TER, 26/12/2017 - 13:32
ATUALIZADO EM 26/12/2017 - 13:34
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Jornal GGN - Comprovantes entregues pela Odebrecht e Andrade Gutierrez às investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) enquadram ainda mais o senador Aécio Neves (PSDB-MG) nas acusações de recebimento de propina.
Repasses da Odebrecht e da Andrade ao empresário Alexandre Accioly, amigo do tucano e padrinho de um dos filhos de Aécio, respaldam os depoimentos dos delatores, que narram que o empresário carioca recebeu montantes por meio de contas offshore das empreiteiras no exterior, intermediados pela rede de academias de Accioly.
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Delação, com provas. Onde está o Judiciário?
Do Globo
Odebrecht confirma que Aécio recebeu R$ 50 milhões por meio de offshore. Executivo diz que conta está vinculada ao empresário Alexandre Accioly
A Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal (PF) encontraram novos indícios que, de acordo com os investigadores, reforçam a suspeita de que o senador Aécio Neves recebeu propina para atuar em nome de empreiteiras na construção da Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia
Tema de inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), a acusação contra o tucano foi relatada por ex-executivos da Odebrecht em acordos de colaboração premiada. E teve impacto direto na delação de outra empreiteira, a Andrade Gutierrez, que foi obrigada a esclarecer sua participação no episódio. De acordo com os executivos da Odebrecht, Aécio recebeu R$ 50 milhões, repassados pela Odebrecht (R$ 30 milhões) e pela Andrade Gutierrez (R$ 20 milhões).
A Odebrecht sustenta a acusação com comprovantes bancários, entregues nos últimos meses, que, segundo a empresa, comprovam depósitos para o senador tucano, por meio de uma conta de offshore em Cingapura, que havia sido citada por um de seus ex-executivos, Henrique Valladares, em depoimento à PGR. A identificação do titular da conta além disso não foi revelada, mas Valladares diz que está vinculada ao empresário Alexandre Accioly, padrinho de um dos filhos de Aécio e integrante do grupo mais restrito de amigos do tucano. Aécio nega as acusações. Accioly enjeita com veemência a afirmação do delator, o único que sustentava, até aqui, seu envolvimento.
ANDRADE GUTIERREZ REFORÇA SUSPEITA
Nos últimos meses, no entanto, ex-integrantes da Andrade Gutierrez levaram à Lava-Jato informações que miram novamente em Accioly: em depoimento à PF, o ex-executivo e delator da empreiteira, Flávio Barra, confirmou o repasse de R$ 20 milhões a Aécio por meio de um contrato com a Aalu Participações e Investimentos, empresa controladora da rede de academias Bodytech que pertence ao empresário carioca, a uma sobrinha dele e a um ex-banqueiro.
Segundo o relato de Barra, a empresa, que leva as iniciais dos dois sócios, firmou um contrato de R$ 35 milhões com a Andrade para mascarar propina paga pela empreiteira ao tucano, em 2010. O valor seria uma contrapartida pela defesa, por parte de Aécio, então governador de Minas, da participação da Andrade no consórcio de construção da Usina. O delator não soube dizer por que a empresa transferiu R$ 15 milhões além do valor previamente acertado.
Comprovante, segundo a Odebrecht Extrato de transferência de dinheiro para empresa em paraíso fiscal Klienfield services: offshore da Odebrecht usada para pagar propina no exterior 67,350 USD: uma das parcelas pagas pela empresa Embersy: offshore que a Odebrecht afirma ter sido usada para operacionalizar um pagamento a Aécio Neves. Está sediada nas Ilhas Marshall UBS AG: banco de origem suíça que presta serviços financeiros em dezenas de países Singapure: filial do UBS, citada pelo ex-executivo da Odebrecht, Henrique Valladares.
Ao Globo, Accioly confirmou o repasse, mas negou se tratar de propina, e sim investimento da Andrade Gutierrez na rede de academias. Segundo ele, a Andrade nunca recebeu dividendos e “permanece como acionista” da holding controladora da Bodytech, por meio de uma Sociedade em Conta de Participação (SCP) com a empresa Safira Participações, que pertence ao grupo mineiro.
A Andrade, por sua vez, negou a alegação de Accioly. Em nota, informou que “não é e nunca foi sócia na rede de academias” e que sua relação com o empresário se restringiu à aquisição, em 2010, de uma “opção de compra futura de ações” que jamais teria sido exercida e, por isso, perdeu a validade.
