segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
Você decide ir para 2019 ou 1964: Feliz Ano Novo ou Feliz Ano Velho?
Diário do Centro do Mundo - DCM
Datafolha mostra erro da jogada marqueteira de Moro/Bolsonaro
POR FERNANDO BRITO · 31/12/2018
Dezenas de trolls me deram trabalho nos comentários para reter a onda de bobagens que diziam sobre o fato de que “liberar geral” a posse de armas era “a vontade do povo” incontestável e maciça.
Só que não, mostra a pesquisa Datafolha publicada hoje, onde apenas um pouco mais de um terço das pessoas é favorável à posse sem restrições de armamento.
Mesmo entre os eleitores de Jair Bolsonaro, apenas uma ligeira maioria (53%) é favorável ao direito de possuir armas e menos ainda (39%) à facilitação do acesso a elas.
Além dos eleitores de Bolsonaro, em só um recorte as armas levam vantagem: entre os que ganham mais de dez salários mínimos.
Afinal, a grande maioria nem mesmo tem os cerca de R$ 3 mil necessários para comprar uma arma em lojas…
Ainda assim, pouca gente percebe o quanto há de mistificação nesta história, como se a compra de armas fosse terminantemente proibida.
Tanto não é que ela saltou 11 vezes (de 3 mil para 33 mil) em 15 anos, sem que isso provocasse nenhum resultado positivo nem na redução do número de mortos a bala (ao contrário) e sequer na sensação de segurança dos cidadãos.
O nome disso é, portanto, demagogia. Pior, duvidosa e perigosa e mortal, porque as vidas perdidas não se recuperarão.
Ao menos que nos poupem de comparações imbecis, como a feita pelo festejado “Golbery” de Bolsonaro, o general Augusto Heleno, quecomparou a posse de armas à de automóveis, porque estes matam, em acidentes, tantos quantos morrem assassinados a bala.
Se voltássemos à época das carroças, ao menos não faltaria com quem puxá-las em Brasília.
Tijolaço
RÉVEILLON COM LULA TERÁ APOIADORES DE TODO O BRASIL
Apoiadores de todo o país devem chegar a Curitiba para passar os últimos momentos de 2018 e a chegada do Ano Novo próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Familiares, políticos e militantes vão se reunir na Vigília Lula Livre, que fica nos arredores da sede da Polícia Federal. Nesta segunda-feira (31), completam 269 dias em que Lula é mantido como preso político
31 DE DEZEMBRO DE 2018
Da Rede Brasil Atual – Apoiadores de todo o país devem chegar a Curitiba para passar os últimos momentos de 2018 e a chegada do Ano Novo próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Familiares, políticos e militantes vão se reunir na Vigília Lula Livre, que fica nos arredores da sede da Polícia Federal. Nesta segunda-feira (31), completam 269 dias em que Lula é mantido como preso político.
O intuito dos apoiadores é oferecer calor humano ao ex-presidente, que tem o seu isolamento agravado por conta dos feriados das festas de final de ano, quando os presos são impedidos de receber visitas. Nos dias 24 e 25, cerca de 500 pessoas estiveram em Curitiba para celebrar o Natal com Lula.
No dia 1º, os organizadores da vigília planejam um ato simbólico de passagem da faixa presidencial. "O certo seria a Dilma passar a faixa para o Lula", diz Ricardo da Silva, que participa de uma caravana que parte de São Bernardo do Campo, no ABC paulita, com destino à capital paranaense. "O que vamos ter em Brasília é um embuste, resultado de notícias falsas, de campanha com caixa 2, a posse que nós consideramos adequada vai acontecer em Curitiba."
Também está sendo organizado o Lulabraço, às 15h do primeiro dia de janeiro: "um amoroso abraço gigante, formado por toda a militância, de mãos dadas ao redor do quarteirão, será a nossa forma de abraçar Luiz Inácio Lula da Silva", informam os organizadores.
Confira a programação do dia 31
9h – Bom dia Presidente Lula com as Mulheres pela Liberdade do Lula
10h – Atividades artísticas, culturais e poéticas
14h30min – Boa tarde Presidente Lula
15h – Atividades artísticas, culturais e poéticas
19h – Boa noite Presidente Lula
19h15min – Ato político com representantes das Caravanas e convidados
20h – Ato inter-religioso
21h – Confraternização de final de ano
23h – Virada do ano Lula Livre
"2018 está quase acabando. Mas nem sei dizer quando este ano começou. Talvez tenha sido lá em 2014", diz trecho do vídeo de fim de ano produzido pelo Comitê Lula Livre que rememora a crise que começou com a derrubada da ex-presidenta Dilma Rousseff e culminou com a prisão de Lula em abril deste ano, quando o time da Lava Jato decidiu tirar "o cara do jogo". "Agora o mundo está ao contrário. O juiz que condenou sem provas já é o capitão do outro time. O capitão, que é amigo do motorista, é quem vai dirigir e sem saber como".
Assista ao vídeo divulgado pelo Comitê Lula Livre:
O PT é cobrado por não ir à posse do sujeito que quer “fuzilar a petralhada” e “banir os vermelhos”. Por Kiko Nogueira
Publicado por Kiko Nogueira
- 28 de dezembro de 2018
Bolsonaro prometeu “fuzilar essa petralhada”
A tentativa de normalizar Jair Bolsonaro e uma eleição cujo líder nas pesquisas foi mandada para a prisão pelo juiz que viraria ministro do ganhador passa agora por bater no PT e no PSOL por não irem à posse no Congresso.
Os líderes dos partidos afirmam respeitar o resultado legítimo, mas o boicote é “ato de resistência e de protesto”.
Qual o problema?
Mais uma vez, partiu de jornalistas uma lição de moral esdrúxula.
Na CBN, Maria Cristina Fernandes, sussurrante, grave, apontou que acha “preocupante” a atitude.
No Valor, ela explica que o PT se ausenta de uma “missão constitucional a ser exercida em nome do povo brasileiro e não do governo eleito”.
Gerson Camarotti, feliz como pinto no lixo com a notícia, deu aula sobre republicanismo e desceu a lenha no Partido dos Trabalhadores na GloboNews.
É curioso como o PT é cobrado quando perde e quando ganha. Nunca acerta.
Algumas questões, como a da autocrítica, por exemplo, ficam restritas a lulistas, dilmistas e afins. Para os demais, é facultativo.
Maria Cristina, Gerson e demais cidadãos exemplares esperam que os parlamentares cubram a cabeça de cinzas e se encaminhem para o abatedouro, onde serão recebidos da maneira como seu líder vem explicitando há meses.
Devem homenagear o sujeito que falou em fuzilar a petralhada, cujos filhos, o guru e os estafetas diretos pregam diuturnamente a extinção física dos inimigos “comunistas”.
Do PT se cobra a observância estrita da Constituição.
