Em seu blog, Kennedy Alencar, comentarista de política do SBT e da CBN, faz a pergunta que, a esta altura, deveria estar sendo feita pela imprensa, pelo Conselho nacional de Justiça e pelo Ministério Público: quem falseia a verdade no caso do “prende-solta” de Lula?
No que temos hoje, porém, em matéria de imprensa e de Judiciário, isso “não vem ao caso”…
Kennedy Alencar
Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, publicada no domingo, o diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, disse que o presidente do TRF-4 (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região, Carlos Eduardo Thompson Flores, deu ordem via telefone para que a PF não libertasse o ex-presidente Lula no dia 8 de julho. “Estou determinando, não soltem”, teria dito Thompson Flores, de acordo com Galloro.
Em nota, o TRF-4 negou que o presidente da corte tenho dado tal determinação. Se o diretor da PF falou a verdade, o TRF-4 mentiu. E vice-versa. É grave.
A Justiça tem ritos que precisam ser cumpridos. Numa democracia, é inadmissível que um presidente de tribunal dê uma ordem por telefone. Há mandados e alvarás, o formalismo jurídico, para isso. Havia uma ordem do juiz plantonista Rogério Favretto para soltar o ex-presidente Lula. No relato do TRF-4, Thompson Flores disse que analisaria um conflito de competência entre os desembargadores Favretto e Gebran Neto, mas que não mandou Lula continuar trancado.
“Valeu o telefonema”, disse Gallloro, em referência à ligação de Thompson Flores. Se o TRF-4 estiver dizendo a verdade, já é suficientemente grave ter havido o telefonema. Não se age assim numa democracia.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, também telefonou para o diretor-geral da PF, dizendo que estava recorrendo ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra a prisão. Isso também não é papel do Ministério Público.
Para piorar o soneto, Galloro demonstrou visão autoritária quando questionado sobre protestos de professores contra policiais em Santa Catarina. Ele quis ensinar como manifestantes deveriam se opor a abusos de policiais. Ele defendia investigação contra um professor que protestou. A polícia agia assim na ditadura. Isso é inaceitável na democracia.
O reitor Luiz Cláudio Cancellier se suicidou por causa de uma investigação que se mostrou vazia, a “Ouvidos Moucos”. Ele foi submetido à humilhação da prisão e afastado do cargo com base em evidências frágeis. No caso concreto, houve abuso da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário. Abuso de poder deve ser criticado e punido. É com isso que Galloro deveria estar preocupado.
Tijolaço
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