As duas empresas foram informadas sobre a apresentação de versões contraditórias entre si, mas mantiveram o posicionamento original. A relação entre Andrade e a holding que controla a Bodyech não é explicitada nas demonstrações contábeis das empresas, o que contraria recomendações do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
Na segunda semana de abril deste ano, mesma época em que foi tornada pública a íntegra da delação da Odebrecht, vinculando o nome de Accioly a pagamentos para Aécio, a Andrade fez uma alteração na Junta Comercial elevando o capital social da Safira de R$ 5 mil para R$ 35 milhões. É o mesmo valor repassado em 2010 para Accioly. A Andrade não quis informar se o dinheiro investido foi devolvido, nem comentar as razões da alteração contratual.
Em seu depoimento, Barra afirmou ter tido conhecimento da relação do contrato com um pagamento a Aécio alguns anos depois da assinatura e disse não ter sido responsável por operacionalizar o repasse. igualmente colaborador e ex-executivo da Andrade, Rogério Nora citou em depoimento o nome de Sérgio Andrade, um dos sócios da empreiteira, como o responsável por tratar deste assunto diretamente com Aécio.
Apesar de ter firmado acordo de leniência em 2016 e ter 11 ex-executivos entre colaboradores da Lava-Jato, a Andrade Gutierrez não havia apresentado às autoridades episódios de corrupção envolvendo o ex-governador de Minas. O tema passou a integrar uma nova rodada de conversas com a PGR e faz parte do recall do acordo, atualmente em negociação, e é considerado sensível pela empresa, por envolver um dos sócios do grupo.
OFFSHORE NAS ILHAS MARSHALL
A Lava-Jato igualmente obteve novas evidências envolvendo o pagamento de R$ 30 milhões da Odebrecht ao tucano, relacionados ao mesmo contrato da Usina de Santo Antônio. Em depoimento à PGR, o delator Henrique Valladares disse ter sido orientado por um emissário de Aécio, Dimas Toledo, a depositar parte dos valores em uma conta bancária de Cingapura. Valladares sustenta que o número da conta veio anotado em um bilhete, ao lado do nome de Accioly. Outras contas igualmente receberam parte dos pagamentos.
Com base em registros dos sistemas Drousys e MyWebDay, usados para as operações de pagamento de propina na Odebrecht, interlocutores da empreiteira informaram a procuradores e integrantes da PF que a conta de Cingapura é da offshore Embersy Services Limited, sediada nas Ilhas Marshall, país com pouco mais de 60 mil habitantes, localizado no Oceano Pacífico.
A empresa funciona desde agosto de 2001 e está ativa. Há cerca de quatro meses, a empreiteira realizou uma varredura em arquivos e entregou aos investigadores registros de seu sistema de aproximadamente US$ 300 mil repassados à Embersy.
Extratos de movimentações financeiras de offshores da Odebrecht obtidos pela Lava-Jato em 2015, por meio de cooperação jurídica com autoridades de Antígua e Barbuda, já traziam registros de transações para a Embersy, entre novembro de 2008 e janeiro de 2009, que totalizaram pouco mais de US$ 740 mil. No entanto, o MPF não sabia a razão das transações, o que só foi possível graças à colaboração da empresa.
Independentes dos EUA desde 1986, as Ilhas Mashall permite o anonimato de proprietários de empresas offshore. A Lava-Jato investiga se Embersy foi usada apenas para transação de valores entre contas ou se está, de fato, diretamente vinculada ao beneficiário final da propina.
Nos registros internos da empreiteira, a transferência de valores para a Embersy está vinculada ao código “mineirinho” forma como Aécio era identificado nos sistemas de propina.
Henrique Valladares relatou que o pagamento a Aécio foi acertado em reunião com a presença de Marcelo Odebrecht, em Belo Horizonte, no Palácio das Mangabeiras, sede do governo mineiro, no início de 2008. Em depoimento, Marcelo igualmente citou o pagamento ao tucano e disse ter estimulado Valladares, que cuidava da área de energia do grupo, a levar os pagamentos adiante.
De acordo com o ex-presidente do grupo Odebrecht, o objetivo dos pagamentos a Aécio era influenciar decisões da Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig) — estatal de energia mineira — e Furnas — estatal federal — a favor da empreiteira baiana.
Na época Aécio exercia seu segundo mandato como governador de Minas e integrava a oposição ao governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), responsável por licitar Santo Antônio. Apesar disso, o tucano tinha influência no setor elétrico devido à sua relação com Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas, umas das empresas sócias da usina, além de estar a frente do estado que comanda a Cemig, outra sócia do empreendimento.
A relação de intimidade entre Aécio e Dimas foi citada por outros delatores da Lava-Jato, como o ex-senador Delcídio Amaral e o lobista Fernando Moura. Henrique Valladares sustenta igualmente que era o ex-diretor de Furnas o responsável por levar ao seu escritório papéis com as contas em que a propina para Aécio deveria ser depositada.
Jornal GGN
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