Já seus inimigos podem tudo.
Foi assim também quando Haddad demorou mais do que três horas para felicitar Bolsonaro pela vitória.
Dorrit Harazim, colunista do Globo, foi ao Twitter cobrar civilidade no pântano.
“O processo eleitoral democrático também recomenda que o derrotado felicite o vencedor de público. E cedo. Vacilou feio, Haddad”, decretou.
Mariliz Pereira Jorge, da Folha, candidata à vaga de Sheherazade, considerou que Haddad se apequenou “ao não fazer esse gesto”.
Foi a campanha mais sórdida da história nacional, plena de violência verbal e física, absolutamente antidemocrática. Uma aberração. Não houve nem sequer debate entre os finalistas.
Ficamos combinados que o homem que acusou o adversário de distribuir “mamadeira erótica” nas escolas, estuprar uma criança de 11 anos, inventar o kit gay, interromper uma aula para comemorar o atentado de 11 de setembro etc etc está cumprindo uma “missão constitucional”.
Quem não vai à sua posse é antidemocrático.
Então tá.
Diário do Centro do Mundo - DCM
domingo, 30 de dezembro de 2018
Nada substitui a vergonha na cara
POR FERNANDO BRITO · 30/12/2018
Vejo muita gente boa reclamando da ausência do PT, PCdoB e PSOL na posse de Jair Bolsonaro.
Alguns, até, contraditoriamente, sugerem que se deveria ir com cartazes de protesto.
Francamente, isso seria portar-se da mesma forma que estes chatíssimos trolls fazem nos blogs de esquerda, fazendo provocação e facilitando conflitos, desejados ou não.
Aliás, pelo exagero até com mísseis colocados em volta da Esplanada, parece que tudo o que desejam é que confusões façam com que se acredite em tramas terroristas contra o “Mito”.
Dia 1° a festa é deles, da extrema-direita, da intolerância, do ódio.
Ou devemos ir celebrar a chegada ao poder de quem, não tem três meses, prometeu “fuzilar a petralhada” e a nós outros, de esquerda, mandar para a cadeia, a “ponta da praia” – apelido do lugar opositores da ditadura militar eram executados, na Restinga de Marambaia – ou para o exílio?
Esqueçam-se, porém, as ofensas pessoais.
Merece aplausos e celebrações que promete arrebentar com os direitos trabalhistas, franquear o acesso a armas, oprimir os professores, desmantelar o Estado?
Democracia é respeitar o resultado eleitoral – coisa que, aliás, o PSDB não fez, quatro anos atrás, sem merecer tais críticas – e não, como dizia minha avó, ir “mostrar as canjicas” para o adversário que, desde sempre, fez questão de mostrar que nos era inimigo mortal.
Além do mais, a obrigação de engolir sapos e até brejos inteiros é de quem ocupa cargos executivos, nos quais se tem o dever de representação de todos e não de parte. Os cargos legislativos, os mandatos parlamentares, os partidos (como o nome indica) são de parte e não da totalidade.
Não estamos num situação de normalidade democrática. O favorito às eleições foi arrancado delas e mantido preso com uma condenação judicial escandalosamente dirigida e, com mais escândalo, mantido mudo, tanto que até uma mera entrevista jornalística, apesar de autorizada judicialmente, é-lhe negada há meses.
Na política, quando se perde a vergonha na cara, o relativismo passa a servir para a indignidade.
Brasil 247
IRRESPONSÁVEL, DIZ BOFF APÓS BOLSONARO ANUNCIAR DECRETO SOBRE ARMAMENTO
"Estamos terminando o ano 2018 com uma deletéria notícia.Por medida provisória o futuro presidente vai autorizar a aquisição de armas para os cidadãos. Ao invés de caneta e caderno para as escolas,um meio para matar. Como se já não houvessem demasiados assassinatos. Irresponsável", afirmou o escritor e teólogo Leonardo Boff
30 DE DEZEMBRO DE 2018
247 - O escritor e teólogo Leonardo Boff bateu duro no presidente eleito, Jair Bolsonaro, que anunciou a intenção de garantir, por decreto, o acesso à posse de armas no País.
"Estamos terminando o ano 2018 com uma deletéria notícia.Por medida provisória o futuro presidente vai autorizar a aquisição de armas para os cidadãos. Ao invés de caneta e caderno para as escolas,um meio para matar. Como se já não houvessem demasiados assassinatos. Irresponsável", disse o estudioso no Twitter.
Pela mesma rede social, neste sábado (29), Bolsonaro anunciou: "Por decreto pretendemos garantir a posse de arma de fogo para o cidadão sem antecedentes criminais, bem como tornar seu registro definitivo".
Estamos terminando o ano 2018 com uma deletéria notícia.Por medida provisória o futuro presidente vai autorizar a aquisição de armas para os cidadãos. Ao invés de caneta e caderno para as escolas,um meio para matar.Como se já não houvessem demasiados assassinatos.Irresponsável.
Brasil 247
É tipico da Inquisição exigir contrições e que se abjure
POR FERNANDO BRITO · 30/12/2018
Ainda refletindo sobre o post anterior, dos que maldizem a esquerda por não se prestar aos rapapés da posse do sr. Jair Bolsonaro na Presidência, ocorre-me que é, para muitos, uma continuidade dos insistentes pedidos – exigências, melhor dizendo – que se fizeram durante a campanha para que Fernando Haddad fizesse uma “autocrítica” pelos pecados ocorridos durante os governos Lula e Dilma.
É curioso que aqueles que nunca se incomodaram com a selvageria das relações sociais se preocupam em exigir que todos pertençam ao que Leonel Brizola um dia nominou de “clube amável da política”.
Mesmo quando havia o risco – e agora a realidade – de que no poder se entronize a selvageria, não o fizeram.
Não vi nenhum destes “civilizadíssimos” exigir, para merecer respeito, “autocríticas” de que se deveria ter matado “30 mil”, nem de de um caminhão de monstruosidades que o futuro presidente tenha se dito arrependido de pronunciar.
Sabe por que?
Porque o pensamento único, que ensaiou passos tímidos na ascensão do neoliberalismo, agora avança em marcha batida e a passo de ganso e é preciso que se aceite o império da brutalidade nas relações sociais que o neoliberalismo mal disfarçava na promessa futura de abundância para todos.
Agora é menos acolchoado.
São a ordem e a moralidade (moralidade seletiva e policialesca) os valores que não admitem contestação.
E os que o fizeram, como na Inquisição, só podem ser poupados mediante a contrição e a abjuração das crenças passadas, proclamando que eram falsas adorações e pensamentos heréticos que praticavam.
É como se os ladrões que operaram sob o governo petista tenham sido sua criação e que antes, reinavam a honradez e a decência nos negócios públicos.
