quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A entrevista de Lula à mídia - 2, por Luis Nassif

QUA, 20/12/2017 - 20:19


Sobre o pacto de poder na crise

Não existe orçamento mais competido do que este que Temer está gastando. Todo dinheiro cortado da educação, saúde, é para comprar apoio.

Não faz muito tempo, importante saber as condições que cheguei na presidência. Não tinha um economista neste país que não dissesse que o país quebrado. Eu tinha um grupo de 30 economistas, e com gente muito importante. Ás vezes falava para o pessoal>: como querem que eu seja candidato se dizem que o país quebrado.

Inflação estourando, dependência do FMI.

Não era situação fácil. Minha chance de ganhar agora é porque visível ao povo que posso consertar o país.

Tem coisa em economia, que os yuppies do mercado não fala. É preciso que quem esteja falando de economia tenha credibilidade junto à sociedade. Há um misto de cumplicidade da seriedade de quem está falando com a seriedade de quem está fazendo.

Se não tem credibilidade política e não faz coisa séria, não dá certo. E se tem credibilidade, mas não tem a política, também.

Em qualquer comparação, o Brasil está entre os 10 do mundo. País com esse potencial extraordinário de mercado interno, 16 mil km de fronteira seca com toda América Latina, potencial enorme de cooperação com continente africano, porque mar é solução.

Tem que ter governo que pensa o Brasil, pense estrategicamente modelo de desenvolvimento, o que é possível fazer. E não tem como pensar o Brasil sem pensar no povo brasileiro.

Não pode pensar em projeto estratégico virando as costas para quem está perto de você. A relação comercial do Brasil com países ricos é muito estável. Com a Argentina, quando chegamos, era US$ 7 bi. Chegou aUS$ 39 bi, demonstrando espaço de crescimento onde as pessoas mais precisam comprar de você do que vender. Cabe a quem governa o país pensar nessas coisas.

Não pode ser governante e pensar em vender para pagar dívidas. Quando acabar você não tem patrimônio do Estado, está zerado. Não pode ter qualquer participação na indução de políticas públicas.

Sou contra o estado empresarial, todo mundo sabe. Colocar cara concursado, com estabilidade para ser patrão, é muito ruim. Mas estado não pode perder seu papel de indutor da economia. É o estado que pensa estrategicamente qual a parte do Brasil que deve receber uma universidade, uma indústria, um centro de pesquisa, uma escola técnica.

E o estado pode não só pensar, como induzir que bancos de desenvolvimento possam garantir esses investimentos.

Como resolve o problema do Estado ter poder de influir na economia, se não tem o instrumento.

Na crise de 2008 liguei para o Obama perguntando se tinha bancos públicos. E contei como era o Brasil, como BNDES, CEF, BB. Ele: nem fala em bancos públicos aqui. A conclusão é que nós tivemos uma solução mais rápida para indústria automobilística do que eles nos EUA.

Falam da dívida pública brasileira, mas todas cresceram porque todos os Estados, na época da crise, colocaram recursos para vencer a crise.

Não estou dizendo que é facil, mas acho que tem outras formas de fazer economia crescer.

1. Estado não pode perder sua capacidade de ter influência nas decisões econÕmicas do país.

2. Estado não é neutro, é indutor, porque tem milhões de brasileiros que necessitam da voz do Estado e dos gestos. Quem não precisa do Estado são os que mais mamam no Estado. São eles que estão fazendo o Temer o desmonte dos direitos dos trabalhadores. Querem que sobre mais recursos para eles.

Quando se fala no teto da Previdência Social, converse com a Laura Tavares, filha da Maria Conceição, especialista em Previdência social.

Se a Presidência tem problema de ajuste, não tem problema fazer ajuste. Envolve todos, trabalhadores, empresários, estado e discuta. E, através da negociação, procura ajustar.

O problema é que quando nós criamos, na Constituição de 88, a aposentadoria dos trabalhadores rurais, arrumamos o dinheiro. Foi Pedro Malan que introduziu a ideia de colocar a Previdência em cima do orçamento da União.

Briguei muito com o Guido para tirar.

No mundo do trabalho, se precisar ajuste na CLT faz trabalhando, faz contrato coletivo de trabalho. O que não pode é destruir um marco legal que dá sustentabilidade aos mais fragilizados e achar que trabalhador e empresário, em uma mesa de negociação, vão estabelecer a normalidade negocial.

No Brasil tem meia dúzia de sindicatos em condições de negociar,.

Estou convencido que é possível ganhar eleições, juntar um grupo de pessoas sérias, alguns empresários que pensam o Brasil, que apostam na produtividade, no Brasil, que quer indústria forte. É possível convencer milhares de pequenos empreendedores individuais para construir uma economia na base da produtividade.

Se tem governo que acredita no que está fazendo, quando empresa como Veja, Estadão, resolve montar parque gráfico novo, contratar empréstimo, o que estão dizendo: estão fazendo dívida porque acreditam no crescimento do jornal e vai ganhar mais dinheiro.

Vale para o Estado. Se elaborar política econômica e não tenho dinheiro para o investimento, tenho capacidade de me endividar, o compsulsório, parte do dinheiro das reservas. Vou fazer 200 bilhões de dólares em investimentos prioritários e o país vai crescer e voltar a ser competitivo.

Agora, se eu não tenho projeto, casei com a dona Marisa e para fazer dinheiro vou vender a geladeira, o bule. É o que estão fazendo para Brasil.

A incapacidade de pensar aumentou a sede mercadológica deles. Poderiam ser sócios das Casas Bahia. Não tem noção do que foi a construção da indústria naval no Brasil. Tratam a Petrobras como empresa de petróleo. É muito mais. É gas, petroquímica, força na indução de pesquisas, no estímulo às pequenas e médias empresas.

Se tiver projeto para país.

É por isso que sou confiante.


Jornal GGN

Nenhum comentário:

Postar um comentário