"Seu discurso sobre a Amazônia não ajudou a derrubar a impressão de que está havendo falta de controle no desmatamento. Bolsonaro apenas repetiu o que vem dizendo, sem qualquer evidência e dados. O grande prejudicado com isso é o setor do agronegócio exportador, que precisa que seus clientes internacionais possam ampliar os negócios com o Brasil sem a pressão dos seus mercados consumidores", diz a jornalista
25 de setembro de 2019
(Foto: Reprodução | Reuters)
247 – A jornalista Miriam Leitão avalia que os ruralistas brasileiros, que apoiaram a ascensão de Jair Bolsonaro, pagarão caro por seu discurso insano nas Nações Unidas.
"Aquele é um ambiente onde a serenidade é bem-vinda e o tempo é usado para lançar pontes nas quais passarão os diplomatas para fazer acordos e parcerias. E apontar princípios que defenderá nas negociações bilaterais", diz ela, em sua coluna.
"Seu discurso sobre a Amazônia não ajudou a derrubar a impressão de que está havendo falta de controle no desmatamento. Bolsonaro apenas repetiu o que vem dizendo, sem qualquer evidência e dados. O grande prejudicado com isso é o setor do agronegócio exportador, que precisa que seus clientes internacionais possam ampliar os negócios com o Brasil sem a pressão dos seus mercados consumidores.
Saiba mais em reportagem da Reuters:
NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro usou o discurso na Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira, para garantir o compromisso de seu governo com a preservação do meio ambiente, e atacou como falácia o argumento de que a Amazônia é um patrimônio da humanidade.
Em fala recheada com posições caras à sua plataforma eleitoral e de governo, Bolsonaro criticou presidentes anteriores, a quem se referiu como socialistas, disse que a ideologia inundou todas as áreas da sociedade brasileira e defendeu a liberdade de religião, mas também procurou vender a imagem de um país aberto para o mundo em busca de parcerias para o desenvolvimento.
O presidente aproveitou o discurso também para fazer um elogio a seu ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, por sua atuação prévia como juiz da operação Lava Jato.
Alvo de críticas e polêmicas devido à política ambiental, Bolsonaro afirmou que ataques sensacionalistas, por grande parte da mídia internacional, devido aos incêndios na Amazônia despertaram um sentimento patriótico no Brasil.
Aproveitou para criticar países que disse terem embarcado “nas mentiras da mídia”, mas agradeceu outros líderes, em especial a atuação do presidente norte-americano, Donald Trump.
“É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo”, disse Bolsonaro, em
tom irritado no discurso de cerca de 31 minutos.
“Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”, acrescentou, numa aparente referência ao presidente francês, Emmanuel Macron, com quem entrou em atrito por conta da região, e lembrando que durante reunião do G7 foi sugerido sanções sobre o Brasil.
“Agradeço àqueles que não aceitaram levar adiante essa absurda proposta. Em especial, ao presidente Donald Trump, que bem sintetizou o espírito que deve reinar entre os países da ONU: respeito à liberdade e à soberania de cada um de nós.”
Bolsonaro reiterou no discurso que o Brasil não vai aumentar para 20% sua área já demarcada como reservas indígenas, “como alguns chefes de Estado gostariam que acontecesse”.
O presidente voltou a reafirmar as riquezas das terras indígenas e afirmou que se preocupa em defender os reais interesses desses povos. Criticou algumas lideranças indígenas, citando especificamente o cacique Raoni, dizendo que muitas vezes são usadas “como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”.
“O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas”, disse.
Procurou deixar claro, no entanto, a defesa do meio ambiente.
“Em primeiro lugar, meu governo tem um compromisso solene com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil e do mundo”, disse. “Nossa política é de tolerância zero para com a criminalidade, aí incluídos os crimes ambientais.”
CONFIANÇA
Bolsonaro disse que seu governo trabalha para abrir a economia e para o Brasil reconquistar a confiança do mundo.
“Estamos abrindo a economia e nos integrando às cadeias globais de valor”, disse. Mencionou os acordo fechados entre o Mercosul, do qual o Brasil faz parte, com a União Europeia e com a Área Europeia de Livre Comércio, e garantiu que outros virão.
Destacou também que o país está pronto para iniciar o processo de adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Já estamos adiantados, adotando as práticas mundiais mais elevadas em todo os terrenos, desde a regulação financeira até a proteção ambiental.”
Listando viagens que já fez aos Estados Unidos, Israel, Argentina, ao Fórum Econômico Mundial, na Suíça, entre outras, Bolsonaro disse que fará visitas ainda este ano a Japão, China, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar, que aprofundarão as relações com esses países.
“Em busca de prosperidade, estamos adotando políticas que nos aproximem de países outros que se desenvolveram e consolidaram suas democracias”, disse.
“Como os senhores podem ver, o Brasil é um país aberto ao mundo, em busca de parcerias com todos os que tenham interesse de trabalhar pela prosperidade, pela paz e pela liberdade.”
CUBA E VENEZUELA
O presidente aproveitou ainda seu discurso para atacar os regimes de Cuba e da Venezuela, e disse que seu governo trabalha para que outros países não trilhem este caminho, destacando que o Brasil esteve muito próximo disso nos últimos anos.
“A Venezuela, outrora um país pujante e democrático, hoje experimenta a crueldade do socialismo”, disse. “O socialismo está dando certo na Venezuela. Todos estão pobres e sem liberdade”, ironizou.
“Trabalhamos com outros países, entre eles os EUA, para que a democracia seja restabelecida na Venezuela, mas também nos empenhamos duramente para que outros países da América do Sul não experimentem esse nefasto regime.”
MORO
Bolsonaro aproveitou o momento em que atacou presidentes anteriores pelos escândalos de corrupção para fazer um afago público ao ministro Sergio Moro.
“Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do Parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto”, disse.
“Foram julgados e punidos graças ao patriotismo perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o doutor Sérgio Moro”, acrescentou o presidente.
Em alguns momentos nos últimos meses, circularam informações de que as relações entre Bolsonaro e Moro não estavam boas, e o próprio presidente deu indícios de que não estava feliz com seu ministro mais estrelado.
Brasil 247
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