Se pode haver alguma surpresa – e boa – no que vem acontecendo é que o núcleo do PT e o próprio PSOL, nos seus delírios “politicamente corretos” – estejam resistindo às tendências de “bom comportamento”.
Ao que nos convidam a nos ajoelhar aos novos césares, que se entenda que, com esta suposta “amabilidade”, estaremos praticando a rendição ante a barbárie.
Tijolaço
sábado, 29 de dezembro de 2018
A estréia deprimente de Bolsonaro na diplomacia
O papel de ‘oferecido’ – perdoem a “caretice” do termo – desempenhado por Jair Bolsonaro em seu primeiro encontro como (quase) chefe de Estado, no encontro de hoje com Benjamin Netanyahu, premier israelense, foi de dar vergonha.
Faltou pouco para jogar-se aos pés do líder daquele país e comprometeu-se em fazer negócios “de orelhada”, sem qualquer embasamento técnico, sob o argumento que o relacionamento com Israel era barrado pelos “governos esquerdistas” do Brasil.
É verdade que Jair Bolsonaro já esteve em Israel, mas para uma missão religiosa (ou, pelo menos, com essa justificativa) na qual foi batizado pelo Pastor Everaldo no Rio Jordão. Não teve mais que um encontro protocolar com o Knesset, o parlamento israelense.
Por isso, não sabe que o Brasil nunca antes na sua história teve intenso relacionamento com Israel durante o governo Lula. Foram oito acordos de cooperação, média de um por ano – em áreas como Saúde, Educação, Cinema, transporte aéreo… – e mais um tratado de extradição entre os dois países.
Também não deve saber, ou finge que não sabe, que a Elbit, uma das mais importantes industrias militares de Israel tem, no Brasil, desde 2010, duas empresas, a Ares Aeroespacial e a Periscópio Sistemas Óticos, que fornece a torre para canhão Elbit UT30BR para os veículos militares Guarani. Não é pouca coisa: são sistemas de tiro de comando remoto para 2 mil veículos blindados. Contrato aprovado em 2011.
Na Aeronáutica, foram comprados conjuntos de bombas Spice, israelenses, para equiparem os caças suecos Grippen, cuja aquisição ocorreu no Governo Dilma e também sensores óticos Reccelite 2, também de uma indústria israelense, a Rafael, para equipar os caças.
Ou ainda que o primeiro dos acordos de Cooperação Internacional em Inovação firmados pelo Brasil – em 2010, no Governo Lula – foi com Israel, convidando empresas brasileiras a formarem parcerias com empresas israelenses para receberem financiamento a propostas de cooperação em pesquisa e desenvolvimento que “resultem no desenvolvimento de novos produtos, processos ou serviços direcionados à comercialização no mercado doméstico e/ou global.”
Tudo isso enquanto os “comunistas” imaginários estiveram no poder.
Mas Jair Bolsonaro, no seu despreparo, acha que cooperação internacional se faz com juras de amor e até medalha fajuta – ele entregou uma a Netanyahu, comprada em algum armarinho, talvez – em lugar de estudos e negociações demoradas e cheias de idas e vindas, quando envolvem tecnologia. Chefes de Estado, quando entram nelas, é porque tudo ou quase tudo está pronto e eles posam para fotos, assinando.
E já prometeu para março uma visita a Israel, prazo que não permite a confecção de qualquer acordo minimamente técnico neste campo, até porque demandam visitas de delegações, testes, estudos de projetos, etc.
Aliás, em março, nada garante que Netanyahu, acossado por escândalos de corrupção – a polícia israelense pediu o seu indiciamento– não esteja de saída do governo, pois as eleições por lá serão antecipadas para abril.
É no que dá ter alguém tosco assim na Presidência e um fundamentalista na chefia da diplomacia.
Mas ninguém fique achando que os espertos que vão fazer estes negócios arranjados a toque de caixa sejam “bobinhos” também.
Tijolaço
"Cão de guarda" do Judiciário, velha mídia tem parte (vergonhosa) na ascensão de Moro
SEX, 28/12/2018 - 23:23
"É preciso desmistificar a atuação da imprensa que se apresenta como mediadora desinteressada. (...) A usurpação da função judicial pela imprensa e a mudança indevida do locus do julgamento encontraram eco na própria atividade jurisdicional, em um consórcio harmônico em que um [Lava Jato] conta com o apoio do outro [mídia] para justificar suas escolhas e ações", escreveu o juiz Marcus Gomes, em 2016
Jornal GGN - Dois, três meses atrás houve quem prometesse chegar ao centro do poder público em janeiro de 2019 com a coragem de devolver a Lava Jato à sua "caixinha". Passada a eleição presidencial, a estrela da operação, Sergio Moro, não vai para caixinha alguma, mas para o Ministério da Justiça de Jair Bolsonaro, com a missão de aprovar leis capazes de institucionalizar o modus operandi da chamada República de Curitiba.
Além da heterodoxia jurídica da própria força-tarefa, se tem um agente com crédito na ascensão meteórica de Moro - que leva consigo cabeças da Polícia Federal na Lava Jato - são os meios de comunicação de massa tradicionais.
Abandonando a responsabilidade de fiscalizar o Judiciário, a maior parte dos jornais mergulhou numa relação promíscua com a operação que derrubou Dilma Rousseff e inabilitou Lula eleitoralmente. Foi abastecida quase diariamente com informações que interessavam aos procuradores e ainda faz, com sua postura acrítica diante de abusos e extravagâncias avalizados por tribunais, a opinião pública acreditar que os fins justificavam os meios.
"Aquele que deveria fiscalizar os excessos do poder – e os das agências penais estão escancarados, à mostra, sem constrangimentos (maus-tratos e tortura policial, seletividade da clientela do castigo, superpopulação carcerária e condições degradantes das prisões, inquisitoriedade da persecução penal etc.) – acaba por se tornar um aliado da repressão penal, seu incentivador, ao fazer crer à massa que garantias fundamentais e direitos constitucionais são um pequeno obstáculo removível, um breve entretempo a ser logo superado em prol do punitivismo."
Quem escreve isso, ainda em 2016, foi o juiz de Direito e professor da Universidade Federal do Pará, Marcus Alan de Melo Gomes, num artigo no qual faz crítica à cobertura jornalística da Lava Jato, publicado na Revista Brasileira de Ciência Criminal. Trabalho que ilustra bem a aptidão da imprensa em construir heróis nacionais, transformar investigações em novelas e dizer "amém" para julgamentos controversos, desde que o resultado seja de seu interesse.
Para Gomes, a imprensa tem se prestado historicamente a "cão de guarda do poder punitivo", e com a Lava Jato não foi diferente. "O que a Operação Lava Jato veio confirmar foi algo que a crítica criminológica já aponta há vários anos: o emaranhado de conexões que aproxima a mídia do sistema penal, a ponto de falar-se mesmo em uma parceria entre esses dois universos, o comunicacional e o punitivo."
