quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A crise de identidade tucana


Por Gunter Zibell

Se alguém observa que o PSDB tem problemas, isso não quer dizer que seja partidário do PT. Pode ter bronca do PSDB, mas também pode estar querendo ajudá-lo na refundação.

Então os problemas devem ser tratados separadamente, discutir PSDB é uma coisa, discutir PT é outra, discutir outras agremiações, ainda outra. Cada discussão ajuda os respectivos partidos e seus partidários.

Se Lula ou Dilma costumam receber 60% dos votos isso é resultado de um conjunto de coisas, inclusive da larga base da coligação governista. Mas o PT recebe apenas cerca de 20% dos votos para deputados, número condizente com aqueles das pesquisas em que as pessoas dizem ter preferência partidária. Eu, por exemplo, não lembro de quando votei em deputado do PT pela última vez, deve ter sido antes de Erundina sair do partido.

Assim, apenas 1/3 dos apoiadores de Dilma "é PT", e os outros 2/3 não necessariamente são contrários ao PSDB e podem inclusive torcer para que ele se regenere. Tanto que há estados, p.ex. MG, onde o PSDB elegeu governador com 63% dos votos e Dilma com 58%. Necessariamente 21% fizeram uma dobradinha PT/PSDB neste caso!

Isto exposto, independentemente de preferências pessoais, temos que notar que o PSDB é uma das agremiações com maior crise de identidade no momento:

- não define um perfil ideológico, isto é, se deseja se manter associado à direita (DEM, igrejas, ruralistas), a um perfil social-liberal (Estado apenas investindo em saúde, educação e segurança) ou se pretende retornar à uma postura mais social-democrata que lhe deu origem (tendência atual do eleitorado, que aceita a participação do Estado no desenvolvimento)

- não faz auto-crítica de nada : não abre mão das ligações ostensivas com a imprensa; impede questionamentos (CPIs) nos estados onde governa; utilizou a máquina pública (Bacen) em 1998 e 2002 para manipular juros com fins eleitorais; é muito dividido internamente : entre FHC, Alckmin, Serra, Aécio & Guerra não há um discurso único.

- tem um comportamento imaturo : faz sua bancada apoiar/vetar de modo contraditório questões importantes no Congresso (exemplos recentes : salário mínimo, fator previdenciário, cpmf, pré-sal); acusa sempre os adversários de fazerem exatamente o que faz (postura "gritar pega-ladrão"), o discurso do Serra este ano foi um bom exemplo.

- como aquelas bandas que fizeram sucesso com apenas o primeiro CD, o PSDB passa décadas se lamuriando da população e da academia não se entusiasmarem com o “mito do fantástico e inebriante sucesso do Plano Real e suas privatizações", quando na realidade a população lembra do “acachapante período de juros altos, triplicação da dívida pública, privatizações baratas, desemprego recorde e 7 anos sem crescimento da renda per capita”.

Nem é caso de alguém torcer contra ou a favor da refundação do PSDB. É problema de seus políticos, não é um problema para a nação. Se eles não conseguirem reestabelecer um discurso que chegue à população, mais alguém o fará e pronto.


Do blog do Luis Nassif

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