quarta-feira, 17 de novembro de 2021

“Moro é o candidato dos EUA para 2020”, diz Boaventura de Sousa Santos


“Moro é o homem dos Estados Unidos, ele é o candidato dos Estados Unidos para 2022. Ele fez todo o trabalho. E a carreira política dele é exatamente isso - destruir a economia brasileira, destruir a esquerda, abrir caminho para um político de transição - obviamente abrindo caminho para ele mesmo, ele é o candidato deles”, disse o professor Boaventura de Sousa Santos

16 de novembro de 2021
(Foto: MIGUELMARQUES | REUTERS/Ueslei Marcelino)


Brasil Wire - O Professor Boaventura de Sousa Santos, doutor em Sociologia do Direito pela Yale University, é professor e coordenador do CES - Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e um dos mais importantes pensadores ibero-americanos. Ele deu essa entrevista ao vivo enquanto, por coincidência, em Brasília, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, fazia sua declaração de renúncia ao governo de Jair Bolsonaro, em mais um capítulo da crise política brasileira.

A entrevista abordou a dupla crise que o Brasil atravessa - uma crise de saúde, causada pelo Coronavírus, e outras políticas. Nesse cenário conturbado pela pandemia, o governo de Bolsonaro revela profunda instabilidade institucional, com hostilidade ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal. Enquanto isso, o combate à pandemia está sob a sombra da demissão do ministro da Saúde, Mandetta, que era favorável ao isolamento social.

Na quarta-feira, dia 22, o ministro da Economia, Paulo Guedes, responsável pela agenda neoliberal do governo, não participou de reunião coordenada pelo chefe da Casa Civil, General Walter Braga Netto, para anunciar o lançamento de um programa de recuperação econômica pós-Covid-19 (Pró-Brasil), que prevê aumento dos gastos com investimentos públicos para os próximos anos. Agora, nesta sexta-feira, dia 24, o Brasil, com um governo que parece estar sob a tutela de militares, em meio a vários caminhos para o impeachment do presidente, o cenário é agravado pela queda do ministro Sérgio Moro.
 
Segundo Boaventura de Sousa Santos, “é realmente extraordinário estarmos a falar neste preciso momento em que Sérgio Moro está a fazer uma transição. Acho que o Brasil é o único país do mundo que, em meio à pandemia, passa por uma grave crise política. Acompanho a situação em vários países e nenhum deles está nesta situação, o que pode ser uma crise do próprio regime político. A renúncia de Sérgio Moro tem causas próximas e distantes. As causas mais próximas levantadas são que em breve a Polícia Federal incriminará a família Bolsonaro, senão diretamente o presidente, mas seus filhos. Claro que isso já se sabe há muito tempo”.

Boaventura de Sousa Santos é incisivo:

“Moro é o homem dos Estados Unidos, ele é o candidato dos Estados Unidos para 2022. Ele fez todo o trabalho. E a carreira política dele é exatamente isso - destruir a economia brasileira, destruir a esquerda, abrir caminho para um político de transição - obviamente abrindo caminho para ele mesmo, ele é o candidato deles. Isso significa que a própria Embaixada dos Estados Unidos provavelmente deve estar envolvida em tudo isso. Isso significa que Moro passou a ser visto pela carreira política, o Bolsonaro não é mais um recurso, ele pode ser descartado”.

Para o sociólogo, Bolsonaro é um presidente descartável:

“Parece-me que devido à crise produzida pelo seu comportamento durante a pandemia, ele está sendo descartado mais cedo, porque a agenda de Paulo Guedes, um neoliberal alinhado com os Estados Unidos, também está em risco neste momento, desde o General Braga Netto, que todos consideram o presidente operacional, saiu com uma política de emergência que neutraliza efetivamente a política do próprio Paulo Guedes. Portanto, é natural que o próprio Guedes esteja com os dias contados”.

Boaventura acrescenta:

“Moro está sinalizando que não quer mais participar desse governo, justamente porque quer fazer bem. Sua popularidade está acima da de Bolsonaro. Moro está em um silêncio absolutamente criminoso, em meio a tantas coisas acontecendo, como as declarações na porta do quartel do exército pedindo um golpe. O Bolsonaro para ele hoje é mais um fardo do que um recurso - ele não precisa dele para ser um forte candidato para 2022”.


Brasil 247

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