No artigo, o juiz explica que há décadas a imprensa legitima "intensamente o poder punitivo exercido pela ordem burguesa, assumindo um discurso defensivista-social que, pretendendo enraizar-se nas fontes liberais ilustradas, não lograva disfarçar seu encantamento com os produtos teóricos do positivismo criminológico, que naturalizava a inferioridade biológica dos infratores. Esse fenômeno parece ser cíclico e se repete no contexto neoliberal de nossos dias, acentuado pelas nuances de um modelo de Estado mínimo na afirmação de direitos e máximo no controle penal, e por uma imprensa inserida nas engrenagens das grandes corporações comunicacionais, que não mais fiscalizam o poder, pois também o exercem. O cão de guarda das democracias atuais tem um especial interesse na legitimação do poder punitivo. E ele não apenas late. Também morde."
"É preciso desmistificar", portanto, "a atuação da imprensa que se apresenta como mediadora desinteressada" em relação aos produtos da Lava Jato. Porque, na prática, em vez de "informar para emancipar, a mídia noticia para distorcer e cegar", escreve.
Segundo Gomes, o conluio Lava Jato-mídia soube utilizar o perfil dos investigados (empresários, agente públicos e políticos, em sua maioria ricos) para "criar no imaginário coletivo a ilusão de uma distribuição igualitária de justiça penal."
"Cria-se um cenário visual muito apropriado ao espetáculo, que reforça o discurso da moralização da política ou da purificação da moral política pela via punitiva."
Outro "elemento significativo" na análise é a interação nas redes sociais. "Trata-se de um meio em que vigora a velocidade, fluidez e superficialidade das relações e que proporciona uma imensurável reverberação de opiniões, versões e informação. Um verdadeiro catalisador de notícias que potencializa a aptidão dos mass media para construir a realidade social."
"Pode-se dizer, à margem de exageros, que a cobertura midiática da Operação Lava Jato representa o marco de uma nova etapa comunicacional caracterizada pela dinâmica tecnológica que cada vez mais define o mundo e a vida das pessoas e que pode ser ilustrada pela seguinte equação: mídia x redes sociais = construção da realidade social. Ao já conhecido fenômeno do trial by media soma-se agora o trial by social network", descreve.
O então juiz Moro, despachando da 13ª Vara de Curitiba, mais parecia personagem do "Big Brother da Justiça", "o mais recente reality show em que a privacidade de investigados, ainda que nada tenham a ver com os fatos apurados, é exposta ao público sem qualquer propósito útil para a persecução penal." É só lembrar do vazamento de conversas entre a ex-primeira-dama Marisa Letícia, esposa falecidade de Lula, e familiares.
Na opinião de Gomes, "impressiona" o volume de meios de prova obtidos pela Lava Jato que deveriam estar sob sigilo, mas acabam "prematuramente acessados pelos meios de comunicação."
"Há desses episódios em que se pode mesmo vislumbrar uma preocupante cumplicidade entre a justiça e a mídia, como, por exemplo, por ocasião do levantamento do sigilo de um breve diálogo telefônico envolvendo a presidente da república Dilma Rousseff e seu antecessor na função, Luiz Inácio Lula da Silva, e cujo conteúdo dizia respeito à nomeação deste último para um alto cargo do governo. (...) É no mínimo surpreendente que tal providência [o vazamento do grampo para emissora do grupi Globo] tenha sido adotada poucas horas depois da captação do áudio da conversa, e sem qualquer finalidade útil para a investigação policial, ao menos aparentemente. A divulgação do diálogo pelos meios de comunicação foi quase instantânea. Não houve, nessa aproximação – melhor seria dizer parceria? – entre a justiça e a mídia, a satisfação de qualquer interesse da persecução penal."
Gomes criticou ainda o vazamento de acordos de colaboração premiada, "em completo desrespeito à presunção de inocência", inclusive atingindo pessoas que sequer são alvos de investigação. Para ele, a divulgação de pequenos trechos "proporciona eficazmente a seletividade da informação, revelando o que se pretende disseminar, e escondendo o que se deseja ocultar."
"A consequência mais nefasta dessa associação é o que Bourdieu chama de 'uma verdadeira transferência do poder de julgar', efeito que, no âmbito da Operação Lava Jato, se percebe pela forma como as decisões proferidas pelo juiz da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba satisfazem as expectativas punitivas alimentadas pela repercussão midiática da investigação. A usurpação da função judicial pela imprensa e a mudança indevida do locus do julgamento encontraram eco na própria atividade jurisdicional, em um consórcio harmônico em que um conta com o apoio do outro para justificar suas escolhas e ações."
É toda essa "pirotecnia tecnológica dos meios de comunicação", "que escraviza a atenção da massa e elimina qualquer pretensão de que o debate público seja pautado por reflexões críticas e isentas sobre a dinâmica do poder punitivo", que contribui para a criação e adoração do mito do "juiz justiceiro, destemido, incensurável, resignado ao sacerdócio da magistratura, que compreende e concretiza os anseios coletivos de combate à impunidade dos poderosos."
"Não sem razão, portanto, a construção midiática desse episódio posiciona, no outro extremo do espetáculo, aqueles que legitimam a ação do paladino da virtuosidade: os investigados e réus. (...) O embate do bem contra o mal, da virtude contra o defeito, do digno contra o indigno, se materializou com a representação do ex-presidente da república Lula por um boneco plástico inflável em trajes de presidiário, cuja imagem foi divulgada em praticamente todas as notícias sobre as manifestações públicas relacionadas à investigação."
Foi nesse contexto de relação promíscua e cobertura jornalística desequilibrada que Lula foi sacado das eleições presidencias pela Lava Jato, após a condenação no caso triplex. O final, todos sabem: sem o petista no páreo, Bolsonaro levou a eleição no segundo turno. E convidou Moro a fazer política sem toga.
Jornal GGN
O exílio sem sair de casa. Por Nílson Lage
POR NILSON LAGE, COLABORAÇÃO PARA O TIJOLAÇO · 29/12/2018
Para homens e sociedades, querer e acreditar ser constituem pressupostos para ser de fato – porque eles mesmos constroem, em grande parte, dia a dia, a própria realidade. A imagem espontânea que um povo faz de si mesmo – fundada no desejo que reflete experiência histórica – deve ditar o sentido geral que corrigirá desvios e manterá coerência.
Nasci em país católico de um Deus tolerante. Éramos mestiços e orgulhosos da “fusão de três raças tristes”. Nossas mães ou avós, reais ou postiças, as mulheres de que mamamos, que nos embalaram, velaram por nós e nos amaram foram tomadas de povos da terra ou vieram escravas em porões de navios: elas nos legaram enorme capacidade de adaptação e aceitação do outro, o anseio de abraçar o mundo com o carinho que todos os povos merecem e o respeito discreto às diferenças, sem depreciá-las ou exaltá-las.
