Há quatro anos – ou cinco, se contarmos aquelas malsinadas “jornadas de junho” e seus “blackblocs” que inauguraram o endeusamento da intolerância, pais bastardos que foram dos “bolsominions de hoje – o Brasil vive mergulhado num caldo de ódio político.
Não raro por merecimento, é verdade, os políticos foram demonizados, os partidos foram demonizados e, a partir da Lava Jato, o PT e Lula foram demonizados.
Alimentadas pela imprensa, as instituições da república – Legislativo e Judiciário – passaram a se mover como máquinas de perseguição e de proibição daqueles que não lhes agradavam ou de quem as “ondas” sucessivas da mídia determinava que devessem ser amaldiçoados.
Ataques de fúria que, reconheça-se, devoraram seus principais atores e autores, como Aécio Neves e Eduardo Cunha, transtornados pela ambição e esquecidos de suas próprias mazelas.
Este caldo de perseguição, como tudo que é posto a ferver por muito tempo, criou sua nata grossa, que é exatamente o que vemos no ajuntamento pró-Bolsonaro, que conseguiu atrair um quinto ou até um quarto do eleitorado em torno do seu núcleo brutal, recalcado e perifascista.
Este processo fez murchar a direita “de sempre”, à qual sobrou apenas seu mais sem-brilho representante, Geraldo Alckmin. Até tentaram novos personagens, como Luciano Huck e João Dória, que caminha para o naufrágio na ambição que lhe restou, a de governar São Paulo.
O que lhes resta, de toda a forma, é essencialmente da direita e somado ao bolsonarismo, dá o terço de eleitores definitivamente antilulista, houvesse ou não “Lava Jato”, Sérgio Moro e companhia.
O lulismo – e não o petismo – tem, do outro lado, um terço, ou pouco mais, do eleitorado e, quanto a este, já parece haver poucas dúvidas de que a transferência de votos para Fernando Haddad se dará em velocidade e volume para assegurar o segundo turno.
O terço restante é que está em jogo e não pelos candidatos que poderiam evitar o embate Bolsonaro x Haddad. Nem Ciro, nem Marina Silva, a três semanas e meia do dia eleitoral têm, senão por manipulações nas quais sejam usados, de onde tirar o suficiente para dobrar suas intenções de voto e alcançar os 20% que, creem eles, os levaria ao segundo turno.
Ao contrário do que ocorre com Haddad, que recebeu a chave, do baú do lulismo não os tirarão. No desespero, seu apelo a indecisos e a eleitores de outro acaba sendo igual ao de Alckmin: me dê o voto para que o PT não volte.
Haddad, por isso, não deve entrar em polêmica com eles e muito menos radicalizar o seu discurso, por mais que os traumas recentes de nossa história nos levem, emocionalmente a desejar um discurso duro.
Só Temer, o “grande esquecido” desta eleição, deve ser nominalmente enfrentado, até porque – já disse antes – é um traço comum a todos os demais candidatos relevantes, à exceção de Ciro.
São as eleições mais radicalizadas desde as de 1989, ou talvez mais, dada a interferência do Judiciário com a interdição de Lula.
Paradoxalmente, porém, quem mais radicalizar mais perto estará da derrota.
O povo brasileiro sabe que a radicalização só serviu à ruína de seus sonhos e à degradação de sua vida.
Tijolaço
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