sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O legado


POR FERNANDO BRITO · 29/12/2017


2018 começa como o ano 4 da “Era Lava Jato” da vida brasileira, se adotamos como marco temporal o fato de que foi em 2014 que ela foi erigida, pela mídia e pelo juiz que se tornaria o füher do Judiciário em principal problema e única solução deste país.

Não por acaso, foi o sucedâneo do “padrão Fifa” que, no ano anterior, foi transformado em “programa de governo” pelo mesmo pensamento, se servindo de uma juventude a quem se deixou de falar que a luta da história é por interesses e hegemonias, políticas e econômicas.

No quarto ano desta “jihad”, onde os mujahidin de Curitiba tornaram-se nosso Exército Islâmico, é possível, por toda a parte, ver os estragos que isso causou. E causa, ainda.

O principal deles é que virou quase senso comum o raciocínio antidemocrático de que um país deve ser governado por quem tem como fonte de sua legitimidade o cargo público: promotores e juízes que não tem de se submeter ao voto e, de tempos para cá, nem mesmo à lei, podendo justificar seus atos apenas pela “convicção” e pela suposição sentencial no “não tenho de provar se você fez, mas como você não provou que não fez…”

Por toda a parte, na atividade pública, espalhou-se o medo. Não é diferente no campo do pensamento, onde só alguns superam o medo de que o que digam em favor do direito de defesa, da presunção da inocência e do respeito ás garantias individuais é, no mínimo, ser cúmplice da corrupção, quando não seu beneficiário, também.

Foi deste caldo, e não de outro qualquer, que nasceu a onda de ódio que tomou conta de nosso país e da qual emergem bestas furiosas como Jair Bolsonaro, criaturas tenebrosas que, antes, eram tão perigosas quanto qualquer aberração que vivia submersa nas profundezas da inevitável estupidez que habita qualquer massa humana.

Como no título do western de Sam Peckinpah, o ódio é a herança, o legado que nos deixa esta época.

Ódio e ruína, porque o “combate” à corrupção não nos rendeu uma escola, um hospital, uma estrada, mas a paralisia de um – ainda que insuficiente – processo de avanço dos serviços públicos e da infraestrutura de que um país precisa para viver.

Ódio e carência, porque não nos alimentamos de prisões preventivas, nem as conduções coercitivas servem para comprar remédios, nem indiciamentos servem para fazer casas populares. As “fortunas” que dizem ter recuperado, onde estão, se por toda parte é “não há dinheiro” o mantra cansativo para a precariedade da ação do Estado?

O fruto político mais vistoso que nos deixa a moribunda onda moralista – que morreu por não poder atingir aos políticos do status quo, que têm o privilégio de dividir cochichos, sussurros e sorrisos com o imã Sérgio Moro – como fizeram Aécio, Dória e Temer – é o governo ocupado por uma quadrilha de baixa extração, agora perfeitamente simbolizada por Carlos Marun, a saquear os direitos que o povo brasileiro consolidou por décadas.

A foto de Márcia Folleto, em O Globo, para mostrar o abandono de parte do BRT no Rio de Janeiro é o retrato desta era.

Abandona-se o progresso, interrompe-se o futuro e vamos todos andar na carroça da crise.



Tijolaço

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