Definíamos fronteiras entre vidas pública e privada: Oswaldo Cruz, eminente cientista, era mulherengo, Santos Dumont misógino, Mário de Andrade homossexual, Getúlio Vargas recebia Virgínia Lane às terças-feiras à tarde, sem agenda. Protegidos pela discrição, de temas assim só se falava à boca pequena. Qualquer par que vivesse junto era casado; o reconhecimento legal, o rótulo, algo socialmente irrelevante.
Quando nos fizeram quebrar o espelho, perdemos o norte e, com ele, a autoestima e a identidade, porque rumamos sempre para o que, no fundo, rejeitamos: o formalismo, o individualismo, o racismo, a xenofobia, o aguçamento dos conflitos culturais, a repulsa ao diferente e a exibição da intimidade.
O país que se inaugura daqui a dois dias não é mais a minha pátria: é um frankenstein mal costurado, de face estrangeira.
Como chegamos a isso?
Talvez ao aceitarmos a pecha de hipócritas; jogaram-nos no rosto a desigualdade que se agravou com o tempo, porque a riqueza, distribuída sem controle, beneficiou alguns à custa dos demais; deram a ela expressão étnica. No entanto, se nenhum povo é como se imagina, tínhamos passado que nos validava: Machado, Cruz e Souza, Rebouças, venerados sábios e heróis negros, quando não os havia em outra parte; o exército de Cândido Rondon, que não exterminou índios, mas os protegeu; a aspiração constante de igualdade na produção intelectual.
Reduziram nossa História a casa grande-e-senzala, coisa típica dos ciclos da cana-de-açúcar, do café no Sudeste e de algumas culturas regionais, como o algodão. O modelo não se aplica às cidades das Minas Gerais, onde as relações inter-raciais eram mais íntimas e estáveis, ou às periferias urbanas que se formavam: a quase toda Amazônia, ao sertão do ciclo do gado, ao pampa, à Bahia e à maior parte do Nordeste. Com essa distorção suprimiram o índio – não o que preserva a cultura originária, mas o que, em todo o território, está em nós, no que comemos, no que pensamos e, sobretudo, no que sentimos.
Talvez, também, nosso fracasso decorra de termos importado, com alguns dos muitos europeus migrantes que recebemos francamente, arraigadas doutrinas exóticas – fascismo, nazismo, franquismo, salazarismo – que viriam consagrar o autoritarismo das velhas elites e contagiar segmentos importantes dentre os formadores de opinião, principalmente em São Paulo e estados do Sul.
Ou fomos colhidos no processo de substituição do clero aberto à realidade social por hierarquia mais rígida, durante o longo pontificado de João Paulo II; isso abriu espaço à vertiginosa invasão de igrejas corporativas de matriz norte-americana, vorazes por dinheiro, armadas de psicologia comportamentista, declaradamente cristãs mas que se fundamentam no Antigo Testamento para pregar a intolerância e o ódio ao gentio.
São, pois, vários os possíveis motivos de meu país ter-me deixado, virtualmente,apátrida, magoado. Mas tenho certeza de que, por isso ou por aquilo, não soubemos defender nossa preciosa e exclusiva herança.
Tijolaço
GOLPE ELIMINOU QUATRO MILHÕES DE EMPREGOS FORMAIS
A conspiração política contra a presidente Dilma Rousseff, engendrada por PSDB e MDB e que desembocou na eleição de Jair Bolsonaro, eliminou quatro milhões de empregos formais, segundo aponta levantamento do IBGE; era Temer, que chega ao fim de forma melancólica, termina marcada por um nível jamais alcançado de precarização do mercado de trabalho
29 DE DEZEMBRO DE 2018
247 – A destruição do mercado de trabalho no Brasil, decorrente da aliança entre PSDB e MDB para impor a política do 'quanto pior, melhor' e derrubar a presidente Dilma Rousseff, trouxe números dramáticos para o mercado de trabalho: nada menos que 4 milhões de empregos formais eliminados.
"O mercado de trabalho chega ao fim de 2018 com um aparente paradoxo: ao mesmo tempo em que o número de desempregados ainda é bastante alto (12,2 milhões), a população ocupada atingiu o maior nível da série histórica (93,1 milhões). Os números parecem incoerentes, mas têm uma origem comum: as marcas de uma recessão econômica que custa a ser superada por completo", informa reportagem de Flávia Lima e Lucas Vetorazzo, na Folha de S. Paulo.
"A mesma crise que fechou perto de 4 milhões de vagas com carteira de trabalho nos últimos quatro anos e fez a taxa de desemprego explodir trouxe um contingente enorme de pessoas para o mercado de trabalho que antes não precisava trabalhar", apontam os jornalistas.
No trimestre encerrado em novembro, o desemprego atingiu taxa de 11,6%, ou 12,2 milhões de pessoas desocupadas.
Brasil 247
ESQUERDA E CENTRO-ESQUERDA NÃO VÃO À POSSE; SERÁ UMA FESTA DA DIREITA E EXTREMA-DIREITA
Os partidos de esquerda não irão à posse de Jair Bolsonaro; os parlamentares do PT, PSOL e PC do B estarão ausentes da cerimônia de 1º de janeiro às 15h no Congresso Nacional; os partidos de centro-esquerda, PDT e PSB, liberaram suas bancadas para que cada parlamentar decidia-se; o presidente do PSB, Carlos Siqueira, já anunciou que não irá, mesma posição do líder do PDT na Câmara dos Deputados, André Figueiredo; com a confirmação da presença de Benjamin Netanyahu, Viktor Orbán, Sebastián Piñera (Chile), Iván Duque (Colômbia) e Mario Abdo (Paraguai), a posse de Bolsonaro adquire feição de um encontro da direita e extrema-direita global
29 DE DEZEMBRO DE 2018
247 - Os partidos de esquerda não irão à posse de Jair Bolsonaro. Os parlamentares do PT, PSOL e PC do B estarão ausentes da cerimônia de 1º de janeiro às 15h no Congresso Nacional. Os partidos de centro-esquerda, PDT e PSB, liberaram suas bancadas para que cada parlamentar decidia-se. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, já anunciou que não irá, mesma posição do líder do PDT na Câmara dos Deputados, André Figueiredo.
Com a confirmação da presença do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e mais o premiê ultranacionalista da Hungria Viktor Orbán e os presidente de direita sul-americanos, Sebastián Piñera (Chile), Iván Duque (Colômbia) e Mario Abdo (Paraguai), a posse de Bolsonaro adquire feição de um encontro da direita e extrema-direita global
A decisão do PT de boicotar a posse de Bolsonaro foi antecipada pelo Brasil 247 em 20 de dezembro (aqui). Nesta sexta (28) o partido oficializou sua posição com uma nota assinada pelos líderes do partido na Câmara e Senado, deputado Paulo Pimenta e senador Lindbergh Farias, e pela presidente da sigla, Gleisi Hoffmann (aqui). Na nota, o partido informa: !"Não compactuamos com discursos e ações que estimulam o ódio, a intolerância e a discriminação. E não aceitamos que tais práticas sejam naturalizadas como instrumento da disputa política. Por tudo isso, as bancadas do PT não estarão presentes à cerimônia de posse do novo presidente no Congresso Nacional".
