quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Contador envolvido na quebra de sigilo da filha de Serra, concede entrevista à Folha
O contador Antonio Carlos Atella Ferreira admitiu, em entrevista concedida há pouco à Folha, que levou à Receita Federal uma solicitação para obter cópias das declarações de Imposto de Renda da filha do candidato a presidente José Serra (PSDB), a empresária Verônica.
Ele disse, contudo, que apenas encaminhou um pedido feito por um advogado cliente seu e que não sabia que o documento tratava da filha de Serra. Atella afirmou também não lembrar qual cliente lhe encaminhou o documento com a solicitação, dizendo apenas que se trata de alguém “inescrupuloso”.
“Eu não sabia que era a filha do Serra. Eu nem sabia que o Serra tinha filha. Eu sempre votei no Serra, sou eleitor dele. Eu quero encontrá-lo pessoalmente e lhe dar uma rosa”, disse Atella.
Leia trechos de entrevista concedida à Folha.
Folha – Seu nome aparece como procurador da Verônica Serra?
Antônio Carlos Atella – Pois é… Estamos dando risada até agora.
O que aconteceu?
- Sei lá, é uma brincadeira de mau gosto.
Mas o senhor assinou o documento?
- Assinei e retirei o documento, mas não assinei como quem pediu o documento.
O senhor está dizendo que a assinatura não é sua?
- Da retirada é. Mas não a de quem solicitou.
Mas o senhor não foi procurador da Verônica Serra?
- Na verdade, não sei se é ou não. Como trabalho para advogados e etc e tal, os motoboys vêm e me entregam… Pediu eu estou tirando. Se o senhor pedir de quem quiser eu tiro. Se o senhor quiser a do senhor… Assinou, mandou para mim eu tiro. E a Receita tem que entregar. A Receita não é nem culpada, coitada. Não estou defendendo, mas a funcionária pega uma solicitação ela tem que cumprir o ato administrativo. Não estou defendendo ninguém, nem conheço a pessoa.
Quem pediu a da Verônica Serra?
- Um cliente que pediu. Não sei quem é, algum advogado do Brasil.
Mas o senhor não lembra quem entregou o papel para o senhor?
- Não lembro. Tenho 42 anos de profissão, tenho clientes de todos os lados, não vou lembrar um caso, o cafezinho que tomei lá atrás, mesmo porque faço de 15 a 20 por dia.
Qual é a sua profissão?
- Contador, com direito a atuar justamente na área.[para para pedir uma água tônica]
Como é o seu trabalho?
- O advogado me manda a procuração, eu vou lá e retiro o documento. Sou um office boy de luxo.
Quantas solicitações o senhor faz por dia?
- Naquela época, que não tinha certificação digital, fazíamos de dez a 12 por dia. Agora caiu porque todo mundo faz, tem senha eletrônica.
Para que as pessoas pediam?
- Para uso de interesse próprio.
O senhor mora em Mauá?
- Não.
O senhor tem ligação com algum partido?
- Não, tenho nojo de política. Mas eu voto no Serra viu? Sou eleitor dele desde que ele nasceu.
É filiado a algum partido?
- Não. Mas agora vou querer ser vereador [risos]
Já tem partido?
- Uma legenda boa para se eleger. Estou vendo que o negócio é bom…
O seu nome aparece envolvido no caso do sigilo…
- Vou tirar proveito. Lembra-se do caso do ‘veado’ costureiro que roubou o cemitério e saiu para deputado federal? Acho que não sou dessa qualidade, mas posso.
O senhor responde a processos, em Rondônia, por exemplo.
- Por que? Conhece algum? Sou advogado, me apresente.
No Tribunal de Justiça de Rondônia há quatro, dois em sigilo de Justiça.
- Maravilha! Mas não sou obrigado a te responder. Sou advogado.
O senhor é filiado à OAB de São Paulo?
- Não, não sou da banda podre.
Por que o senhor teve cinco CPFs?
- Tinha, mas pedi para o delegado da Receita suspender com uma carta de próprio punho e ele deferiu. Já vi que o senhor não é da área, é desinformado.
Mas por que o senhor teve tantos CPFs?
- Por um direito de qualquer cidadão, é a própria Receita. Onde se tira um CPF? Por que tenho dois? Quem me forneceu, foi o senhor?
O senhor conhece funcionários da Receita?
- Conheço todo mundo, inclusive o Mantega, que tem sítio vizinho do meu em São Roque.
O senhor já falou com o ministro?
- Não, não tive o desprazer ainda porque não gosto de política.
O senhor conhece o pessoal que trabalha na agência da Receita em Mauá?
- Conheço no Brasil inteiro. Trabalho na área, pela força de trabalho seria difícil dizer que não conheço nenhuma pessoa que está na mídia, que é notável no momento. Agora é o meu momento de glória, igual foi com a menina da Uniban [Geyse Arruda].
Repetindo, o senhor conhece os funcionários de Mauá?
- Posso dizer que conheço até o porteiro.
O senhor conhece as senhoras Antonia Aparecida dos Santos e Addeilda dos Santos?
- Não conheço ninguém pessoalmente.
Mas já ouviu falar delas?
- Já, quem é que não sabe. Quem mora em Santo André conhece funcionários do banco, da rua tal…
E como é o seu trabalho na Receita?
- Protocolava, voltava para buscar, assinava a retirada e cumpria meu ato administrativo levando a quem pediu.
A senhora Verônica diz que a assinatura dela é falsa.
- Não é a filha do Serra que fiquei sabendo hoje? Nem sabia que ela tinha filha. Voto nele desde pequenininho.
O senhor foi procurador deste documento?
- Não. Eu retirei esse documento, solicitação de retirada deste documento.
Então quem pediu para o senhor retirá-lo?
- O senhor sabe? Eu não sei quem foi o cidadão… Como eu não sei dos processos que você fala em Rondônia.
Estão no nome do senhor.
- Para quem teve uma fazenda de 900 hectares com certeza tenho uns 40 processos contra alguém e uns quatro se defenderam contra mim. Tive fazendas lá. Não passei lá de avião em aeroporto. Tenho vida pregressa de trabalho, estou acima do bem e do mal.
O senhor foi servidor?
- Não tive o privilégio de ser um vagabundo a mais.
O senhor confirma conhece algum político?
- Já disse que tenho nojo de político. Só gosto do Serra, sou apaixonado pelo debate dele. Aliás, acho que Brasília não é o lugar dele, ele tem que ficar aqui, nasci aqui, sou paulista então quero que ele nunca saia daqui.
Quais são os escritórios para quem o senhor trabalha?
- Diversos, trabalho aqui, no exterior, em todo lugar… onde sou chamado e bem pago.
No exterior?
- Também. Se solicitar vou agora, só depende do honorário. Tem várias empresas brasileiras na África, em Luanda… Minha bateria está acabando, minha bateria está acabando. Da Folha
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