetivo que ele [Zelensky] estabeleceu para si mesmo e está se esforçando para alcançá-lo. Não mudei de opinião nem mesmo sob custódia do Serviço de Segurança da Ucrânia, onde passei seis meses. Então continuo lutando. E hoje quero expressar a opinião de uma Ucrânia diferente, uma opinião sobre a qual algumas pessoas se calam, outras têm medo de expressar. Quero que esta voz seja ouvida em alto e bom som na Rússia, na Ucrânia e no Ocidente. Há pessoas que representam uma Ucrânia diferente. Não a Ucrânia governada por discípulos de [Stepan] Bandera [colaborador de Adolf Hitler que foi responsável por dois batalhões da SS]. A outra Ucrânia, que nada tem a ver com as declarações e a política neonazista de Zelensky."


Brasil 247

Nenhum comentário:

Postar um comentário