Da mesma maneira, o PSOL oficializou sua posição nesta sexta, com uma nota de sua Executiva Nacional na qual o partido diz que seus parlamentares estarão ausentes da posse e afirma: "Estaremos nas ruas, desde o primeiro dia de governo, defendendo a democracia, os direitos do povo brasileiro e a soberania nacional contra aqueles que querem fazer o Brasil retroceder a 1964. Seremos resistência, desde o primeiro dia do governo Bolsonaro, nas ruas e no parlamento, em defesa do povo brasileiro" (aqui).
O PC do B não divulgou nota sobre o assunto. Segundo a presidente da legenda, deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), "Não tomamos nenhuma resolução, mas é natural que não estejamos presentes. Não temos nenhuma identificação com o presidente eleito. Não fomos convidados e não iríamos se o convite tivesse chegado" (aqui). A deputada comunista Jandira Feghali confirmou que a bancada não participará da posse, mas evitou usar a palavra "boicote". "Não é um boicote, até porque respeitamos o resultado das urnas. É a decisão política de não ir", disse (aqui).
O presidente do PSB, Carlos Siqueira afirmou que a questão não foi fechado pelo partido e que decisão será de cada parlamentar e líder da agremiação: "Quem desejar participar está livre para fazê-lo. Eu, pessoalmente, não estarei lá". O líder do PDT na Câmara dos Deputados, André Figueiredo (CE), disse que não vai e que "não existe nenhuma deliberação para algum deputado da bancada ir".
Com a confirmação da presença do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e mais o premiê ultranacionalista da Hungria Viktor Orbán e os presidente de direita sul-americanos, Sebastián Piñera (Chile), Iván Duque (Colômbia) e Mario Abdo (Paraguai), a posse de Bolsonaro adquire feição de um encontro da direita e extrema-direita global.
Brasil 247
sexta-feira, 28 de dezembro de 2018
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
DEPUTADOS JÁ ARTICULAM CPI DO CASO QUEIROZ
O deputado estadual Rogério Correia (PT-MG) afirma que o caso envolvendo o ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, é grave e merece uma CPI; segundo Correa, a suspeita é a de que o motorista recebia propina de empresas de ônibus e fazia lavagem de dinheiro de milícias, daquelas que pode estar envolvidas no assassinato da vereadora Marielle Franco; Correa ainda frisa: "tudo para financiar a família Bolsonaro" e pede, em seu Twitter: "é caso para CPI"
26 DE DEZEMBRO DE 2018
247 - O deputado estadual Rogério Correia (PT-MG) afirma que o caso envolvendo o ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, é grave e merece uma CPI. Segundo Correa, a suspeita é a de que o motorista recebia propina de empresas de ônibus e fazia lavagem de dinheiro de milícias, daquelas que pode estar envolvidas no assassinato da vereadora Marielle Franco. Correa ainda frisa: "tudo para financiar a família Bolsonaro" e pede, em seu Twitter: "é caso para CPI".
O deputado Rogério Correia repercutiu em seu Twitter o artigo do jornalista Elio Gaspari, do jornal Folha de S. Paulo, em que a gravidade em torno do silêncio do ex-assessor só vai acumulando uma imensa tensão suicida para o bolsonarismo em seus momentos iniciais de governo.
Veja o Twitter do deputado:
O caso é grave.
A suspeita é que o motorista recebia propina de empresas de ônibus e fazia lavagem de dinheiro de milícias, daquelas que inclusive mataram Marielle . Tudo para financiar a família Bolsonaro.
É CASO PARA CPI !
Brasil 247
Sigmaringa Seixas e a luta pela democracia. Por Paulo Moreira Leite
Publicado por Diario do Centro do Mundo
- 26 de dezembro de 2018
Sigmaringa Seixas foi advogado de Lula. (Foto: Arquivo/Agência Brasil)
Publicado originalmente no Brasil247
POR PAULO MOREIRA LEITE
Para avaliar a perda que a morte do advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas (1944-2018) representa para um país hoje mergulhado num momento de ameaças à democracia, basta reconhecer o papel que ele desempenhou nos anos de treva absoluta da ditadura militar.
Naquele país em que a tortura e execução de presos políticos eram métodos banais de investigação, estimulados e protegidos pelos que controlavam o funcionamento do Estado, Sigmaringa foi um daqueles cidadãos insubstituíveis para enfrentar as angústias do momento e ajudar a construir uma saída necessária numa situação de sufoco.
Integrante do grupo de advogados e militantes de direitos humanos que produziu o Brasil Nunca Mais, arquivo inédito sobre as atrocidades cometidas pelo porão militar contra homens e mulheres de seu próprio país, assumiu uma função indispensável no projeto. Mobilizou seu escritório em Brasília para localizar e copiar a íntegra de processos armazenados no Supremo Tribunal Militar, matéria-prima básica para o conhecimento da natureza do regime que governou o país entre 1964 e 1985, até então protegida por um ambiente de censura, violência e medo.
“No início, eles pensavam que seria possível tirar xerox de algumas dezenas de processos”, escrevi numa reportagem publicada no livro “A Mulher que era o general da casa.””
“Descobriram que era possível colocar as mãos numa coleção de 707, que somavam mais de um milhão de páginas”. Localizadas, copiadas e estudadas num trabalho de cinco anos, num país onde o porão militar explodia bancas de jornal, enviava cartas-bomba e ensaiava atentados monstruosos como no Rio Centro, o Brasil Nunca Mais foi um exemplo reconhecido em todo mundo.
Se o país que jamais levaria torturadores ao banco dos réus, como ocorreu em diversos países vizinhos, o Brasil Nunca Mais representou uma vitória cultural, capaz de impedir que a tortura saisse da memória dos brasileiros ao longo das décadas seguintes.
Em 2016, quando Jair Bolsonaro fez uma referência elogiosa ao comandante do DOI-CODI Carlos Alberto Brilhante Ustra durante o impeachment de Dilma, o país inteiro sabia a quem ele estava se referindo.
Militante da Política Operária, Polop, mais influente organização de extrema-esquerda nos anos finais do governo João Goulart, a resistência à ditadura fez da luta pela democracia a principal razão de atividade política de Luiz Carlos Sigmaringa Seixas. Deputado federal por duas décadas, filiou–se ao PMDB de Ulysses Guimarães e pouco depois preeencheu a ficha de filiação do PSDB — na época, o partido reinvindicava-se como versão verde-amarela da social-democrata.
