Publicado por Joaquim de Carvalho
- 4 de setembro de 2019
O adolescendo sendo chicoteado em uma salinha deste supermercado
A justiça acaba de decretar a prisão dos dois seguranças do supermercado Ricoy acusados de torturar um jovem de 17 anos, negro e pobre, que vive nas ruas, pego com uma barra de chocolate furtada de uma das lojas na Zona Sul de São Paulo.
Foi o tipo de furto definido pela legislação como “famélico”, em que o autor nem é condenado. Neste caso, se tratava também de um menos de idade, que vive nas ruas desde os 12 anos.
“Há fortes elementos ligando os representados à autoria do crime de tortura”, escreveu a juíza Tatiana Saes Valverde Ormeleze, do Fórum Central Criminal da Barra Funda, em São Paulo, em seu despacho de cinco páginas.
Os seguranças são David de Oliveira Fernandes, que a vítima identificou como Neto, e Valdir Bispo dos Santos, que prestavam serviços para a KRP Valente Zeladoria Patrimonial, contratada pelo supermercado.
O crime foi denunciado ao 80o Distrito Policial em São Paulo depois que o vídeo com as cenas da tortura viralizou na internet. As imagens foram gravadas por um dos seguranças, e compartilhadas através de rede social.
Inicialmente, o adolescente silenciou diante da tortura e só foi à delegacia depois que recebeu o apoio do advogado Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual dos Direitos Humanos.
O jovem havia sido ameaçado: se denunciasse o caso à polícia, seria morto. Nas imagens gravadass, é possível ouvir a voz e a risada dos seguranças.
A vítima aparece sem camisa, com a calça arriada e um lenço preso à boca com fita adesiva. Ele tenta se proteger enquanto toma os golpes.
“Tira a mão!”, diz um dos seguranças, antes de um deles bater com mais força. Os homens ordenam que o garoto vire de costas após o golpe.
Um deles comenta: “não pegou, não”, enquanto o adolescente chora.
“Vai tomar mais uma”, continua o autor dos golpes, “para não ter que te matar, moleque.”
A juíza também expediu mandado de busca e apreensão nos endereços do seguranças, bem como no supermercado onde houve a tortura.
Para o advogado Ariel de Castro Alves, a decisão judicial é “muito importante, pois reconhece a gravidade do crime de tortura contra o menino negro e em situação de rua.”
“Que o caso sirva de exemplo para coibir outras prática de tortura. Esses casos, infelizmente, ocorrem com frequência, mas dificilmente são filmados e acabam acobertados, e os criminosos ficam impunes”, acrescentou Ariel, que é também membro da Ação dos Cristãos contra a Tortura.
A prisão decretada pela juíza é válida por trinta dias e pode ser prorrogada por igual período ou convertida em prisão preventiva.
O supermercado Ricoy divulgou nota sobre a ocorrência:
“Em relação aos fatos lamentáveis registrados em vídeo divulgado amplamente, o Ricoy Supermercados esclarece o seguinte:
1 – Ficamos chocados com o conteúdo de uma tortura gratuita e sem sentido em cima do adolescente vítima.
2 – O Ricoy desde sua fundação na década de 1970 exerce os princípios mais rígidos de valorização do ser humano, seja em nossas lojas ou em nossa comunidade. Ficamos muito abalados com a notícia que nos causou repulsa imediata.
3 – Os dois seguranças acusados de praticarem os atos são de empresa contratada terceirizada e não prestam mais serviço para nossos supermercados.
4 – Para manter nossa coerência em contribuir com as investigações, nesta terça-feira (3), um funcionário da loja Yervant Kissajikian, 3384, prestou depoimento no 80º Distrito Policial.
5 – O Ricoy já disponibilizou uma assistente social para conversar com a vítima e a família. Daremos todo o suporte que for necessário.”
Diário do Centro do Mundo - DCM
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