A atuação na Constituinte aproximou Sigmaringa do Partido dos Trabalhadores, que ali tornou-se um quadro de primeira linha do círculo de Lula. Serviu de pombo correio em diversas missões delicadas, junto a interlocutores mais improváveis, numa atuação que ajudou a quebrar o isolamento político dos primeiros anos.
Antes, durante e depois da vitória em 2002 ele foi um dos principais responsáveis pela construção de um ambiente de relativa pacificação entre o governo Lula e o Judiciário, que seria rompido apenas em 2012, quando teve início o julgamento da AP 470, mais conhecida como Mensalão.
Presente à maioria das conversas reservadas entre Lula e Gilmar Mendes, principal liderança política do Supremo antes da Lava Jato, Sigmaringa estava convencido de que os dois possuíam visões convergentes sobre temas essenciais da política brasileira, num grau suficiente para assegurar um convívio adequado, dentro padrões que respeitam a autonomia entre os poderes.
Voltado para a construção de alianças que agradavam Lula mas incomodavam adversários de envergadura e mesmo uma parcela do PT, em várias conversas recentes que tivemos Sigmaringa deixou claro que atribuía a ruptura entre Lula e Gilmar em 2012, momento importante na abertura da crise política que está na origem do inferno de nossos dias, ao ambiente de intriga e jogo sujo entre a cúpula do Estado e estrelas do jornalismo midiático.
“Gilmar partiu para o ataque porque foi convencido de que o PT tinha um plano para sua destruição e isso mudou tudo”, me disse mais de uma vez. “O país perdeu”.
Homem de bastidor, por duas vezes Lula sondou Sigmaringa para ocupar uma vaga no Supremo. Ele preferiu permanecer onde se encontrava.
Diário do Centro do Mundo - DCM
RÚSSIA ANUNCIA MAIS APOIO MILITAR À VENEZUELA
O embaixador da Rússia na Venezuela, Vladimir Zaemsky, não descartou novos voos de aviões russos ao país sul-americano. Em dezembro, dois bombardeiros estratégicos Tu-160, um avião de transporte militar An-124 e uma aeronave Il-62 da Força Aeroespacial da Rússia pousaram no aeroporto internacional nos arredores de Caracas. O presidente Nicolás Maduro toma posse em seu segundo mandato no dia 9 de janeiro, mas é alvo de uma retórica hostil por parte de Brasil, Colômbia e Estados Unidos, que querem derrubá-lo
26 DE DEZEMBRO DE 2018
247, com Sputinik – O embaixador da Rússia na Venezuela, Vladimir Zaemsky, não descartou novos voos de aviões russos ao país sul-americano.
Em dezembro, dois bombardeiros estratégicos Tu-160, um avião de transporte militar An-124 e uma aeronave Il-62 da Força Aeroespacial da Rússia pousaram no aeroporto internacional nos arredores de Caracas.
Foram realizados voos conjuntos com a Força Aérea venezuelana e depois voltaram à base permanente na Rússia.
"Durante a cooperação russo-venezuelana nesta direção, sem dúvida, não excluímos tais eventos no futuro de acordo com todas as normas internacionais como antes", declarou à Sputnik Zaemsky.
Segundo ele, o "alvoroço" por causa dos aviões russos Tu-160, foi causado, especialmente, entre os opositores ao governo venezuelano tanto na região como nos EUA.
O presidente Nicolás Maduro toma posse em seu segundo mandato no dia 9 de janeiro, mas é alvo de uma retórica hostil por parte de Brasil, Colômbia e Estados Unidos, que querem derrubá-lo,
A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo.
Brasil 247
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
Base de proteção da Funai a índios isolados no Vale do Javari, no Amazonas, é atacada a tiros por invasores
Publicado por Diario do Centro do Mundo
- 24 de dezembro de 2018
Publicado por Amazônia Real
Por Elaíze Farias
A Base Ituí-Itacoaí, uma das três bases de proteção de índios isolados da Fundação Nacional do Índio (Funai) na Terra Indígena Vale do Javari, localizada no município de Atalaia do Norte, na fronteira do Amazonas com o Peru, foi atacada a tiros por invasores na madrugada deste sábado (22), por volta de 3h. A área onde está localizada a base é onde vivem os indígenas isolados Korubo. A suspeita da Polícia Militar é de que os invasores sejam pescadores e caçadores ilegais do Alto Solimões. O território é farto de espécies como pirarucu e diferentes tipos de quelônios, sobretudo tracajá. Ituí e Itacoaí são afluentes do rio Javari.
Em nota oficial, o 8º Batalhão do Policial Militar de Tabatinga (Alto Solimões), disse que a guarnição policial que está dando apoio à Funai na fiscalização que acontece neste mês na região foi “acionada para averiguar presença de invasores na área indígena” e que “os invasores, ao perceberem a movimentação no flutuante da Funai, iniciaram um intenso tiroteio contra funcionários e guarnição da polícia militar que se preparavam para abordagem”. Os invasores, segundo a PM, estavam na outra margem do rio e atiraram contra a base, sendo revidados pelos policiais. O 8º BPM é o responsável pela coordenação das ações policiais na TI Vale do Javari.
Conforme a nota do 8º BPM, “foi feito acompanhamento da embarcação invasora e ocorreu novamente um intenso confronto com a Polícia Militar, sendo avistada uma segunda embarcação de infratores”. Segundo o Comando, “as armas utilizadas pelos infratores seriam espingarda, revólveres e pistolas e que estes estariam com uma grande quantidade de munição, pois continuavam de forma intensa a investida contra a guarnição policial militar”. Uma embarcação da Funai foi atingida por projéteis de arma de fogo. Os servidores da Funai, os policiais e os indígenas não ficaram feridos, segundo o comandante.
A Polícia Militar de Tabatinga disse também que devido ao horário e à baixa visibilidade causada pela chuva, o acompanhamento dos invasores foi feito através do barulho do motor das embarcações, mas eles fugiram pela mata antes de uma nova abordagem policial.
Em entrevista à Amazônia Real neste domingo (23), o comandante do 8º BBM, Major Herlon Gomes, disse que desde o início deste mês uma guarnição formada por quatro policiais militares está na região dando apoio aos servidores da Funai em operações de fiscalização.
Ele disse que ficou surpreso com o ataque dos invasores à base da Funai. Para ele, a atitude dos invasores foi incomum.
“Já tivemos outros casos [de confronto com armas], mas durante as fiscalizações nos encontros dos rios. Isso já aconteceu no rio Jandiatuba, em São Paulo de Olivença [município vizinho de Atalaia do Norte], e em operações em Tabatinga. Mas com essa gravidade, de um ataque a uma balsa da base, essa foi a primeira vez”, disse o comandante à Amazônia Real. O rio Jandiatuba também é área da Terra Indígena Vale do Javari, onde vivem grupos isolados, entre eles os chamados Flecheiros.
Comandante diz que policiais precisam permanecer
Para o Major Herlon Gomes, os invasores foram “ousados” e pretendiam atingir os próprios servidores da Funai e os indígenas que trabalham na base, entre eles os Matís. A base também tem a presença de alguns índios Korubo do grupo contatado em 1996. No local também fica a embarcação de uma equipe de profissionais de saúde que atendem os indígenas do Vale do Javari.
“Eles só não conseguiram porque havia policiais no local. Acho que eles não imaginavam que havia uma guarnição na base fazendo a segurança dos funcionários da Funai. Ou pode ter sido outra situação, de eles estarem incomodados com a presença de policiais”, disse o major.
Segundo o comandante, a saída dos policiais da base está prevista para esta semana, mas ele pretende solicitar da Funai que haja uma imediata troca de guarnição para que o local não fique desprotegido.
“Não estava prevista nenhuma substituição agora. Apenas em janeiro. Nesta segunda-feira (24) queremos fazer uma reunião com o chefe da missão [da Funai]. A Funai disse que não podia substituir por contenção de gasto, mas a gente vai alegar que é necessário continuar policiais. Eles têm que reorganizar a questão financeira, porque a base não pode ficar sem policiais”, afirmou o major.
A Amazônia Real procurou a Coordenação Regional da Funai do Vale do Javari, mas não obteve informações sobre o assunto. Também procurou a presidência da Funai através da assessoria de comunicação e também não recebeu retorno. Assim que o órgão se pronunciar a respeito as informações serão atualizadas nesta matéria.
Área dos índios Korubo
A Base de Proteção Ituí-Itacoaí é coordenada pela Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari. A região, segundo Paulo Marubo, presidente da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), é área dos índios Korubo, tanto o grupo contatado em 1996 quanto os que permanecem isolados (a maioria).
Paulo Marubo mostra-se preocupado com o aumento de invasores na região do Vale do Javari. Ele afirma que desde que as notícias sobre a política indigenista do presidente eleito Jair Bolsonaro começaram a circular, os invasores se sentiram à vontade para entrar na terra indígena.
“O que a gente tem ouvido aqui em Atalaia do Norte das conversas em comércios, nas praças, nas ruas, é que agora a Funai vai acabar. É assim que eles dizem. Eles afirmam que o novo presidente deu aval para invasores, que a Funai vai ser extinta. Isso que eles ficam argumentando. Todo esse discurso do presidente fragiliza os indígenas e a situação dos isolados fica mais preocupante”, afirmou Paulo Marubo.
Ele contou que, no início deste mês, em viagem ao rio Branco, afluente do rio Itacoaí, viu um barco de invasores dentro de um lago, mas evitou abordá-los por receio de ataque. “Eles estão sempre armados. Não quis me arriscar”, disse.
Para a liderança indígena, o ataque à base Ituí-Itacoaí indica que a ação dos invasores pode ser repetida em outras bases da Funai e em outras áreas indígenas e que, devido à dimensão da Terra Indígena Vale do Javari, vai ser difícil ter informações sobre essas ações.
“Esses caras [invasores] botaram para matar. Estão mais armados. Talvez vai acontecer de novo e ninguém vai ficar sabendo. Ou então vão dizer que não aconteceu”, afirmou Marubo.
A Terra Indígena Vale do Javari é a segunda maior do país, atrás apenas da Terra Indígena Yanomami. Ela tem uma área de 8.544 mil hectares e é uma das mais preservadas do país. O território é atravessado por vários rios, entre eles Itacoaí, Ituí, Curuçá, Quixito, afluentes do rio Javari, além dos rios Jutaí e Jandiatuba.
É também onde se concentra as maiores referências de grupos de índios isolados, entre eles os Korubo e os Flecheiros. Os povos contatados são Kanamari, Mayoruna, Marubo e Kulina, e um pequeno grupo de recente contato, Tsohom Dyapá. A população estimada é de 5 mil indígenas falantes dos troncos linguísticos Pano e Katukina, um número que não inclui os índios isolados.
O território, conforme relatos de lideranças indígenas, é constantemente invadido por pescadores e caçadores ilegais. Também é alvo de de garimpo ilegal, como acontece no rio Jandiatuba. Em 2017, houve relatos de que garimpeiros teriam matado um grupo de isolados Flecheiros. O ataque não foi confirmado pela Funai e o Ministério Público Federal em Tabatinga arquivou o inquérito da investigação do caso, apesar de até hoje indígenas afirmarem que as mortes ocorreram.
Nos últimos anos, os constantes cortes do governo federal no orçamento da Funai têm tornado ainda mais vulnerável a sobrevivência dos índios isolados. Em 2016, o governo de Michel Temer bloqueou R$ 1,2 milhão da Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados, ameaçando inclusive o fechamento de algumas Frentes de Proteção Etnoambiental.
Com a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência, as ameaças aos seus territórios estão deixando os indígenas apreensivos. O presidente eleito declarou várias vezes que não pretende fazer novas demarcações e tem defendido uma política integracionista dos indígenas, incluindo atividades econômicas que visam o lucro dentro de suas terras.
Justiça Federal determinou que Funai reestruture Frentes
Na última sexta-feira (21), o Ministério Público Federal no Amazonas informou que a Justiça Federal determinou que a Funai reestruture as bases de proteção dos índios isolados no Amazonas e contrate mais funcionários para as Frentes de Proteção Etnoambiental no Estado. A decisão pede que a Funai apresente um cronograma de atuação por parte da Funai em um prazo de 90 dias.
No Amazonas, conforme diz o MPF, existem seis Frentes: Cuminapanema, Madeira-Purus, Madeirinha-Juruena, Vale do Javari, Waimiri-Atroari e Yanomami Ye’Kuana. “As unidades possuem atualmente 42 servidores, quando, conforme a própria Funai, seriam necessários, no mínimo, 96 servidores, além de funcionários terceirizados”, diz nota do MPF.
A decisão judicial também proibiu o contingenciamento, por parte da União, de rubricas orçamentárias da Funai em geral e da Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, destinadas ao mínimo necessário à atuação no âmbito da política de proteção a índios isolados e de recente contato, considerando o risco concreto que a omissão nessa área representa.
“O risco de desaparecimento da história, tradição e ancestralidade dos povos indígenas isolados compromete a identidade e a memória do Brasil, fixando no seu povo a ideia subdesenvolvida de que os povos indígenas não merecem dignidade e respeito”, afirma um trecho da decisão.
A foto que abre esta reportagem mostra a base flutuante de fiscalização da Funai da confluência dos rios Ituí-Itacoaí, TI Vale do Javari, que foi atacada a tiros.
Diário do Centro do Mundo - DCM
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